FOI UMA VEZ...

Após aprovado meu TCC na UNB sobre Manuel Antonio de Almeida e seu “memórias de um sargento de milícias” fui dar prosseguimento à pesquisa num doutorado nos States – Califórnia, of course.

Embarquei tendo na mochila o precioso volume do “Sargento” e no meu voo estavam Oswaldo Montenegro e Fernanda. Ambos participariam de um documentário financiado pela Netflix sobre as queimadas amazônicas. Ele responsável pela trilha musical com sua “Melancolia” e ela encarregada da locução da narrativa.

Mal cheguei à terra de Tio Sam, fui surpreendido por um terremoto que destruiu um supermercado. Felizmente eu lá não estava.

Depois de instalado num cafofo, dividindo o pequeno espaço com um jamaicano e um hindu, retomei o projeto de pesquisa.

Para minha surpresa rolou outro terremoto, desta vez em Terra Brasilis. O CNPq sofreu contingenciamento de seu orçamento e as bolsas foram suspensas, isto é, cortadas drasticamente.

Fiquei em apuros e sem grana para voltar ao Brasil.

Procurei, então, um amigo da minha irmã, instalado em LA como Chef de Cuisine especializado em pratos exóticos. Disse-me ter um fornecedor da matéria prima “Cannabis”, um americano esperto dono de uma extensa plantação da erva para uso medicinal, recreativo e culinário. Fui contratado para trabalhar na colheita da planta, porém, sem ter a destreza necessária para o trampo acabei dispensado.

O Chef, amigo da minha irmã, indicou-me para um emprego num ‘fastfood’ vegano/vegetariano. Comecei lavando pratos, privadas e fazendo outras tarefas pouco nobres para os padrões acadêmicos até ser promovido a garçom e ganhar um crachá.

Nos dias de ‘dayoff’ eu ia surfar para não surtar.

Numa bela tarde californiana surgiram no meu trabalho dois clientes que pediram hambúrgueres. Ao me reconhecerem como brazuca, dispensaram o inglês básico e puxaram papo. Soube então serem os dois ex-assessores de um senador (investigado pela PF brasileira por lavagem de dinheiro). Reparei que eles tinham cara de ’laranjas’. Eu procurei levar o assunto para atualidade política no Brasil, porém, um deles mudando o rumo da prosa, pergunta na maior intimidade, “Eduardo, esse hambúrguer é orgânico”?

Respondi com meu melhor sorriso de ‘Gato de Alice’ que o hambúrguer além de orgânico era especial por ser produzido por ervas cultivadas em estufas climatizadas.

Agradecidos, cada um comeu dois hambúrgueres, e levaram meia dúzia ‘pra viagem’.

Desisti da vida acadêmica e montei meu próprio negócio: “Cannibal”, um trailer food truck estacionado em San Diego, especializado em Acarajé de ‘cannabis’ e outras delícias.

The End