Cuma?

Nesse momento, dentro do trem, alguém lhe dá um

tapinha nas costas... Vira-se e era o seu amigo Benedito Barbeiro.

Cumprimentaram-se e abraçaram-se:

— Êta mundo pequeno, hein¿

— Mas rapaz, há quanto tempo!!!!

Eles dividiram o aluguel em Rio do Braço de um ponto comercial.

Enquanto ele fazia os ternos na parte mais ao fundo, Benedito Barbeiro ficava contando histórias, fofocava e tirava pilhérias com seus clientes da Barbearia Banza, na parte mais à frente. Benedito falava tudo errado. Era muito ruim o seu português. Ele tinha um filho em São Paulo apelidado de Toddy. Um dia, resolveu ver o filho. Pegou o ônibus

e partiu da Bahia para a megalópole. Uma semana depois, voltou falando paulista, todo invocado, relatando tudo que viu lá na maior cidade da América Latina.

— O que mais você gostou de lá, Benedito¿

— Ah! – respondeu – Cada um predião! Cada um predião! Predião grande! Grandão mermo! Arto, muntho arto! Butaro inté lá in riba, um nome grandão pra todo mundo vê: perguntei a um camarada ao lado que nome era aquele lá em riba e me dissero: Edifice Vitóra! Olha, cumpade, é difice mermo! Né face fazê um negóço daquele não! É difice! É difice! Uma vitóra mermo um negóço daquele!

— Como você fez pra chegar na casa de Toddy!

— Oxente, foi facin facin! Quando sartei na rodoviara, fui logo pegano um taco e fui pra casa de Toddy!

— Um taco¿

— Sim, home! Nunca viu não? Quando a gente sarta do

Ombus na rodoviara, já vem um bucado de home perguntano pra onde nós vai. Eu disse que ia pra casa de Toddy! Eles que conhece a cidade num sabia, imagina eu! Me perguntaro onde era a casa de Toddy. Eu só mostrei um papé qui dizia onde ele tava e me levaro lá. No camin, era carro como a peste, viu¿ Passano pro riba dumas ponte sem rio, ôtos carro passava por baxo, pelas filera de seis lado... Pense numa correria! Correria grande! Carro de toda cor. Só num gostei pro mode que foi muntho puxado, o valô, mas Toddy pagô tudo quando cheguei lá na casa dele. O cara me levô num Fuisca Branco cum uma rádia dento e fumo uvino som inté lá. Era longe como a mulésta!

— Ah! Não era um táxi, não, Benedito¿

— Intonce! Eu num disse qui era um taco¿ Foi isso

mermo!

— Ô Benedito! Vou fazer uma aposta contigo... Se você falar uma única palavra certa, ganha dez cruzeiros, viu? Só tem uma chance!

— Cuma? - Respondeu.

— Já perdeu! - Disse o desafiante.

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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "A Viagem de Cristal" de Osman Matos, publicado em 2017 pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso.