Uma grande amizade

Armindo, ex-gerente de uma grande multinacional, nos últimos dez anos vivia de teimoso, como todo pobre, mas mesmo assim jamais perdera o senso de humor. Tinha perdido o emprego e desde então não mais conseguiu se colocar, passando a viver de trabalhos que nada tinham a ver com ele.
Um belo dia estando no supermercado a fazer compras com sua mulher, avistou na saída dos caixas um velho conhecido que há vinte e cinco anos atrás havia empregado na empresa onde trabalhava, alias não só a ele, mas também a sua mulher, só que em outro local.
Armindo achegou-se despercebidamente de Lauro e num movimento rápido fingiu roubar-lhe a chave do carro, mas continuou parado esperando a sua reação. Este, com ar de superioridade levantou um dos cenhos, olhou-o e fingindo grande esforço para lembrar, perguntou:
- Nogueira? – Era o sobrenome de Armindo e com o qual é conhecido no mercado.
- Estou tão diferente assim, Lauro?
- Não muito, mas tem bastante tempo que não lhe vejo e a gente ficando velho muda um pouco... Sabe como é.
- Não, não sei. Só estou com sessenta! – Riu. Você é que está diferente. Está parecendo até um português.
- Português, eu? Com essa cara de paraibano? – Riu também. Como vai a família?
- Todos bem. – E mostrando sua mulher que estava ao lado perguntou irônico: “Não está conhecendo mais a Magda”?
- Claro! Como vai, Magda? Tudo bem? – Cumprimentou meio sem graça.
Magda respondeu afirmativa e Armindo deu continuidade ao papo.
- Onde você está agora?
- Sou supervisor de vendas... – Dizendo o nome da empresa que não vem ao caso. Agora mesmo no mês passado estive em Portugal pela a empresa. - Falou não cabendo de contentamento.
- Então está explicado. Vai ver por isso o achei parecido com um português. – Outra vez riu.
- E você, onde está?
- Estou desempregado. A propósito, lá tem vaga para um quase velho?
- Não, no momento não, mas não temos problemas com idade. Manda-me seu currículo que vou ver o que dá para fazer.
- Farei isso, mas me diga o que achou de Portugal.
- Uma maravilha, outra cultura. É a Europa, você sabe como é. – Elogiou cheio de vaidade.
Despediram-se depois de terem batido um longo papo no estacionamento lembrando os velhos tempos.
Naquele dia mesmo, tão logo chegou em casa Armindo enviou seu currículo por e-mail ao amigo.
Lauro, meu amigo,
Conforme o combinado, aí vai meu Currículo.
Abraços,
Nogueira.
Armindo recebeu no outro dia a seguinte resposta do velho amigo:
Bom dia, Nogueira.
Vamos ver o que Deus terá reservado para você, e que ele abençoe nossos contatos.
Um abraço,
Lauro Batista.
Alguns meses depois, nada ainda tinha sido reservado para Armindo. E pelo visto Deus também não tinha abençoado os contatos, pois nunca mais se falaram e nem se encontraram, mesmo com algumas tentativas do Armindo.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 23/10/2019
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