Transformação

Desde o nascimento do meu primeiro fio de pentelho me lembro de gostar da Thaís. Ela era alta, morena, olhos verdes e simplesmente um doce de menina. Thaís era muito querida e popular no colégio, tinha muitos pretendentes.

É claro que eu gordinho e nerd nunca teria chance alguma com ela. Mas eu sempre tentava! Eu sempre estava lá mandando as minhas indiretas insólitas. É que eu nunca tive muito jeito com as meninas. Esqueci de citar também que junto com o primeiro fio de pentelho surgiu a primeira espinha. E depois muitos outros fios de pentelho e muitas outras espinhas.

Thaís até conversava comigo nas poucas horas em que eu não falava alguma besteira. De vez em quando ela me chamava a atenção:

“Cala a boca idiota! Você só fala merda é?” – Um doce de menina.

Ela conseguia andar rebolando de uma maneira chamativa, mas que não era vulgar e eu gostava muito disso. Gostava dos seus cabelos, do seu cheiro e de tudo daquela menina. Eu acordava feliz em ir para a escola só para vê-la.

Crescemos assim como os peitos de Thaís. Dentro dela começava a despertar uma menina ainda mais suave e bem mais tolerante.

Eu comecei a freqüentar a academia e a transformar meu tecido adiposo em tecido muscular. Fiz também um tratamento longo e caro para espinhas. E confesso que só fiz isso por causa de Thaís. Me tornei então outra pessoa. Eu estava tão diferente a ponto de não mais me reconhecer diante do espelho. Finalmente eu estava satisfeito com meu corpo.

Mas a escola virou faculdade e Thaís e eu seguimos para caminhos diferentes. Só o que não me largou foi o pensamento nela. Eu não era mais um rapaz concentrado. Andava aéreo.

Um dia fui ao shopping, totalmente aéreo, para comprar uma bermuda e dei de cara com uma mulher linda. Voltei imediatamente ao planeta Terra. Era Thaís. A menina que eu me apaixonara a vida toda se transformara em uma mulher. Meu estômago entrou na mesma hora. A periferia do meu corpo estava gelada e não tinha mais sangue. Eu comecei a suar e a tremer. Ela fez festa:

“Você por aqui!? Nossa!!! Quanto tempo...” – Me deu um abraço apertado e disse que eu estava lindo, outra pessoa. Eu estava outra pessoa, mas a paixão era a mesma. Eu estava a ponto de desmaiar. Sentia tontura e dor de cabeça. Meus lábios estavam secos. Podia ouvir o meu coração.

Ela tirou um pedaço de papel da bolsa e escreveu alguma coisa. Depois me deu dizendo:

“Este é o número do meu celular, me dá uma ligada um final de semana desse para a gente sair... trocar uma idéia, por que não, né gato?” – Ela me deu um selinho e foi embora. Eu fique parado como uma estátua. Ainda tonto, mas já me recuperando, eu fiquei assim uns cinco minutos. Totalmente aéreo novamente. Até que uma hora eu consegui voltar ao planeta Terra. Estampei o sorriso mais largo que já havia estampado durante toda minha vida. Esqueci da bermuda e fui para casa. Andava na rua como quem anda nas nuvens. Estava leve, solto, sentia-me livre e cheio de alegria.

Coloquei o pedaço de papel em cima da minha mesinha de cabeceira. Todos os dias eu acordava pensando em Thaís aí olhava o pedaço de papel. Eu cultuava aquele papel como um objeto sagrado. E realmente era sagrado para mim. Era o papel que minha diva escrevera para mim um pouco antes de me beijar. Eu estava ainda mais abestalhado.

Se algum dia liguei para Thaís? Nunca. Ficava nervoso demais e com medo de ficar duro e sem reação na frente dela novamente.

Mas o papel ainda está lá. Original como ela escreveu e como eu deixei na hora. Não deixo ninguém tocar, só eu.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 22/09/2007
Código do texto: T664164
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