Minas  tem mineiro, arroz com pequi, e feijão tropeiro.
 Só Minas tem o vaqueiro  Cláudio Pururuca.
Um  g r a n d e  T r a p a c e i r o.
 


 
Corrido no mundo, Pururuca passou apuros, quase foi cozido no caldeirão do Estado  mineiro. Ele sabia desde menino, que  Minas tem Ouro Fino, e Malacacheta. Mas foi em Diamantina que criou seu primeiro  negócio. Bem  na parte alta, próxima ao Passadiço onde outrora fora um convento de freiras, ele abriu uma loja para vender bicicletas, com o intento de ganhar muito dinheiro. Lá em baixo, no fim da mesma rua, interessado em pagar menor preço, comprava de um freguês cansado, que empurrava a geringonça ladeira acima, e dava  em paga nada além de metade do valor pelo qual há pouco lhe vendera. Do mesmo modo, entre uma e outra subida, para os mais insistentes em escalar a serra, a esses; o comerciante  dava como paga  um par de Alpercata.  E assim, depois de alguns anos nesta lida, teve medo. A cidade era pequena e descobriu sua  Barbacena  por dinheiro. O povo lhe  deu o dedo. E para não desonrar Kubitschek ainda infante, Pururuca arriscou a sorte noutro Tabuleiro. Então,  veio-lhe   a ideia de fabricar cuecas para vestir olho nu. Mariana muito lhe comprava para vestir o marido, mas queria dar em pagamento beijos e alguns  queijos de minas. A Boa Esperança era mudar-se dali. E o aventureiro foi criar peixe-leiteiro em gaiolas, nas  águas do São Francisco. Já naquela idade de dezesseis anos, embalava leite de cabra com a indicação de conter ômega três. Foi a última vez  que fez a Contagem das receitas e despesas. Faliu. Seu travesseiro não tinha mais as painas das  Paineiras. Nada na algibeira. Areado, totalmente perdido, não tinha reservas em dinheiro nem comida na geladeira. Foi aí que a Jacutinga gemeu no tronco do Juremal e ele comeu Periquito para sobreviver. Caçou Perdizes,  roeu Pequi em Mato Verde e  às vezes comia Manga, que em Romaria  de Nova União o  bom coração   do povo lhe oferecia. Não tinha sequer água no Pote. Precisava inventar outro Passa Tempo, que ao mesmo tempo, lhe rendesse dinheiro. Mudou-se para Formiga, passando a fabricar formicida dissolúvel em Água Boa, mel de Arapuá ou mesmo em Águas Vermelhas. Acaiaca o pegou novamente. Albertina morreu e muitos outros filhos de Minas também morreram. Seu Comercinho chegara outra vez ao fim. O crime foi Descoberto. Governador Valadares, muito esperto, ficou neutro na questão, mas o Barão de Monte Alto queria trancafiar Claudio no Curral de Dentro. O Capitão Enéas, bem como o Coronel Fabriciano, também não lhe desejavam Bom Sucesso e fizeram um Juramento que mandariam o trapaceiro para os fornos de Carbonita ou afogá-lo-iam  em Lagoa da Prata com uma pedra de moinho ao pescoço. Coronel Murta nem se fala... Este queria fazer justiça com as próprias mãos e honrar Setubinha, a netinha morta envenenada pelo trapaceiro. O aventureiro ficou a contar Carneirinho, esperando a morte chegar, mas por sorte, tanto Frei Gaspar, quanto o Cônego Marinho, diziam preces em favor daquele que nascera fadado a se deixar queimar nas carvoeiras de Tremedal. Dona  Euzébia, por antecipação,   chorava. Pai Pedro lamentava o destino do filho e  seguia os  Passos da cria: “Passabem, meu filho...Passa Vinte pro Guarda-Mor, dá a ele um Patrocínio em dinheiro, uma boa Moeda de ouro ou de Prata, uma Pedra Azul, uma Esmeralda ou uma pepita de Ouro Fino. Assim, o Capitão Andrade terá Piedade das Gerais e ao  filho daquela terra  abrirá uma Porteirinha, para fuga do homem mais Bonito de Minas. Tu sabes que dinheiro Abre Campo e cria uma Ponte Nova para a vida’, disse isso prostrando-se junto aos  Oratórios da Capelinha de Santa Cruz de Minas, rezou uma Ladainha às Três Marias e a Santa Luzia, pedindo misericórdia ao filho cego por dinheiro. Bom Jesus do Galho, o Nazareno, nascido em Nova Belém, veio enxugar  os  prantos da criatura que suplicava. Felício Santos fica  em Extrema felicidade. Logo , encheu os Olhos-d’Água, quando viu abrir-se  o Quartel Geral  e o  sobrinho sair esgueirando-se Entre Folhas, adentrando a Mata Verde. Dali em diante, o rapaz teria Novohorizonte. Estava em Liberdade, afinal, no Coração de Jesus há sempre  Bom Repouso. Pai Pedro, Espera Feliz pela Consolação da família. Por sorte, o cangaceiro Antônio Dó teve pena e Grupiara  com o Juiz de Fora, um Bom Despacho ao processo. Agora livre, desembargado e protegido por Santo Antônio do Aventureiro, Cláudio Manuel nunca mais voltou ao seu Reduto. Sem-Peixe,  aportou a fazenda Campo Grande em Montes Claros.
— Mil Perdões, Nhô mas acaba de fazer uma Campanha contra Pururuca ou uma lista de cidades mineiras?
— Tem um pouco de verdade. Cláudio Manuel é o nome de Pururuca. Muita gente tem apelido. Tio Bonzinho dizia que lhe custava muito, honrar  o ‘nome’, ser bonzinho. Lá pra nós, chamar Japuaçu de João Congo pode dar até morte. Ele só anda com uma faca na cintura. Preparado...
— Como o senhor consegue guardar tanta história na cachola? Inventou essa de Cláudio Manuel?
— Não! Isso é resultante de uma vergonha que passei na escola. O professor me mandou dizer dez cidades de Minas. Só me lembrei de cinco.
— Aí o senhor ...
— Já disse, não inventei. Tirei nota baixa na prova oral e no outro dia, o professor trouxe a lista já contando a história. ‘Tome! Que essas cidades sejam as  Candeias que iluminam sua mente...’ Mas o Pururuca é mesmo trapaceiro.
— Já conheço os vaqueiros de seu patrão, antes de me encontrar com eles.