ORA BOLAS
Primeiro dia de aula, sem aulas. Henrique, todo faceiro, levava à tiracolo sua mochila mais nova. Um teste apenas, avisou, sorridente, a professora da escolinha uns dias antes.
Ao sair de casa, apressamos os passos para não perder o badalar da sineta. E, com mais de meia hora de antecedência, estávamos lá. Ele, muito nervoso, apertava minha mão como se aquilo o fizesse acalmar. Qual nada! Mexia-se e remexia-se num e noutro pé.
— Calma filho, é só um testezinho para a professora saber o que sabes.
Nada convencido, Henrique sorriu amarelo.
— Não sei nada! - Disse ele, enfático.
— Por isso estás aqui, mocinho. - Respondi carinhosa.
—É... - Falou cabisbaixo.
Foi quando, ao longe, ouvimos seu nome. A professora acenou de uma das portas, entre tantas. Rumamos ao seu encontro. Eu, orgulhosa levando pela mão, doída, um menino por demais sério.
— Seja bem vindo! - Falou Luisa, a professora, com voz meiga - Sente-se ali enquanto sua mãe e eu conversamos.
Dito e feito, mas não sem efeito! O suspiro dado foi longo! Conversa vai conversa vem, chegou à hora do teste. Luisa lhe falou.
— Henrique, vou dizer bem devagar algumas palavrinhas e gostaria que as escrevesse no caderno. Tudo bem? - Ele, muito tímido, concordou com a cabeça.
— Bola.
Curiosa, espichei o olho, estava escrito “nola”
— Cama.
Henrique escreveu: “kaman”
— Mamãe.
E Henrique: "maman".
E por aí foi, até ele ouvir a palavra “pipoca”. Pensativo parou, e escreveu ligeirinho em letras garrafais: “PUTA”
Li sem acreditar. Engoli a seco algumas perguntas. Luisa escondeu, no canto da sua boca, um sorriso. Fim do teste!
Ao chegar em casa, perguntei como quem não quer nada: -" Filho, como soubeste escrever pipoca?" Ele me respondeu sem volteios.
— Ora, foi o que a vovó leu ao ver o muro rabiscado da vizinha.