O pescador e a sereia

Essa é a historia de um pescador, homem matuto, bruto, do interior, rústico, sem instrução, nem diploma. Trabalhava de sol a sol na lavoura da sua roça. Era baixo, troncudo, olhos pretos como duas jabuticabas, usava chapéu de palha já velho pelo tempo; suas mãos eram calejadas pela enxada e a pele muito queimada pelo sol. Vivia solitário no mato, nunca se casara.

Quando criança ouvia muitas histórias de assombração, a mula sem cabeça, Saci-Pererê, a Cuca, mas a que mais o seduzia era a historia da sereia. O povo da roça dizia que no fundo do rio vivia uma linda sereia. E diziam que sua voz melodiosa seduzia e matava os homens de amor. Ela os hipnotizava e os arrastava para o fundo e os matava.

Era tarde da noite, o matuto estava no bar, bebendo com três amigos, faziam seresta com violão, fumavam cigarro de palha, quando de repente ouviram uma doce melodia. A princípio eles pensaram que poderia se tratar de uma sereia, mas como estavam embriagados resolveram que era hora de ir para casa.

Assim, os três foram caminhando pela estrada de terra batida, os dois amigos logo chegaram a suas casas, e o pescador seguiu o resto do caminho sozinho. A lua iluminava a estrada vazia, só ouvia o pio de uma coruja, e logo o silêncio tomara conta do ar.

O pescador continuou caminhando quando de repente ouviu uma canção. Era uma melodia triste, que o comoveu, sentiu-se que precisava encontrar aquela voz...

Andou por entre as arvores, mas estava muito escuro, já caíra à noite, a madrugada estava fria e o matuto ia caminhando em direção ao som... Foi adentrando a mata, sem fazer barulho, e ficou a espreita numa moita, quando de repente viu sentada numa pedra a silhueta de uma linda mulher.

De início pensou se tratar de uma mulher perdida na mata, mas foi cauteloso se arrastando devagar por entre os arbustos quando, de súbito viu que naquela silhueta sobre a pedra as caudas de uma lindíssima sereia.

Como era muito curioso, o pescador resolveu chegar próximo, quando se aproximou ela continuou cantando a doce melodia e o seduzindo até que ele foi enfeitiçado pelos seus encantos.

Assombrado, o matuto saiu correndo mata adentro, mas ela já lançara seu feitiço – o pescador estava apaixonado. Nunca mais fora o mesmo...

Quando chegou a casa mal conseguira dormir, ficou acordado a noite toda pensando na linda sereia. nem ao menos conseguia entender se aquilo fora real ou um sonho... o que ele sabia era que esse sentimento o consumia, estava arrastando-o em direção as sombras.

Ao amanhecer, ele resolveu correr contar para seus amigos o que tinha lhe acontecido. Ah, caro leitor, cabe lembrar que os pescadores são famosos por aumentar suas histórias de pescaria, assim o coitado do matuto foi logo vítima de chacota.

Aonde ele ia às pessoas diziam: “olha o maluco do pescador que pescou uma sereia”, ou diziam: “coitado do pescador, tão solitário enlouqueceu”! E o coitado do homem já não trabalhava como dantes, a tristeza abateu sobre ele, foi tomado pela desilusão de um amor impossível!

Podre homem, a tristeza abateu-se sobre ele, já não frequentava mais os bares com amigos, não mais fazia as serenatas ao luar... as pessoas que antes o conheciam pela alegria nem percebiam que a melancolia o consumia dia a dia... os que antes o conheciam, agora o ignoravam ... virara motivo de risos ... diziam as fofoqueiras que o matuto endoidara!

Quando amanhecia o pescador já não mais sorria, não mais sentia vontade de se levantar da cama; não desejava bom dia aos passantes na estrada de terra batida; nem o sol, nem a chuva o alegravam mais... Ele perdera a vontade de viver.

Um dia, não suportando mais a dor, o pescador resolveu ir atrás da sua sereia. Caminhou por entre a mata escura e fria, andou... Andou até que chegou ao rio. Sentou-se na pedra e esperou noite adentro... A lua minguante refletia-se nas águas calmas.

Assim, foram muitas e muitas noites. O pobre pescador caminhava na esperança de encontrar a sua sereia, mas um dia ele foi e não retornou. Todos no vilarejo estavam preocupados, e resolveram fazer um mutirão e procurar o matuto na floresta.

Mas, os comentários maldosos entre a vizinhança não parava. Muitos diziam: “ah, deve estar caído de bêbado”! Outros diziam: “ah, o malandro deve ter se engraçado com alguma rameira” as beatas se benziam e diziam: “deve ter enlouquecido e fugido.” E as calúnias e difamações não cessavam! Não se falava de outra coisa por aquelas bandas.

Enfim, resolveram uma noite, sair em busca do pescador. Andaram, adentraram a mata escura e fria, e foram caminhando, em fila indiana, quando de repente no silêncio da noite ouviram uma melodia. Era uma voz doce e sedutora, os homens não resistiam, caminhavam naquela direção. A linda música cessou de repente. Chegaram ao rio e não viram nenhuma sereia. Ouviram o pio de uma coruja. Alguns sentiram o corpo arrepiar. Voltaram o olhar para aquele som agonizante que ecoara na mata, e viram suspenso o corpo sem vida do pobre pescador.

Enforcara-se. Morrera de amor.

CLAUDIACHIARION
Enviado por CLAUDIACHIARION em 19/07/2019
Reeditado em 21/07/2019
Código do texto: T6699267
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