INSTITUTO SEIS DE OUTUBRO

Esse era o nome da escola da professora dona Josehilda Portobello Soutovieira.

Em todas as oportunidades ela fazia questão de frisar que o seu nome era a feliz ideia que seu pai teve de registrá-la com a junção dos nomes dele e de sua esposa.

E, com a voz empostada das grandes narrativas nomeava-os José Porto Souto e de Hilda Bello Vieira e dava aquela pausa necessária para que a plateia entendesse a mistura dos nomes e aplaudisse.

O nome do instituto era também uma auto-homenagem vez que essa era a data do seu aniversário natalício.

Em seu instituto o aluno só dispunha de duas alternativas, ou aprendia ou fugia do espancamento a que todos estavam sujeitos caso não soubessem as lições.

Palmatória, régua e caroços de milho para se ficar horas ajoelhado sobre eles nunca faltaram.

Dona Josehilda era uma figura marcante.

Estatura mediana, cabelos presos atrás da cabeça, óculos de grau forte sempre pendurado na ponta do nariz para ela poder olhar os infratores por cima da armação.

Voz estridente e penetrante, sapatos de salto que faziam o potoque, potoque sobre os mosaicos do chão cada vez que ela andava de um lado para outro nas salas de aula.

No corredor, três potes de barro bem grandes, guarnecidos com torneira e junto de cada um deles uma cesta de vime para que as crianças, depois de beberem a água colocassem dentro os canecos de alumínio que ficavam nas tabuas presas na parede também ao lado de cada filtro.

Cada aluno tinha o seu caneco, com o nome gravado, e ai daquele ou daquela que não o colocasse na cesta ao final de cada dia letivo.

As águas que eram colocadas nos potes nem precisavam ser filtradas, pois vinham da cacimba, por ela, decantada em prosa e verso como sendo a melhor e mais saudável água de beber de toda a região. Cacimba essa que fora cavada pelas mãos ágeis e viris do pai, seu eterno ídolo.

Num daqueles dias de arguição geral, Manoelzinho, se deu muito mal.

Das dez perguntas que lhe foram feitas só acertou uma e como castigo pelo descaso com os estudos, teve que ficar por meia hora de joelhos sobre caroços de milho, ainda levou doze bolos de palmatória, além de ter que escrever 200 vezes – eu devo estudar as minhas lições.

Dr. Manoel Sarmento era o farmacêutico do bairro de larga clientela e experiência mais do que provada e aprovada, pelas várias manipulações executadas a partir das receitas dos médicos e as que ele mesmo chegara a formular. Além dos insumos para as manipulações, a farmácia possuía enorme estoque de remédios industrializados e foi entre esses que Manoelzinho encontrou a “arma da vingança”.

Sem que o pai tivesse conhecimento, pulverizou muitos comprimidos de lacto purga colocou numa garrafa com água e, na manhã seguinte foi o primeiro a chegar na escola. Sem que ninguém notasse, despejou o conteúdo da garrafa nos três potes, procurando dividir a poção em partes iguais.

O efeito não poderia ter sido melhor.

Todos os alunos e a professora dona Josehilda Portobello Soutovieira, bem antes que findasse o dia estavam com diarreia e assim se mantiveram nos outros dias até que alguém proibisse o consumo da água “quase” santa.