Histórias da Minha Mãe

Nota: Adaptação leve do texto que me foi gentilmente enviado pela Ivair Geralda Caldeira Barros, minha prima de Nova Era (MG). Vejam que trata-se na verdade de uma interessante história — a primeira e totalmente verídica que publico — envolvendo a mãe e o pai da Ivair e também a minha mãe e o meu pai.

Meu nome é Ivair e minha mãe se chamava Amasiles.

Ela contava muitas histórias da sua época de juventude e dos seus primeiros anos de casamento.

Certa vez, veio morar com ela uma sobrinha do meu pai. Afonsina era o nome dela.

Afonsina era noiva de José e minha mãe, mulher muito rígida, não permitia liberdades, principalmente entre casais de namorados.

Nesta época minha mãe estava grávida de sua nona filha, ou seja, eu.

Aconteceu que Afonsina queria ir a uma festa de uns amigos da família. José, seu noivo, convenceu a minha mãe (a muito custo) que ele levaria Afonsina à festa e que tomaria conta dela. Minha mãe fez José prometer quase de joelhos que não deixaria Afonsina sozinha nem mesmo por um segundo. Ele quase precisou jurar que a levaria de volta pra casa sã e salva o mais tardar às 10 da noite.

Feita a promessa, lá se foram os dois. Afonsina estava bem animada, pois era muito difícil a tia deixá-la sair, ainda mais sozinha com o noivo. Por isto ela dançou muito na festa, se divertiu como nunca e até se embebedou.

Chegando a hora de ir embora, José chamou Afonsina. Ela não queria ir embora e José fez de tudo para convencê-la, mas ela começou a fazer pirraça igual a uma criança birrenta. Só então José se deu conta que Afonsina estava tão bêbada que mal conseguia ficar de pé.

José questionou o dono da festa sobre o que ele tinha dado pra ela beber. O homem riu e disse que havia misturado cachaça com refrigerante, mas que dissera para ela beber só um pouquinho. Daí ela não parou mais.

José ficou muito nervoso com a atitude tanto do homem quanto da sua noiva que aceitou a bebida, pois ele tinha muito medo da minha mãe e não queria quebrar a promessa feita. Pegou sua noiva à força e saiu com ela quase arrastando-a pela estrada.

Afonsina estava tão bêbada que tropeçava a todo instante. Com muito custo chegaram à casa. Minha mãe estava nervosa e não disfarçava o seu descontentamento, pois já passara muito da hora combinada para os noivos voltarem. Meu pai, sempre muito calmo, tentava tranquilizá-la, mas em vão.

José tentou explicar o motivo do atrasado, porém minha mãe já não o ouvia, já tendo percebido o estado de completa embriaguez em que Afonsina se encontrava. Não pensou duas vezes: pegou Afonsina pela cintura e saiu puxando-a pra dentro de casa. Afonsina gritava:

— Eu não vou pro quarto! Eu quero é dançar!

Foi então que complicou mais a situação, com a minha mãe me carregando em seu ventre e segurando Afonsina pela cintura, tentando levá-la pra cama. Meu pai sem saber o que fazer, pois não queria ir contra as ordens da sua esposa. Preocupado com a sua gravidez e tentando livrar o peso dela, meu pai resolveu ajudá-la a levar Afonsina para o quarto e José, pensando que minha mãe iria bater na sua noiva, foi ajudar o meu pai. Mas jamais deveria ter se intrometido na história!

Com uma girada de corpo, com a mão direita segurando Afonsina, com a outra mão minha mãe empurrou José em cima da mesa, que bateu a cabeça na madeira dura e caiu desmaiado.

Meu pai gritou, apavorado:

— O que foi isso, Masil! (era assim que ele a chamava), você quer matar o homem?

— Que matar que nada, ele não tinha que vir atrás de mim!

— Mas ele só queria ajudar.

— E sai daqui também, senão agora é você quem vai levar!

— Calma, Masil, calma, você está grávida e pode prejudicar o bebê!

Mais tarde, com os ânimos já mais controlados, Afonsina no quarto, foi a hora de socorrer José. Minha mãe foi até a cozinha, encheu uma vasilha com água fria e derramou na cabeça dele, que acordou assustado e começou a se explicar:

— Desculpa, tia, eu não queria fazer nada de mal pra Afonsina, mas não vi que o dono da festa estava servindo guaraná misturado com pinga para as moças que estavam no salão. Assim que percebi que Afonsina estava meio “alta”, dei um jeito de tirá-la de lá. Mas e agora, como ela está?

— Aquela danada já dormiu! Depois deixa estar que vou ter uma boa conversa com esse senhor lá da festa!

Mais alguns dias e olha eu aqui neste mundo!

Nasci pesando 1.100 gramas.

Era tão pequenina! tão delicada! tão frágil! que meu pai tinha medo, muito medo de que eu nem fosse sobreviver.

Nota do editor: Tenho cá minhas dúvidas com relação à autenticidade da versão dada pelo José, incriminando o dono da festa. Creio que o casal ficou de comum acordo e bem à vontade dançando e bebendo, o noivo fazendo mais isto do que aquilo, já que de tanto beber a vida inteira, morreu vítima da cirrose ainda bastante jovem, aos 45 anos.