SÍTIO BANANEIRAS

Antônio Neves, comandante aposentado do exército, era um apaixonado pelo campo. A vida interiorana lhe trazia lembranças boas de sua meninice, lá no sertão de Alagoas.

Apesar de sofrida, era muito boa! Criança pequena não entende ainda as agruras da vida. Seu Antônio lembra com carinho do sítio do seu avô, as plantações de abóbora, melão, maxixe, amendoim, batata doce, milho, inhame... Quanta fartura! Isso quando o clima era favorável. Em Alagoas tempo bom para plantar é março, e principalmente na chamada quadra chuvosa ( de maio a agosto). O menino Antônio olhava da janela da humilde casinha de taipa, onde morava, a chuva molhando toda a plantação do avô. Alegria maior era na época de festa junina, Antônio assistia com os olhos acesos o seu avô armar a fogueira.

Sua avó, dona Netinha, ficava encarregada de preparar os deliciosos quitutes, ralava o milho pra fazer canjica, separava as espigas para serem assadas na fogueira. Tanta gostosura!... Humm! Delícia... Era o melhor período do ano para o menino Antônio. Ele se arrumava todo, brincava com os primos que vinham da capital pra passar os dias festivos no sítio. Tantas lembranças, saudades de um tempo bom!... E foi movido por essa doce lembrança que Seu Antônio, já depois de trabalhar duro e galgar patentes no exército, decidiu comprar um sítio nos arredores de Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro, onde fez carreira e se aposentou.

Numa tarde de domingo sem nada pra fazer, Antônio viu nos classificados o anúncio de um sítio que aparentava ser muito bom, ótimas instalações, benfeitorias, preço atrativo. Decidiu ir conferir, chamou seu filhinho Mateus para dar um passeio e entraram na camionete rumo ao sítio. Ao chegarem na propriedade ficaram impressionados com a beleza, muitas árvores frutífera, casarão bem padrão, um pequeno lago, e o que mais se destacava era a grande quantidade de bananeiras.

Antônio ficou doido! Já quis fechar negócio na hora! Mateus ficou com medo das galinhas d'angola e correu em direção do seu pai que estava no Alpendre do Casarão conversando com o proprietário. Antônio repreendeu o filho, mandou que parasse de choro!

Mateus era uma criança muito triste, filho único, era inseguro, medroso. Tinha pavor de tudo, nossa!.. Coitado de Mateus! Era um bom garoto, sempre amável, de poucas palavras... Gostava muito de agradar os pais, pelo menos fazia o possível. Tinha medo enorme de ficar sozinho, sem a companhia dos pais. Filho único, aos olhos dos outros parecia mimado, chorão, bobo... Ninguém o entendia! Somente Deus e ele mesmo!

Antônio via o filho tão diferente dele... Menino medroso, sem garra para conquistar seus objetivos, Mateus achava que o mundo se resumia a ficar para sempre na companhia dos pais. Cresceu com esta visão! Passou muito tempo com esta ideia!... Antônio Neves já era desafiador, aprendeu que chorar demais enfraquece a alma," a melhor roupa é a coragem" , dizia ele. Contava sempre para o filho suas histórias de superação, momentos difíceis de sua vida em que se via sozinho tendo que tomar uma decisão. Achava que o filho pudesse se espelhar em suas histórias para também vencer os desafios. Mateus era medroso mesmo, tinha medo de iniciar uma conversa, o medo o travava. Não tinha vida social! Nada de amizades, namoros... Foi crescendo nesse ritmo. Quando tinha 9 anos de idade chorava muito quando sua mãe passava da hora de ir buscá-lo no colégio. O menino imaginava muitas coisas tristes, ficar sem os pais!... Coração acelerava só de pensar! Coração... Mateus cresceu sem aprender a dominar seu coração. Era um menino de coração enorme, bem carinhoso. Mas o coração tomou conta de sua vida. Foi criado, se fez adulto morando com os pais no sítio Bananeiras. Eduarda tinha pena do menino quando via Antônio gritar com o filho. Pai e filho e mais um amigo caseiro subiam o morro bem íngreme lá do sítio a fim de pegar os cachos de banana e depois descerem com a mula e colocar os cachos para amadurecer no barracão. Vendia caixas de bananas para redes de supermercados e hortifrutigranjeiros.

Mateus chorava, sentia perder suas forças, suava muito, nem arriscava olhar para baixo... Ainda faltava muito!

Mas o menino foi se acostumando, foi aprendendo a superar os desafios... Valeu a pena os gritos de incentivo do pai, os puxões de orelha.

Mateus mudou, completou 18 anos. Quis servir o exército! Não queria de jeito nenhum sobrar, ficar de fora! Não aceitou mais ser chamado de coração mole. Entendeu finalmente que teria que ser firme em suas decisões, teria que se "vestir" de coragem, pois a vida atropela quem é coração mole. Coração só pode ser mole para ouvir a voz de Deus! Entendeu que seu pai era um homem respeitado porque falava o que tinha que ser dito, doa a quem doer. Antônio Neves, grande homem que não aceitou perder seu filho para o coração, para o sentimento maldito, que parece ser doce como um fruto, mas é espinhoso. O sentimento atrapalha, paralisa, e a vida não anda. Não se consegue subir a montanha íngreme, pois só a fé é que nos dá força!

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 03/06/2020
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