ERRADOS NO MOMENTO CERTO...

O ERRADO, NO MOMENTO CERTO...

Eu levava meu marido para sua terapia no Hospital das Clínicas, para seu tratamento de Demência de Alzheimer.

Tínhamos de estar lá às 9:00 da manhã.

Para pegarmos o Metrô no Sacomã precisávamos “encarar” o ônibus Terminal Sacomã que vinha lotado àquela hora da manhã, e íamos literalmente dependurados nos primeiros degraus da frente, como salames no fumeiro, o que para ele era, além de desconfortável, muito perigoso..

Resolvi irmos de carro até o Sacomã, assim evitaríamos o ônibus e poderíamos sair um pouco mais tarde de casa.

Como terça-feira era o dia do meu rodízio, decidi ir com o carro de nosso filho, que ia para o trabalho de fretado.

Abri os portões, entramos no carro, girei a chave no contato e nenhum sinal... ele havia usado o carro no domingo à noite e tudo estava bem. Tinha gasolina. Só não tinha era a danada da partida.

Imediatamente saí do carro, fechei os portões sob os olhares espantados de meu marido, e subimos a rua quase correndo, enquanto tentava fazê-lo compreender o porque de tamanha mudança no meu comportamento; o que não adiantou muito, pois ele, não entendeu nadica de nada....

Pegamos o primeiro ônibus que passou e descemos correndo da Rua Vergueiro até a Estação Metrô Alto do Ipiranga. Entramos na estação, passei o vale transporte e fiz com que meu marido passasse primeiro pela catraca. Quando fui passar, a catraca travou e apareceu uma mensagem de "bloqueio temporário" do meu cartão...

A Atendente veio, ver o que acontecia e constatou que meu cartão estava com 75 centavos de créditos... Deixei meu marido sob os cuidados dela e fui correndo carregar o cartão.

Acabamos chegando 10 minutos atrasados no HC, mas tudo bem.

Embora eu estivesse um tanto quanto irritada com os percalços daquela manhã.

Cheguei a comentar com algumas pessoas na terapia, e todas acharam que realmente tem dia em que a gente "enfia o pé no penico logo cedo" e não entende o porque de tantas dificuldades.

Ao final do curso, nós costumávamos sair rapidamente para evitar o metrô muito cheio etc e tal, mas como meu marido havia feito aniversário no domingo, levei um bolinho para cantarmos parabéns no final da sessão, o que significou uma demora maior na nossa saída.

Subimos do HC até a estação Clínicas conversando com um pessoa nova no grupo, e demoramos ainda mais...

Ao chegarmos à Plataforma do Metrô, vi uma senhora, paciente de outro grupo de terapia do HC, que tinha como seu cuidador um filho, de 45 anos, com um leve déficit mental que o fazia agir como um menino de 12/13 anos de idade: SEM RESPONSABILIDADE NENHUMA!

Quando me aproximei, por trás dela, acho que o seu anjo da guarda estava tão desesperado, que ao ver o meu anjo se aproximando "catou" a cabeça da senhora e fez com que ela olhasse para trás. Ela me disse como se estivéssemos juntas:.

- " Que calor! A gente fica tão cansada, né?" -

Perguntei onde estava o seu filho e ela disse que ele a estava esperando "lá em cima"...

Quando a composição chegou,seu filho não havia chegado. Ela disse que "ele iria perder o trem" e tentou entrar no vagão sozinha.

A peguei pelo braço, impedindo que ela entrasse no vagão. e subimos novamente as escadas rolantes. Foi quando vi o filho dela, debruçado no balcão da farmácia da estação. O rapaz papeava tranquilamente com o pessoal da farmácia, como se estivesse sozinho no mundo.

O chamei e ele veio bem sossegado, dizendo ter se demorado na fila para comprar o bilhete, e que depois foi comprar um remédio...

E nem se preocupou ao saber que sua mãe quase entrou no trem sem a sua companhia...

AS COISAS ACONTECEM QUANDO TEM DE ACONTECER...'

Se o carro do nosso filho tivesse funcionado teríamos ido direto para as Clínicas de carro, e talvez tivéssemos saído rapidamente e jamais encontraríamos a senhora, também com Alzheimer, na Estação.

E nem quero pensar o que teria acontecido a aqueles dois: ela, demente e ele, inconsequente....

Mas o melhor foi quando chamei a Seguradora, que levou o carro de prancha até uma oficina do Seguro. Nosso filho, suspeitava de motor de arranque pifado, e ele já se contorcia em dores ao imaginar a despesa inesperada...

Depois de uma hora que haviam levado o carro, me ligaram da oficina dizendo que eu poderia retirá-lo, pois NÃO HAVIA DEFEITO ALGUM!!!

Deus escreve CERTO e a gente entende tudo Torto....