O banquete do Bispo

O pároco leu e releu a carta. O bispo mandava notícias, avisando que chegaria à cidade em uma semana. Faria uma viagem de desobriga pelas paroquias da região, praticando a catequese e oferecendo os sacramentos a todos. Quando o pároco anunciou a chegada do prelado, as pessoas mais importantes da cidade se ofereceram para recebê-lo, e dar o melhor tratamento a sua reverendíssima, que há muito tempo não visitava aquele lugar. Ao prefeito, que possuía a melhor casa da cidade, coube a honra de hospedá-lo. Que viesse, disse o prefeito, mas não esperasse encontrar na sua casa, o conforto que estava habituado a encontrar em outras paróquias.

Foi sugerido um jantar onde estariam presentes as principais personalidades da cidade. Para isto, um fazendeiro ofereceu uma vaca para ser sacrificada. Outras pessoas ofereceram leitões, patos e gali-nhas. Concluídos os preparativos e chegado o dia, a população, de vigia, não tirava o olho do fim da rua até que súbito alguém gritou:

- “Évém” chegando o bispo!

Logo depois, uma multidão recepcionava a comitiva do prelado que surgia a frente, montado em um cavalo alazão. O padre correu a segurar-lhe a rédea do animal. Sou o padre Luís, humilde servo de vossa reverendíssima. O bispo, satisfeito com tão honrosa acolhida, apeou do cavalo e se dirigiu a igreja acompanhado pelo povo, onde celebrou uma missa. Falou, enaltecendo a fé dos habitantes da cidade e marcou crismas e batizados para o dia seguinte, e até casamentos seriam realizados.

A noite foi oferecido um jantar que era um fino banquete dentro dos padrões da cidade. Os convivas foram chegando e ocupando os seus lugares a mesa. Nisto, apareceu um convidado de última hora. Era um tal de Buim que por ser fazendeiro e membro de um partido político da cidade também foi convidado. Cumprimentou a todos e lo-go que se sentou à mesa começou a comer. O homem comia feito um desvalido, baforava no copo, chupava os ossos. Parecia o dono da festa. Observando-o por cima dos óculos o bispo piscava para o padre que morrendo de vergonha torcia o nariz. O homem repetiu o prato três vezes sob os olhares escandalizados dos presentes. Deixou cair no chão um osso de frango que logo apanhou, e continuou roendo. Depois as voltas com as costelas de um leitão, deixou falsear a faca e espirrou caldo, manchando de gordura as roupas dos seus vizinhos, aparecendo principalmente, naqueles que trajavam roupas claras.

Ante o ocorrido, o padre Luís entrou em pânico, mas nada pode fazer pois o homem costumava ajudar a igreja com doações. Enquanto ele comia o padre ia matutando consigo aquele desconforto. Todo mundo acabou de comer e ele continuou comendo. Foi o último a terminar. Nisto, veio o café. Enquanto o ingeriam, Buim expeliu um sonoro arroto. Depois falou da qualidade do jantar e batendo na barriga disse:

- Nossa! Eu comi feito um padre.

O bispo deteve a xicara no ar e olhando por cima dos óculos, fa-lou:

- O senhor? O senhor comeu como um cavalo!