Aprendendo pelos corredores

Esse caso me foi contado, como uma piada e aos risos dos presentes, quando eu ainda viajava por Brasília. Se realmente aconteceu não posso garantir, entretanto foi narrado com a riqueza de detalhe que transcrevo agora.
Dia primeiro de Janeiro. Posse dos novos mandatos no Congresso Nacional. Após as solenidades todos os políticos estavam dirigindo-se ao salão nobre para o coquetel, quando um dos novos deputados, eleito para o primeiro mandato, dirigiu-se ao velho astuto e experiente senador.
- Excelência, sabe me dizer se temos ratos aqui no Congresso?
- Fale baixo, nobre deputado. Você está querendo comprometer a casa?
- Como assim? Por que toda essa preocupação?
- Não vê que estamos rodeados por jornalistas? Estão sedentos por um novo caso. Não bastam os que já nos preocuparam no ano passado? Quer arrumar mais um?
- Mas eu só estou querendo saber sobre a existência ou não de ratos, nada mais.
- E você acha que isso não nos compromete?
- Evidente que não, senador.
- Evidente que sim, senhor deputado. Com a avidez por notícias que o pessoal da imprensa anda, logo irão transformar seus pequenos ratos em grandes bodes expiatórios, que com certeza seremos nós.
- Mas como pode o senhor pensar dessa forma, excelência?
- Nobre deputado, vê-se logo que este é o seu primeiro mandato. O senhor ainda terá muito que aprender nesta casa.
- Senador, eu só perguntei...
- Pois não pergunte, deputado. Ainda mais quando se trata de assunto tão comprometedor e sendo a hora nada apropriada. Daqui para frente procure só observar. Entendeu?
- Estou começando a entender, excelência.
- E o que o nobre deputado entendeu dessa nossa conversa? Posso saber?
- Entendi que precisamos zelar pela aparência. Evitando ao máximo falar de assuntos que possam vir a nos comprometer, afinal temos que nos manter acima de qualquer suspeita. Certo?
- Certíssimo. Vejo que entendeu perfeitamente.
- Pelo entusiasmo com que defendeu meu silêncio, penso que por enquanto...
- É melhor nem pensar, deputado... Nem pensar. Pode vir a se comprometer seriamente.
- Não estaria o senhor, radicalizando, excelência?
- Lembre-se deputado; – silêncio, observação e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 22/10/2019
Código do texto: T6776088
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