Tunin - o benzedor

Antonio, menino negro, nasceu e cresceu no interior do Rio de Janeiro.

Desde pequeno sentia uma vontade imensa de ajudar as pessoas, não podia ver ninguém com dor que já se lembrava de algum chá; coisas que tinha aprendido com sua avó e outras negras velhas. Uma delas lhe ensinou que o remédio tinha que ser tomado com fé, caso contrário poderia não surtir efeito algum.

Antonio, conhecido como Tunin, passou a “receitar” seus chás, acompanhado de uma reza que havia inventado, os doentes saravam.

Era bebê com “quebranto”, homem com “dor nas tripas”, mulher com “dor no ventre”, velho com reumatismo. Tunin ia receitando chá de “mato santo”, de folha de goiabeira, de folha de laranjeira, de caroço de cajá, cachaça com gengibre. Mulheres com dificuldade de engravidar iam em busca de banhos de assento, homens que não davam no couro também procuravam Tunin que logo lhes receitava chá de casco de jabuti.

Carecas tomavam porções de chá de capim gordura além de esfregar o líquido nas calvas e carecas. Adolescentes pediam um remédio pra acabar com a “sovaqueira” e ele prontamente receitava uma bucha de folha de pé de aipim, era esfregar aquilo na hora do banho e pronto.

Para tudo, no entanto, era preciso ter fé. Nem todos tinham; então Tunin engendrou um esforço extra. Três noites por semana, ia para a mata, de onde colhia suas folhas, rezar aos espíritos criadores dos matos que curassem o povo doente.

Tunin não cobrava nada por seus serviços, continuava na labuta da roça; vez o outra ganhava alguma coisa; era uma galinha, um pato, uma saca de arroz com casca, uma banda de porco, mas continuava pobre, morando numa casa de “pau a pique”, chão batido e coberta de palha.

Como os remédios e as rezas de Tunin, quase sempre davam certo e o povo do lugar não tinha muitas posses, os que possuíam uma vaquinha ou um cavalo e estes adoeciam, corriam atrás das rezas e remédios do rezador taumaturgo.

Era vaca mordida de cobra, cavalo com pé destroncado, cachorro danado, burro empacador. Os bichos também saravam.

Tunin ganhou novo apelido: “Tunin Benzedor”.

Naquelas roças, onde não havia assistência do Estado, Tunin Benzedor era o pronto socorro.

Tunin abandonou suas práticas no inicio dos anos 1940 quando entrou pra Assembleia de Deus.

Em homenagem ao meu avô Antonio Correa.