O abandono do escravo

Tio João era pedinte, na cidade que me criei.

Passava nas casas pedindo comida, água, café, em troca oferecia para rachar lenha, ou capinar.

Era conhecido de todos, ali da pequena cidade.

Contavam que ele havia sido abandonado, pela família, a quem ele servira, desde pequeno.

Tinha tabalhado na roça de sol a sol, sem nenhum salário.

Ganhava a comida, a que tinha direito depois q a família comia.

Ganhava algumas roupas usadas e se sentia feliz. Considerava, aquela família como sua.

Foram anos e anos de servidão. Ele era pau para toda obra.

Tirava leite das vacas, alimentava os porcos e as galinhas, capinava, plantava, enfim, fazia de um tudo.

Não tinha família.

Fora dado aos cinco anos, para aquela gente e nem documentos tinha.

Nunca se casara. Sua vida era só trabalhar.

Não havia tempo para o lazer e muito menos para namoros.

Viu o patrão enricar.

Ficava contente. se achava um deles.

Quando era natal, eles lhe davam roupas e calçcados usados de presente. Nestas horas ele se sentia importante.

Quando a idade foi chegando e ele ficando doente, a família, mudou de cidade, vendendo tudo oque tinha.

Ficaram de vir lhe buscar na semana seguinte, mas nunca mais apareceram.

Os novos donos do sitio, não quiseram ficar com ele.

Ele ja estava velho e fraco.

Então ele passou a morar na pequena cidade próxima dali.

Construiu para si um barraco, com restos de madeira, na beirado de um rio.

As pessoas sempre lhe davam comida, ou algo que ele estivesse pedindo, mesmo, que não precisassem de seu trabalho.

Ele ia toda semana, cortar lenha para minha avó.

Confesso que eu tinha um certo medo dele.

Cabelos oleosos, roupas sujas, unhas compridas.

Ele comia la fora, em baixo de uma arvore.

Eis que uma dia ele apareceu limpo e penteado, quase não o reconheci. Vinha acompanhado de um jovem muito bonito.

Viera se despedir de nós, quele moço, era filho do patrão, que tendo se formado na capital, nunca esquecera o tio João.

Ele nos contou, que sempre desejou, poder vir um dia buscar, quem havia feito tanto bem a sua família.

Nunca ouvi falar deles, mas guardei, a generosidade, daquele rapaz tão bonito. Aquele gesto, me fez acreditar, que nem todos são iguais. Que existem pessoas boas e agradecidas.