A DEFUNTA DOS PÉS JUNTOS

HÁBITOS CULTURAIS DO MEU PASSADO

Sou um pequeno comerciante, decanato, que ao longo de minha trajetória profissional tive que adaptar-me a uma série de mudanças culturais exigidas por essa profissão. Tendo que lidar com os órgãos criados pele poder público para proteger o consumidor, como se o comerciante fosse um infrator continuo sem nenhum direito de se defender.
Atualmente a vigilância sanitária faz exigências que muitas vezes são desprezadas pelos próprios clientes. Alguns são mais exigentes, outros nem tanto. Procuramos sempre trabalhar de acordo com a lei principalmente na questão de higiene. Mas alguns clientes não dá a menor importância a esse quesito. A pouco atendendo a uma cliente cuja familia fomos vizinhos no passado. Seu procedimento me fez voltar no tempo e lembrar de um fato ocorrido com sua mãe. Uma mulher decidida daquelas pessoas que viveram para servir. E servindo, o fez muito bem, sem olhar a quem. Gente simples prestativa que não media sacrificio para ajudar seja lá onde houvesse necessidade. E que os embaraços da vida, para ela,os nunca a atrapalhava em seus relacionamentos. Sempre otimista deixando a vida a levar vivendo bem com sua vizinhança.
Atendendo esta minha cliente, a qual ne refiro, como costumeiramente o faz, ao comprar o pão e o leite para seu café da manhã. Aproveitando as quitandas recém saídas do forno ela troxe o pão francês desembalado, tendo ele o preço diferenciado das demais quitandas ela o colocou na balança e disse;
-sou eu mesmo que vou comer então trouxe na mão esta quentinho quase me queimado. O colocou na balança. Rindo eu disse a ela-. ôh filha de mãe! Você saiu à sua mãe, e sua decisão me fez lembrar dela agora, com um fato ocorrido entre  ela e eu, a mais a mais de sessenta anos atrás, quando eu era adolescente.
Curiosa ela insistiu para eu contar,mas eu prometi que iria escrever o ocorrido e daria a ela para ler. Imaginando que ela se esquecia do fato. Mas como ela sempre lê meus escritos e vai me cobrar vou relatar o causo que se passou. Aconteceu muma época das colheitas do milho.Estava eu passando pela estrada, com um carro de boi carregado de milho em espigas, recém colhido.
Defronte a uma casa vizinha a esta senhora em questão, ouvi uma choradeira vindo lá, uma senhora de cinquenta anos que cuidava da sobrinha, parturiente, que dera luz naquela manhã. Sofreu um mau súbito e faleceu, no meio do terreiro com uma vassoura na mão, enquanto o varra.
De sua casa a vizinha também ouviu, e chegou junto mim. Embora assustado, devido minha tenra idade, com nenhuma experiência para lidar com tal situação,tomei a iniciativa de ajudar. Era costume velar o falecido sobre um banco até providenciar seu caixão e a mortalha, como o costume da época, uma vez que era tudo preparado artesanalmente. Ao colocar a defunta sobre o banco foi necessário amarrar seus pés, solicitei que providenciassem um tira de pano, mas como demorou um pouco, esta senhora arrancou o embainhado de sua roupa de baixo, ou seja, sua combinação, que por sinal estava um pouco suja de poeira vermelha e ofereceu-me pra amarrá-los. Recusei é claro, arrumaram um tira de pano velho, mas limpa, ai fizemos o procedimento. Essa senhora atualmente está com seus noventa anos, lúcida e decidida da mesma forma. uma pessoa abençoada por  Deus. Uma verdadeira heroína que merecia ser condecorada com a medalha do bem servir!!!
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 31/03/2019
Reeditado em 06/04/2019
Código do texto: T6612154
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