Maior Alumbramento

Sempre se encontravam aos sábados no Mercado da Encruzilhada, em Recife. Todos eles coroas já cansados de guerra,fazendo dietas e sua ousadia etílica se limitava apenas a umas duas ou três caipirinhas espertas e uns pedacinhos de bode guizado. Mas o papo continuava firme e forte, a todo vapor, sobretudo as recordações da infância e adolescência, que u deles chamava de cascatear de lembranças.

Nesse sábado passado resolveram indagar uns dos outros qual o fato que mais impressionante e maravilhoso que tinham presenciado ou vivido. Um deles foi logo afirmando convicto: - Foi ver pela primeira vez a Cachoeira de Paulo Afonso.Outro disse que foi o mar, um terceiro um por do sol no sertão do Pajeú, outro uma chuva de granizo, houve até quem disse que foi um luar maravilhoso no tempo que nao tinha luz elétrica e ele viu pela janela aquela lua imensa brilhando que chegou até a ver nitidamente São Jorge lutando contra o dragão (esse escorrega)...Mas um deles, justamente o mais arengueiro ficou calado.Mas foi cobrado. Enntão tomou o resto da caipirinha, tossiu, deu a cusparada de praxe e disse: - A cisa mais maravilhosa que vi, escondido, enquanto ela tomava banho nuinha m pelo no açude, foram os peitos de Chiquinha. Um deles arretado e com inveja (Chiquinha fora a musa de todos mas namorara nenhum deles) perguntou se ele só vira os peitos e não o resto. Ele explicitou: ver vi, mas me fxei naquelas duas mangas rosas maravilhosas e empinadas, ela estava até sorrindo... Foi um alumbramento, caras, o meu primeiro alumbramento coo disse o poeta. E declamou parte do melhor poema de Manuel Bandeira enfatizando o verso:

"...Lá longe o sertãozinho de Caxangá/ Banheiros de palha/ Um dia eu vi uma moça nuinha no banho, fiquei cm o coração batendo/ Ela se riu/ Foi o meu primeiro alumbramento".

Ficaram ali calados lembrando Chiquinha e então mudaram de assunto. Mas nunca esqueceram Chiquinha. Inté.