O PULO DO GATO I

Certo dia, numa cidade lá pelas bandas do interior da Bahia passava-se um murmúrio sobre um tal moço fujão. Toda gente dessa pequenininha cidade estava atônita com os boatos que eram passados de boca em boca. Será mesmo uma verdade?

Tudo começou quando seu Zé das Botas, homem sério, de poucas palavras e matreiro ouviu no rádio que o delegado de Maracatu, cidade vizinha, procurava um rapaz que fugiu do xilindró e pelo jeito foi lá pelos lados da cidade localizada perto das Serras dos Cavalos. Depois dessa notícia, Zé falou para Dona Florzinha do acontecimento e Dona Florzinha - mulher solteirona, delicada como uma flor vivia com os bóbis nos cabelos passou a contar para suas amigas hortaliceiras. E foi assim que se formou uma roda de notícia. Todas as noites as pessoas se reuniam para falar do fugo caído na boca do povo:

- Ouvir dizer que o gatuno está por essa banda. É melhor agente tomar cuidado!

- É mesmo. Ele é perigoso.

Uma terceira pessoa comenta:

- Que nada! Vocês estão inventando histórias para boi ou vaca dormir. Eu não acredito nisso. Alguém já viu?

Dona florzinha estava chegando na roda da conversa e logo replicou:

- Graças ao Bom Jesus que ninguém viu o moço fujão. Essa notícia é verdadeira. Saiu até no noticiário do rádio sobre a fuga dele para cá. Quem me falou foi seu Zé das Botas. Vindo dele eu acredito. É melhor nós ficar com os olhos e os ouvidos bem atentos.

Nesse instante, chegou seu Zé das Botas e começou a traçar o moço bandido: - Ele é moreno, alto, bonito, cabelo crespo e tem um sorriso estranho.

- como é esse sorriso estranho senhor das Botas?

- É assim: na, na, na , ba, ba,ba, na, na, na, ba,ba,ba...

- Se vocês vêem alguém parecido com ele corre e vai chamar o soldado Umburanas e ele vai avisar o senhor Delegado de Maracatu. Boa noite a todos.

- Boa noite senhor Zé das Botas e até mais ver.

Saindo da roda de conversa, as mulheres vão para o lado do córrego que banhava as hortas e os homens para o outro. De repente, as mulheres viram entrar em uma casa verde, de janelas com vidrais coloridos bem bonitos por sinal um rapaz com as mesmas descrições feitas por seu Zé das Botas. Esse fato lhes chamou atenção. Elas ficaram escondidas por alguns minutos. Embora, o que as intrigou foi à maneira como o rapaz conseguiu entrar: saltando o muro e parecia muito preocupado. Olhava para a direita e para a esquerda. E com rapidez deu uma cabriola. E puf!

- Será o moço bandido que seu Zé das Botas falou?

E Bonza, a segunda companheira de Dona Florzinha profetizou:

- Acho que não Florzinha, porque ele não é tão moreno assim e nem alto.

E logo Mariquita, alta, faladeira que só e a primeira amiga de Dona Florzinha se pós em alarme:

- Gente! Gente!!!!! É melhor nós comunicar o soldado ou chamar seu Zé das Botas.

- Primeiro vamos chamar seu Zé das Botas para ver se é ou não e depois nós chama o senhor soldado.

- Certo, vamo lá.

Dona Florzinha teve uma brilhante ideia:

- Uma tem que ficar aqui para ver que horas ele sai. E assim, agente fica sabendo para aonde ele vai e depois o seguimo.

Uma das mulheres reclamou:

- Eu não vou ficar aqui sozinha não. Vai que ele me ataca.

Dona florzinha: - Tudo bem, eu vou ficar com você e Mariquita vai atrás de seu Zé. Vai logo mulher, vai.

Alguns minutos mais tarde o moço saiu da mesma forma que entrou pelo muro. Ficou algum momento parado, ajeitou as roupas, logo começou a pentear os seus cabelos. Parecia pensativo em que direção tomar: a direita ou a esquerda. E esses minutos foram importantes para a chegada de seu Zé: - o que foi Dona Florzinha? Vim mais rápido que pude, já tava chegando próximo de casa e foi quando dona Mariquita me contou que vocês encontrou o moço fujão. Cadê ele?

- Está ali seu Zé. Olhe, ele acabou de sair pelo muro. E ficou parado alguns minutos. O problema que nós não estamo vendo direito, tá um pouco cinzento.

- Psiu! Fazem silêncio, se não ele pode nos ouvir. Vamos ver para aonde ele vai.

- Vamos. E se for ele?

- ficou certo de chamar o senhor soldado Umburanas.

- Ótima idéia senhoras.

Nesse estalar de tempo aconteceu o inesperado. A luz do poste apagou-se de vez deixando todos na escuridão. E quando a luz voltou o moço já não estava mais lá. Assim, todos que estavam ali reunidos para desvendar esse misterioso caso foram para suas casas.

- É! Hoje não deu para gente descobrir se é o moço fujão. Mas amanhã nós voltaremos. Certo senhoras?

- Certo seu Zé. É melhor manter o causo em segredo. Amanhã quando nós tivermo a certeza iremo entregar para o soldado.

- Tudo bem. Boa noite a todos.

- Boa noite.

Na noite seguinte, no mesmo horário e no mesmo local, estavam lá seu Zé, Dona Florzinha, Mariquita e Bonza prontos para revelar os mistérios. O rapaz fez tudo de novo: pulou o muro, olhou para a direita e para a esquerda com ar de preocupado. Na casa havia uma lâmpada do quarto acessa. E mais tarde ele saiu. Penteou os cabelos, concertou as roupas. Desta vez as luzes dos postes estavam todas acessas e deu para perceber que a semelhança era bem próxima do fujão procurado pelo delegado. Mais eles tinham de buscar a prova maior. Ver se o sorriso do rapaz suspeito era igual do moço fujão. Para isso, eles tinham de tramar uma boa armadilha.

- Senhoras! Tenho uma criação. Primeiro vamos chegar perto dele com quem não quer nada e depois nós pegamos na prosa, e conversa vai, conversa vem. Conto uma piada.

- Uma boa idéia seu Zé. Vamo todos juntos.

Juntos, tremendo igual a uma vara verde chegaram próximos do rapaz: - Bo! Bo! Boa noite seu moço. Como esta noite está maravilhosa. Veja as estrelas e a lua estão fazendo um lindo balé no céu.

- É verdade. Estam mais lindas do que nunca.

- Como você se chama meu bom rapaz.

O rapaz pensou um pouco antes de responder: - Antes de falar meu nome gostaria de saber o de vocês. E o que vocês estão fazendo para esses lados hora dessa?

- Me chamo seu Zé das Botas. Eu estou acompanhando as belas senhoras e nós estamos passeando um pouco para jogarmos conversa fora e ouvir uma boa piada. E o seu nome? Você não vai dizer?

Hum! Hum !!!

- Sou Ricardo. E deu umas risadas....