Acaso ou Coincidência?
 
Era uma vez um casal de jovens sonhadores que moravam numa cidade no Estado do Paraná. Estudavam, trabalhavam e frequentavam os mesmos lugares de diversões para os jovens, clubes, cinemas, festas juninas nas escolas e igrejas... E foi numa destas reuniões que se conheceram. Ela era um pouco mais jovem que ele e ainda estava cursando o colegial. Gerson já estava terminando o Ensino Superior, pois viera morar naquela cidade para estudar, onde residiam seus familiares ainda não tinha ensino superior.

Gerson sempre dizia para Marina: “quando eu terminar a faculdade, vamos nos casar e ter a nossa casa”. Ambos eram jovens, mas com a maturidade de adultos fortes e responsáveis. No entanto, nenhum dos dois tinha casa própria para morar, por essa razão estavam sempre mudando de lugares alugados e morando de lá para cá. Mariana acreditava nesta possibilidade e também desejava ter uma família, num lar aconchegante e tranquilo para construí-la.

O tempo foi passando, Gerson terminou a faculdade e logo em seguida eles se casaram conforme haviam planejado. Como os dois trabalhavam, alugaram uma casa num bairro não muito caro e ficou tudo certo.

Então, lá estavam eles arrumando suas coisas, e na primeira semana de casados, aconteceu uma enchente e a casa ficou cercada de água por todos os lados. Mas isso não foi motivo para que se mudassem. Permaneceram ali até que, aos poucos, a água baixou e ficou tudo bem. Moraram naquela casa por um ano. Estavam planejando aumentar a família, ter filhos.

Quando, de repente, veio uma notícia de que o pai de Gerson estava passando mal. Era grave e precisavam de sua ajuda. Entraram em contato pedindo que ele voltasse imediatamente para sua cidade natal, de onde havia saído para estudar, e acabou ficando pelo fato de ter encontrado um bom trabalho e se estabelecido ali para onde viera só para estudar e voltar. Acabou ficando.

Ficaram tristes, mas o caso era urgente. Então não demorou muito, ele pediu demissão, arrumou outro trabalho num local próximo onde seu pai morava, e foram embora. Estruturam-se e foram morar num vilarejo, para que ele e ficasse bem mais perto de seu pai. Assim sendo, podia ajudar nos cuidados e dar mais atenção aos seus familiares. Dedicação esta que perdura até os dias de hoje. Paralelo às atividades do casal, os dois nunca deixaram de dar atenção aos seus familiares.

Toda esta viravolta em suas vidas, em tão pouco tempo de casados, provocou mudanças bruscas do modo em que viviam, em especial com Marina, pois se afastou bruscamente de seus familiares para acompanhar seu esposo e não tinha noção de como era o lugar onde foram morar. Só ficou conhecendo quando chegou lá com sua mudança. No entanto, aos poucos foi se adequando, buscando conhecer os costumes e as pessoas daquele lugar. E nesta busca, foi se envolvendo com grupos de pessoas que participavam das liturgias da igreja, nas festas do clube, nas reuniões com as mulheres da comunidade e do trabalho de Gerson. Voltou a estudar para terminar o Ensino Médio, pois havia interrompido em virtude das mudanças de rumo que ocasionou a interrupção de seus estudos. Mariana tinha paixão por estudar e fazer uma faculdade, mas quando era solteira trabalhava muito e não tinha tempo e foi adiando.

Em meio a tantas mudanças Marina conheceu Amelinha, eram da mesma idade. De imediato se deram muito bem pelas afinidades circunstanciais. Ambas estavam grávidas quase que do mesmo tempo de gravidez. Essas aproximações são imediatas entre as pessoas, em especial quando ambas têm interesses em comum. Primeiro filhinho... Amelinha estava um pouco mais adiantada do que Marina. E sempre que se encontravam tinham muito que falar e trocar afinidades de mães de primeira viagem, que anseiam pelo nascimento.

Elas, sempre que possível, se encontravam para conversar sobre os bebês. Num desses encontros, resolveram ir a um circo que estava acontecendo bem próximo do campo de futebol, onde os maridos jogavam bola. O local do circo era alto e íngreme, um tanto difícil de chegar, mas a curiosidade de ver algo diferente era tanta, que nada impediu de as duas barrigudas subirem o morro para ver as acrobacias do dito circo. Naquele vilarejo pouco ou quase nada acontecia de especial. Então, quando aparecia algo diferente, todos iam ver. Lá foram elas também andando bem devagar com suas enormes barrigas de grávidas, morro acima. O lugar era muito bonito.
Enquanto os maridos jogavam bola, foram ao circo. Era uma estrutura muito velha e o circo era bem carente de recursos para que favorecesse a um grande espetáculo. Era bonzinho... Pegarem os sacos de pipocas, pagarem os ingressos e se acomodaram.

Num repente, rebombou um forte vendaval, levantando toda a estrutura do circo. Ficaram apenas as arquibancadas. Todos os que estavam lá correram e gritavam de medo que algo mais grave acontecesse. Elas ficaram olhando para o céu, pois correr não adiantava, mesmo debaixo daquele temporal, com suas enormes barrigas. Esperaram um pouco até o pessoal se acalmar e começaram a gargalhar pelo evento acontecido. Inesquecível...

O tempo foi passando e chegou a boa hora da Amelinha. Marina não soube logo, só ficou sabendo mais tarde. Moravam um pouco distante e não havia comunicação tão fácil na época. Normalmente as notícias chegavam por intermédio da fala de outras pessoas, ou mandavam um intermediário após dias dos acontecimentos.

Então, logo que soube, foi vê-la. Seu filho nasceu forte e belo, mas Amelinha teve problemas no parto e acabou morrendo. Foi muito triste e comentado por todos. Amelinha era muito jovem e saudável. Mas houve complicações no parto e ela não resistiu. Marina teve melhor sorte!

O tempo foi passando, Marina teve seus filhos, foram tocando suas vidas, muitos acontecimentos, muitas mudanças... Ela e Gerson, nunca mais tiveram notícias do paradeiro do filhinho de sua amiga. Foram morar em outras cidades pelas circunstâncias de seus trabalhos e a formação escolar dos filhos. Tiveram três filhos e estavam sempre buscando melhores condições para a formação deles.

Com o passar dos anos se aposentaram e foram morar em outra cidade. Construíram uma nova casa e começara a mobilhar. Num belo dia, fazia muito frio, resolveram instalar  ar condicionado nos cômodos da casa. Compraram e chamaram uma empresa para instalar. Vieram dois rapazes e, como Gerson é extremamente falante, adora contar e saber das histórias das pessoas, começou a conversar e questionar os jovens.

Marina estava fazendo café e ouvindo a conversa. Ofereceu para os jovens se aquecerem, estava muito frio naquele dia. E nesta conversa de recordações e das origens de cada um deles, acabaram descobrindo que um dos rapazes, muito bonito e bem-humorado, educadamente relatou a morte de sua mãe, "Amelinha", no dia do seu nascimento, e de como tudo aconteceu. Falou com a riqueza de todos os detalhes que muito bem aquele casal vivenciou naquela época.

Foi apenas o acaso? Ou foram coincidências?...


 
Produção: Miriam Carmignan,