A história de João Garboso

Por Marcelino Rocha

Estava trabalhando, fazendo algumas entregas, junto com meu Ajudante, quando avistamos, andando calmamente pela calçada, um sujeito bem encurvado, daí eu gritei para aquela criatura de formas bizarras, "João Garboso... Como vai? Como estava dirigindo rápido não ouvi sua resposta, mas meu Ajudante ficou intrigado pelo fato de eu chamar aquele senhor de "João Garboso", e questionou:

Porque chama aquele senhor de João Garboso?

Eu respondi contando a seguinte narrativa... A muitos anos atrás quando os portugueses estavam aqui chegando e muitas tribos indígenas ainda estavam por aqui tinha um jovem chamado João Garboso. Era um jovem muito bem afeiçoado, sujeito cobiçado pelas moçoilas e pelas não tão moçoilas também, mas ele não tinha muitos escrúpulos, cada dia estava de braços dados com uma ou outra, até que se encantou pela filha de um Pajé, de uma tribo bastante pacífica, a moça também se admirou com tamanha formosura do belo mancebo, os dois jovens começaram a se relacionar, já não era apenas um passeio de braços dados, eram juras de amor, afagos e carícias, até que um dia a indiazinha deixou-se levar pelas carícias e se envolveu com aquele jovem sem prever as consequências, após alguns meses a moça descobre que estava grávida, imediatamente foi contar ao seu amor a novidade, mas João Garboso, arisco que só ele só, rejeitou a ideia de ser pai e abandonou a jovem em meio às suas lágrimas, pois bem a jovem com receio da reação de sua tribo, do seu pai, o Pajé, e de todos os outros que residiam num vilarejo próximo, sem saber o que fazer, contou para uma Índia, que considerava como sua melhor amiga e logo após a sua narrativa, subiu ao topo de uma montanha e precipitou-se ao fundo do abismo.

Toda a tribo ficou furiosa ao saber da história que levara a pobre indiazinha a tomar tão desesperada atitude, dando cabo a sua própria vida, mas o Pajé, calmamente, procurou o jovem João Garboso e fez-lhe uma proposta.

Olhe aqui seu moço, perdi minha filha e com ela foi-se meu herdeiro, mas não deixarei que ninguém da tribo lhe faça mal, somente lhe faço um pedido, que se proste diante de toda tribo, se encurve e peça desculpas por todo mal que causou a minha filha que era considerada também filha da tribo.

João Garboso depois de ouvir tudo atentamente bradou em alta voz..

Não temo a você ou sua tribo, não tenho medo nem do seu Deus Tupã...

Não vou me encurvar diante de ninguém, não me sinto culpado, faça o que bem entender.

E saiu apressadamente...

O Pajé foi até a tribo e pediu para que ninguém fizesse nada contra o jovem, foi para sua oca e ajoelhou-se e entoou canções a Tupã durante toda a noite até se deixar levar pela exaustão e adormecer...

O dia amanheceu para todos... Inclusive para o João Garboso que tentou levantar, mas não conseguiu se erguer totalmente, ficou deveras encurvado, como se estivesse a reverenciar a Tupã e toda a tribo, pois assim ele vive até os dias de hoje, todos os outros já se foram, mas João Garboso viverá ainda por muitos séculos até que decida a se encurvar, de alma e coração, diante de Tupã e de toda a tribo, pois o seu corpo o próprio Tupã, fez questão de encurvar.