*A lambança do cartomante

A lambança do cartomante

Cartomante é um ser que tem a capacidade de nos tornar ainda mais idiotas do que realmente somos. É claro que, em matéria de fé, cada um crê naquilo que lhe convém, até que, por facécia a uma frase de Shakespeare, eu disse que “existe muito mais hipotenusa entre os catetos, do que apregoa nossa vã Geometria”.

Que ninguém tome minhas palavras como ofensa, pois afinal, eu tenho amigos que acreditam em tudo e outros que não acreditam em nada.

Nos últimos tempos, temos visto coisas que transcendem e muito ao espetaculoso, à bizarrice ou ao suprassumo do inimaginável. Quando pensamos que já vimos tudo, chegamos à conclusão simplista de que somos uns tolos e que o mundão está repleto de picaretas e charlatões. Não vimos nem metade ainda! Não creio que meu futuro esteja amarrado na constelação de Libra, sabe-se lá a quantos mil anos luzes de mim, nem nas cartas do tarô e menos ainda nos búzios marítimos. Até já deixei que algumas ciganas lessem minha mão mais de uma vez, mas apenas por passatempo!

No Brasil, temos uma figura controversa, chamada Pastor Caio Fábio, que tem mostrado no Youtube como são feitos os “milagres” em muitas igrejas. Tudo pilantragem, sem comprovação científica, tudo na base da lambança. O falecido jesuíta Oscar Quevedo também não deixava barato e o Padre Zezinho tem gravado mais de sessenta horas de malandragens referentes ao gênero. Ainda assim, cada qual acredita no que lhe for favorável, conquanto desprezando o senso crítico.

Sabemos que uma pessoa emocionalmente fragilizada torna-se um campo fértil para os aproveitadores e o acaso fornece elementos propícios para isso. Existe um vídeo circulando na internet, onde um macaco solto na rua atira-se violentamente à sorrelfa sobre as costas de um senhor, atirando-o ao chão e foge rapidamente sobre uns veículos. Depois o homem se levanta com cara de bobo, sem entender coisa alguma, por não ter visto nada, como se tivesse sofrido um ataque de um fantasma. Ora, qualquer espertalhão que à espreita visse aquilo, poderia arrancar-lhe até as cuecas.

Em nossa Paróquia, havia uma imagem de nossa Senhora e, logo abaixo dela, uma sacola contendo uma grande quantidade de tirinhas de papel, com mensagens bíblicas. Então a pessoa metia a mão, retirava aleatoriamente uma dessas e dizia:

- Vou ver o que Nossa Senhora tem para me dizer hoje!

Eu ficava de longe, observando aquela esquisitice e ria bastante, pois era comum ver alguém rebolar de volta a mensagem e tirar outra e outras, até que viesse uma que lhe agradasse!

Isso posto, voltemos ao cartomante...

Em Teresina, conheci um sujeito simples, que da noite para o dia se transformou em “professor”, vidente, mago. Foi como se a Fada Madrinha lhe houvesse tocado com a varinha mágica, dando-lhe superpoderes sobre a ciência do futuro.

Ali, na Praça Rio Branco, ele de olhos vendados e com a ajuda de um comparsa, adivinhava a cor da roupa, os relógios e a idade de qualquer um dos presentes. Isso era um truque ordinário, mas causava um grande efeito na mente de muitas pessoas.

Finda essa apresentação, sempre lhe sobrava algum número de espectadores dispostos a fazer uma consulta mais detalhada e era ai que ele aplicava o golpe.

Buscando algum conforto espiritual para suas dores, essas pessoas inocentes os acompanhavam até seu consultório, previamente preparado para recebê-los. Num apartamento de uma pensão modesta, dividido em duas partes por um biombo de compensado, o ajudante se colocava atrás de uma mesinha e, a pretexto de fazer uma pasta individual do consulente, fazia perguntas circunstanciais sobre a vida deste. Anotava o nome, a cor da roupa, o estado civil, onde morava e o motivo da visita. Em seguida, ele colocava essa mesma folha com as anotações dentro de um envelope do tipo “vai e vem”, guardava-o bem a vista do interessado e, em seguida, mandava que este adentrasse à sala do mago por outra porta, dando uma volta por detrás dos demais visitantes. O que ninguém sabia era que uma cópia daquelas anotações feita em papel carbono era passada ao vidente por uma fresta secreta no biombo, longe das vista e da imaginação dos interessados.

Quando o consultante sentava-se diante do vidente, este estava de cabeça baixa, com os olhos pregados na cópia recebida que repousava dentro de uma gaveta diante de si. Sem se mover e sem sequer olhar de leve para o cliente, falava com voz embargada, mas plenamente audível:

- Seja bem vindo senhor(a) X (pronunciava o nome do cliente)!

Ora, isso de cara já causava um baita impacto. Como ele poderia saber seu nome, sem nunca terem se visto e sem sequer levantar o rosto? Como poderia saber sua profissão e onde morava? Só mesmo sendo um profeta enviado por Deus.

- O senhor(a) ainda é uma pessoa jovem, mas está com a aura carregada de maus fluidos. Nada que seu guia espiritual ou seu anjo da guarda não possa resolver por minha intercessão. Teremos, todavia, que tomar alguns cuidados.

E dizendo isso, fazia alguma oração com uma das mãos sobre a cabeça do paciente, dava-lhe um vidrinho com óleo perfumado para passar em algum lugar do corpo e, em seguida, o despachava.

É desnecessário dizer o quanto as pessoas ficavam anestesiadas. Mas o golpe final vinha no preço da consulta ao ser interrogado pelo paciente.

- Assim o senhor até ofende o seu guia e a mim. Desculpe-me, mas não cobramos consultas. “Os dons que recebemos de graça, de graça os repassamos”. Mas é verdade que temos despesas e precisamos do dinheiro para continuarmos servindo à população. Coloque dentro dessa caixa o valor de seu reconhecimento, o valor que diz o seu coração e vá em paz.

O camarada, sugestionado, acabava por fazer uma boa doação e ainda saía fazendo propaganda daquele que lhe passara a perna.

São coisas da minha terra.

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Filosofia de botequim

Sugiro a permuta do nome de AMIGO SECRETO, para INIMIGO DECLARADO.

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Agradeço o humorado poema de RAQUEL ORDONES na participação do meu causo.

Confiá eu não confio,

Mas preciso averiguá.

O meu cumpade foi lá.

É claro que eu espio.

Ainda que ande no fio.

O que ela vai me dizer?

Sou um besta seu eu crer.

É absurda a vontade.

Mas ali não tem verdade.

Ainda assim eu quero ver...

Adoro os seus causos! O seu humor é show! Abraços, poetinha! xêro minero!

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Jota Garcia com sua generosidade e humor presenteou-me com essa graça de poema. Muito obrigado.

PAPO DE CIGANO

Feche os olhos e ponha aqui na minha mão,

Algo de ouro pra me dar inspiração.

Depois, sente aqui e preste muita atenção,

Que lhe direi do futuro o SIM e o NÃO.

Se o seu problema for coisa do coração,

Em pouco tempo lhe trago a pessoa amada.

Nesses casos é de graça, não cobro nada,

Se ela não voltar ajoelhada no chão.

Se o problema for financeiro então,

É fácil de resolver, é uma barbada.

Fica mais fácil pois eu entro na jogada,

E já lhe mostro como é a solução.

Eu posso entrar de sócio nessa transação,

O que você ainda tem com o que eu não tenho,

Junto ao seu trabalho e ao meu empenho,

Logo, logo o dinheiro entra de montão.

Tudo documentado, ação por ação,

Quando o assunto é dinheiro tenho cuidado,

Pra que um dia eu não venha a ser roubado,

Pois este mundo está cheio de ladrão.