Um cofre abarrotado de dinheiro

Outro episódio interessante, foi quando chegou uma notícia em Banco do Pedro que um comerciante de Rio do Braço estava rico, muito rico! Uma mentira danada espalhada por um fofoqueiro, freguês desse comerciante, que ficava falando da vida de todo mundo:

— “Fulano comprou isso; sicrano comprou aquilo, beltrano tá é bem, fulano de tal tá pobre, cicrano não tem nada, beltrano tá devendo como o diabo!” - E assim era a vida desse linguarudo!

Um dia ele chegou na mercearia e ficou olhando as prateleiras... Se estavam cheias ou vazias, se tinha mais produtos no estoque, se o comerciante tinha ou não conta no banco, se tinha casa própria em Itabuna ou era alugada, se os filhos estudavam em escola particular ou pública e por aí, ia...

O comerciante sabendo que ele falava de todo mundo, tomou algumas precauções ao indagar-se:

— O que será que esse camarada anda falando por aí de mim?

Resolveu então fazer algo positivo para surpreender o fofoqueiro. Algo que o deixasse com inveja.

Pegou então todo o apurado do final de semana, cerca de vinte mil cruzeiros, e resolveu multiplicar o dinheiro com jornal recortado.

Cortou várias “cédulas” de jornal - (jornal cortado no tamanho de uma cédula de papel), depois fazia os pacotes de mil, colocando apenas uma cédula verdadeira na frente. A maior cédula em circulação, era aquela de hum mil cruzeiros que tinha o Barão do Rio Branco com aquela carecona e um bigodão duas vezes impresso na cédula; um de cabeça pra cima, outro de cabeça para baixo (de valete). Desses vinte mil cruzeiros, deu para fazer uns duzentos pacotes de mil. Empurrou tudo no cofre na parte superior e inferior, que ficaram lotadas e quase não conseguia fechar. Afinal, eram mais de “duzentos pacotes de mil cruzeiros!”

No domingo, na hora do almoço, quando o comerciante ia fechar a venda, chamou o fofoqueiro e disse-lhe:

— Quero que você entregue a Zelinho, no Banco do Pedro, para mim, uma carta. Pode ser?

— Posso sim, pois tô indo pra lá hoje a tarde. - Disse o língua de sogra.

O comerciante, então, prosseguiu com o seu plano:

— Senta aqui um pouquinho, que eu vou procurar aqui no cofre...

Colocou a cadeira bem em frente ao cofre e o fofoqueiro sentou para receber a encomenda.

O comerciante ia rodando o segredo do cofre pra lá e pra cá, bem devagarinho...

Começou a reclamar do movimento...

— Não sei o que houve nesse final de semana, só vendi mais fiado que a dinheiro. As vendas foram muito fracas... Mas é assim mesmo, semana que vem acho que vai ser melhor...

De repente, o comerciante abriu a porta superior do cofre de uma vez. Toda a dinheirama caiu a seus pés, os bolaços de dinheiro! O fofoqueiro arregalhou os olhos, levantou-se pra ajudar, e o comerciante o parou na hora!

— Pode deixar que eu mesmo arrumo! Mas agora me lembrei que a carta tá na porta de baixo do cofre... Pera aí que eu vou achar já, já!

E quando abriu a outra porta inferior do cofre, outra quantidade grande de dinheiro preparada do mesmo jeito com jornal e as cédulas verdadeiras na frente, caíram...

Eram mais de trezentos mil cruzeiros, desta feita com as notas de Cr$500,00, cor de cinzas, comemorativas ao descobrimento do Brasil! Os bolaços de dinheiro estavam ainda mais bonitos e ainda mais gordos!

— Esse cofre tá muito pequeno. tenho que comprar outro. - Disse o comerciante.

No mesmo dia, a notícia em Banco do Pedro de que um comerciante de Rio do Braço estava rico, muito rico, espalhou-se.

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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "Rio do Braço" (Romance Histórico) de Osman Matos, publicado em 2015 pela Editora Mídia Joáo Pessoa, PB (LANÇADO EM 2016 NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS) e pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso, 2017.