A mulher das Sombras

O desejo de vingança quando bem alimentada, se transforma em combustível incendiando tudo pelo caminho.

Parte I

A volta

Trinta e um de dezembro do ano de dois mil e vinte e dois, da janela do décimo segundo andar do hotel Rio Lancaster, Laura observava os fogos de artificio que queimava no céu de Copacabana; enquanto saboreava seu Champagne, naquela noite não se vestia como alguém que espera um ano de esperança, até por que era algo que não fazia parte do seu vocabulário. Trajava apenas um robe de seda branco, pés descalços, que não sentia o chão, por conta do carpete que cobria todo o quarto, cabelos presos, tinha em suas orelhas um pequeno brinco de ouro, tão sútil que passava despercebido, em seu pescoço uma corrente com um pingente com formato de uma clave de sol, tão significativo para ela. Sorria livremente pela janela como se alguém lá embaixo o enxergasse; sabia que aquele ano que acabava de chegar seria inesquecível para muitas pessoas, principalmente para ela.

(...)

Karol desliga o telefone enquanto Laura segura por alguns minutos o aparelho. Sua mente viaja para aquela cidade que tanto a fez sofrer; lugar onde aprendeu que o amor não passa de um golpe surjo e ela estava pronta para dar o troco.

Diante daquele espetáculo no céu de Copacabana, Laura pensava em todos aqueles que a enganaram, brincaram com seus sentimentos sem um pingo de escrúpulo, sapatearam em encima do seu amor. Foi transformada por todo aquele sofrimento; alimentando-o todos os dias com seu desejo de vingança, mesmo sendo aconselhada todos os dias naqueles cincos anos que morou em Portugal, talvez pelo único homem que realmente o amou, Claudio; infelizmente sua dor era tamanha que em seu coração não tinha mais espaço para o amor que se tornou tão desagradável para ela. Apenas o desejo de vingança permanecia e crescia em seu coração.

Era duas da madrugada quando ela ligou para recepção, pedindo uma nova garrafa de Champagne, sentada na poltrona do quarto, ouvia os gritos das pessoas que passavam lá embaixo, podia imaginar alegria daquelas pessoas, os projetos novos, que nunca seriam concretizados, porque é isso que acontece todos os anos, promessas vagas descompromissadas com o verdadeiro eu. Entrariam, novamente em seu ritmo de vida e logo se esqueceriam daquelas promessas feitas ao universo. Que idiotice - pensou. Vagava em seus pensamentos e lembrou de uma das suas piores passagem de ano, quando perdeu o seu pai.

(continua)