JULIA E SEU 'CAPÔ DE FUSCA'.

JULIA E SEU 'CAPÔ DE FUSCA'.

Ela havia aberto seu tão sonhado “salão de cabeleireiro”.

O salão não era muito grande, mas como ela trabalharia sozinha isso não foi um empecilho.

Aproveitou mesmo a estrutura do comércio que fora antes dela assumir o salão. Limpeza, pintura, um retoque aqui, outro ali e começa a trabalhar.

Sua intenção era atender apenas mulheres, pois achava que se sentiria mais a vontade, mas como era início, atendia também alguns homens.

E não é que o negócio foi pra frente?

Não exatamente conforme os planos de Julia, pois, quase todos seus clientes eram homens.

E a propaganda ‘boca a boca’ foi o diferencial.

Fez tanto sucesso o salão de Julia, que aos sábados, a fila era grande, de homens que queriam cortar o cabelo com ela.

“Rapaz, a moça do capô de fusca é boa mesmo!”

Todos queriam ir ao salão da “moça do capô de fusca”.

Só que Julia não sabia do porque de sua fama... Imaginava que seu trabalho era reconhecido por ser bom.

Notava sim, os clientes dando aquelas risadinhas marotas, um comentário baixinho... mas Julia muito atarefada e, principalmente empolgada com o sucesso, nem notava.

Uma coisa tem que ser dita; Julia nunca ‘deu bola’ pra nenhum de seus clientes. Um ano se passara. Julia resolveu ampliar o negócio’!

O salão já estava pequeno para tantos clientes e, “quem sabe se eu arranjar um lugar maior e contratar outra cabeleireira?” Esse era seu plano. E assim fez.

Aproveitou as festas de fim de ano e alugou outro salão, um pouco maior, mas a poucos metros do anterior... “pra não perder a clientela”.

“Dessa vez vou decorar do meu jeito”, falava.

Móveis novos, cadeiras modernas, utensílios novos, enfim; “o salão ficou uma gracinha”, diziam pra ela. E ficou mesmo.

A fachada, agora com um toldo grande, e com acionamento eletrônico, era o xodó de Julia. Além de bonito, iria permitir que em dias de chuva os clientes fumantes se abrigassem na calçada para fumar, até uns bancos Julia colocava lá fora.

Tudo bem planejado.

E começa o ano.

Janeiro se foi... “Fraco!”

“Ah, esse Brasil! Aqui o ano só começa depois do carnaval,” Dizia Julia. Todos dizem isso, como se no início do ano ninguém comesse, ninguém bebesse, ninguém usasse papel higiênico...

Enfim, o salão de Julia começou mal o ano; poucos clientes e, apesar da preocupação, Julia falava: “Depois do carnaval as coisas melhoram.”

Hoje, onde Julia tanto caprichara em seu novo salão, tem uma faixa com os seguintes dizeres:

“ENTREGAMOS PIZZA EM DELIVERI NA SUA CAZA.”

Foram devolvidos os três cheques que Julia dera em pagamento ao seu “lindo novo toldo” que substituíra o velho, na verdade, o toldo antigo era um capô de fusca preso na parede do imóvel que, antes de Julia assumir, fora uma lojinha de autopeças.

Zé Roberto

Zé Roberto
Enviado por Zé Roberto em 01/03/2018
Reeditado em 25/07/2022
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