Uma grande sucuri tombou a canoa

Assis narrou que o pai dele, falecido há 30 anos, gostava muito de contar histórias das pescarias e caçadas que fizera. De acorco com Assis, seu pai gostava muito de pescar de canoa com celibrim .

Para praticar esse tipo de pescaria noturna usavam-se uma canoa a motor, um celibrim e cabo com fisga na ponta. Essa fisga possuía uma longa corda amarrada nela e em uma boia. Caso o peixe fosse muito grande e eles não conseguissem segurá-lo eles o deixavam ir embora e o encontravam pela boia.

Sempre pescava com seu compadre. O ajustado era que ele ficava na fisga e o compadre no motor. Naquela época havia tanto peixe que eles sempre escolhiam os que fisgavam. Em pouco tempo pegavam a quantidade suficiente e voltavam para casa.

Era normam se depararem de vez em quando com jacarés e sucuris, pois existiam muitos animais e peixes naquela época. Seu compadre tinha recebido um pedido de capturar uma sucuri para fazer remédio caseiro.

Seguiram para o rio que era fundo e com muitas corvarias na beira e no fundo d’água. A pescaria estava boa e já tinham pegado muitos peixes, mas nenhuma sucuri apareceu. Ao chegarem perto de uma grande corvaria seu pai avistou o rabo de uma debaixo da corvaria, e o compadre já foi falando.

— Pega ela, pega ela!

─ Compadre, é melhor não, pois pela grossura do rabo, ela parece ser imensa. A gente não tá vendo o restante dela.

─ E daí se ela realmente for muito grande? A gente pega assim mesmo!

— Mas compadre, a gente não tá vendo o resto do bicho, e pegar isso pelo rabo não vai dar certo.

— Pega ela logo!

O pai dele lançou a fisga na enorme cobra, acertando-a, e a bicha ficou doida e começou a fazer um estardalhaço. Não demorou muito e a fisga saiu do cabo. O que eles não contavam é que a boia e a corda se enroscasse no banco da canoa. Quando isso aconteceu, com poucos puxões a sucuri conseguiu virar a embarcação. Ao perceberam que a canoa ia virar, eles pularam no rio rapidamente e saíram nadando do outro lado. Foi aquele sufoco, pois ficaram sem os peixes, bateria e lanternas, além de terem que caminhar por muito tempo na beira do rio, em noite sem lua, até chegarem ao carro, além de terem passado um grande susto.

No outro dia chamaram alguns amigos e foram ao local para retirar a canoa. A água estava limpa e isso facilitou a que eles encontrassem todo material. A sucuri conseguira escapar e nunca mais a viram. Ficaram somente com o prejuízo de ter que refazer o motor da canoa e comprar uma nova bateria. Igualmente, a experiência de nunca mais fisgar uma sucuri pelo rabo antes de saber o tamanho. De fato, reza o bom senso, que capturar cobras é má ideia.

Texto do livro PESCADOR DE HISTÓRIAS, de Rogério Corrêa.