DA RIQUEZA DO SABER À DEPREDAÇÃO DA ESCOLA LAFAIETE

Ulisses era um menino encantado pelos livros. Seus pais faziam de tudo para lhe proporcionar uma boa educação.

Quando o Geninho ( apelido de Ulisses) nasceu seus pais viviam momentos difíceis. Marisa, sua mãe, havia acabado​ de perder o pai.

Era muito apegado à ele. Era Deus no céu e ele na terra, como diz o ditado. Cuidava do pai com toda a diligência! Ia constantemente visitá-lo no hospital, quando este encontrava-se internado com tuberculose. 27 de Setembro de 1976, seu pai falece. Exatamente cinco dias após Alberta dá a luz Ulisses. Seu Otacílio chegou a ver o neto nos braços da filha que chorava muito e clamava a Deus pela saúde do pai. Mas Deus não quis assim, seu Otacílio partiu... Fez uma viagem, como Marisa decidiu colocar em sua mente. Muita dor que ela nem quis ir no cemitério. Marisa realizou o último desejo do pai, colocou o nome do filho de Ulisses a pedido de Otacílio, que era um leitor voraz de clássicos da literatura mundial.

Antes de ser internado, seu Otacílio disse, na última vez que tomou o café da manhã ao lado da filha já prestes a dar a luz, que o neto chamaria Ulisses, herói da Guerra de Tróia retratado no poema épico Odisseia, clássico do autor grego Homero. " O meu neto vai ser doutor, intelectual e um guerreiro, que se destacará no mundo" disse seu Otacílio, alisando a barriga da filha, e com os olhos marejados já imaginando que talvez nem chegaria a ver o neto nascer.

Mas Deus permitiu que Seu Otacílio chegasse a ver o neto antes de entrar para a eternidade. Foi um momento de muita emoção. Cena indescritível! Seu Otacílio abriu um leve sorriso. O seu olhar um pouco turvo não impediu que reparasse que o neto era uma bela criança.

A primavera, que é considerada a estação da beleza das flores, da renovação... Para Marisa chegou trazendo um misto de alegria e tristeza. Uma vidente, amiga de sua saudosa mãe, lhe falou antes de seu pai adoecer que ela teria naquele ano uma grande alegria, mas também teria muita tristeza. E de fato aconteceu!

Marisa começou, paulatinamente, juntando forças, se estruturando... Seu marido Nalberto, que fora seu primeiro namorado, era um grande companheiro, um homem de verdade, que passava segurança. Homem trabalhador e que havia conquistado a amizade, confiança e respeito de Seu Otacílio.

Marisa não queria se relacionar com um rapaz que causasse desgosto no pai. A jovem, que era filha única, só aceitou casar com Nalberto porque contou com a aprovação de seu pai. Mas naquela altura ela também já estava amando o rapaz.

O jovem casal foi se virando. Contas pra pagar, aluguel, roupinhas para o filhinho, alimentação... Ufa! Para piorar a situação Geninho chegou a ter bronquite. O casal não sabia o que fazer, Nalberto saía cedo do serviço só para levar o filho ao médico usando o convênio que tinha direito. Mas nada adiantou! Até que ouviram falar de uma farmácia de manipulação do Seu Elias, lá em Petrópolis, na serra fluminense. O doutor, um senhor na faixa dos cinquenta anos, era quem preparava os remédios. Muita gente havia sido curada através dos remédios dele! O casal saiu de madrugada de Duque de Caxias, e subiu a serra. Chegaram na hora que a farmácia abria, Marisa chorando com Geninho no colo. Nalberto pediu que a mulher se acalmasse. Seu Elias medica a criança com um xarope, e ela fica boa, expele toda a secreção! Graças a Deus, vitória! Ulisses teve sua primeira vitória!

E o menino foi crescendo, com 3 anos já estava na escolinha, rabiscando, desenhando, pintando. Aos 4 anos anos começou a ser alfabetizado. Não teve nenhuma dificuldade para aprender a ler e escrever! Deus respondeu as orações que Marisa fazia todas as noites no banheiro, quando estava gestante. " Senhor, peço que ilumine o caminho de minha criança, que ela venha nascer com saúde, que seja estudiosa, que me dê muitas alegrias e jamais se desvie do caminho do Senhor". Ulisses dava muitas alegrias aos pais, suas notas eram excelentes. Nenhuma reclamação dos professores. Para Ulisses as lições eram bem fáceis, ele tirava de letra, parecia que ele já sabia antes das Tias ensinarem. O menino tinha uma mente boa que assimilava tudo! Com 8 anos, Geninho deixou a segunda série primária no meio do ano. Foi devido aos seus pais conseguirem uma casa própria em outra cidade, e se mudarem pra lá. Vitória para o casal que finalmente saíam do aluguel. Com o dinheiro que antes era do aluguel poderiam proporcionar uma educação de qualidade pro filho. Dezembro de 1983, Geninho faz uma prova para estudar na terceira série de um colégio bem famoso no Estado do Rio de Janeiro, colégio grande, ensino de excelência! Geninho faz a prova, e mesmo sem ter estudado, sem conhecer os assuntos, passou na prova. Primeiro dia de aula no novo colégio, Geninho não fica bem, aquele ambiente, aquela instituição gigante, aquele luxo... O menino se sentiu um passarinho fora do ninho! Ulisses pediu que sua mãe lhe matriculasse numa escola pública, a Escola Estadual Lafaiete, na mesma rua onde morava. Naquele tempo, ainda no regime militar, o ensino público era valorizado, não havia baderna. Ulisses deixou de estudar em colégio particular para ir para colégio público. Todos os dias o menino estudava, não se faziam greve. As Tias eram exigentes, cobravam do aluno, que as viam como uma mãe. Eram boas, despertavam nos alunos o interesse pela leitura. Geninho gostava de todas elas, e também fez amizade com dona Margarida, a cozinheira da escola. Humm! Comida saborosa, cardápio variado: segunda-feira- arroz, feijão legumes e carne moída, na terça- ensopadinho de frango, salada de frutas, quarta-feira- cozido. Quinta-feira- mingau de fubá ou arroz doce, sexta-feira- frango cozido com macarrão.

As crianças se fartavam, de barriga cheia e um brilho no olhar acompanhavam as aulas. Geninho, embora fosse tímido, chegou a fazer algumas amizades.

Geninho e os seus amiguinhos faziam trabalhos juntos e participavam de festas como : o Dia do Folclore, o Desfile de Sete de Setembro, o Dia da Bandeira Nacional ( os alunos tiravam fotos junto à bandeira brasileira). Antes de começar as aulas os alunos formavam fila para cantar o Hino Nacional, e depois se dirigiam em fila para a sala de aula.

O tempo passa, mas as lembranças ficam!...

Geninho já está homem feito! Não mora mais na rua da Escola Lafaiete.

Hoje ele sente tristeza de ver como se encontra o colégio. Ulisses não chegou a concluir o primeiro grau lá, mas testemunhou a decadência da escola nos anos que se seguiram após o fim do regime militar. Greve e mais greve! violência invadindo a sala de aula, traficantes aliciando estudantes, falta de comida, os alunos só tomavam leite sem açúcar numa caneca de alumínio. Geninho viu a escola ser depredada, pichada, empurra-empurra na saída dos alunos.

Geninho que pensava em concluir todo o estudo na Escola Lafaiete, teve infelizmente que deixá-la . Hoje em dia, Ulisses sente pena desta geração, um sentimento que ele não sabe decifrar. Educação hoje em dia é sinônimo de baderna! Mas ao mesmo tempo agradece a Deus por ter vivido uma época de ouro no ensino!

E pede a Deus que este tempo volte! Ulisses torce pela volta da valorização do ensino!

As pessoas de bem acreditam na volta do ensino de qualidade! Que Deus ouça o nosso clamor!

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 06/07/2020
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