O "TRAZAZÁ" DE CÂNDIDO SATURNINO E AS MENTIRAS E VERDADES DE UM DIA DE FEIRA.

O "TRAZAZÁ" DE CÂNDIDO SATURNINO E AS MENTIRAS E VERDADES DE UM DIA DE FEIRA.

Manoel Belarmino

Nesta sexta feira, como sempre toda semana, estive na feira livre de Poço Redondo. E, como de costume, paro para ouvir dos vaqueiros, das pessoas mais velhas e dos agricultores, histórias das mais interessantes. Histórias de vaqueiros, de caçadores, de trabalhadores rurais, etc. Hoje ouvi histórias de Seu Dodô, de Cândido Gato, de Cândido Saturnino e de tantos outros sertanejos de Poço Redondo.

Essa história eu ouvi hoje, e foi contada por Afrânio, ali na frente do Bar de Fábio, na feira livre de Poço Redondo.

Ele contou que Cândido Saturnino, exímio vaqueiro, rastejador de gado brabo das terras e caatingas de Poço Redondo e contador de histórias, certa vez foi solicitado pelos vaqueiros da região para rastejar uma novilha braba. Daquelas novilhas que os melhores vaqueiros de Poço Redondo já haviam tentado pegar varias vezes e nunca conseguiam o intento.

Cândido ia na frente montado na sua égua prenhe, já prestes a parir, e os vaqueiros seguindo-o. Depois de andar por quase uma légua na caatinga, eis que ali está na sombra de uma quixabeira a novilha braba. Aí os vaqueiros em seus cavalos de gado botam atrás da novilha de caatinga adentro.

- "Trazazá, trazazá, trazazá"! Nada... A novilha sumiu no fechado de macambiras e cipó de leite daquela caatinga virgem dos carrascais de Poço Redondo,

Mais uma vez, os vaqueiros apelam para o rastejador Cândido Saturnino, que, de novo, vai à frente da vaqueirama, no rastro da novilha. E, depois de uma légua e meia, encontram novamente a novilha brava.

Aí os vaqueiros se poem a correr novamente:

-"Trazazá, trazazá, trazazá"! Nada novamente. A novilha some.

Cândido Saturnino cisma e diz:

- Desta vez eu vou pegar essa novilha montado na minha égua prenhe. Vocês são uns vaqueiros fracos.

E continua o rastejador novamente no rastro da novilha. Cândido Saturnino à frente montado na sua égua, e os vaqueiros seguindo o rastejador.

- Foi por aqui... Ela passou aqui. Virou ali...

Não demorou muito. Na sombra de um umbuzeiro , ali está a novilha braba que ninguém ainda havia pegado. Os vaqueiros saíram em disparada atrás da novilha. E Cândido Saturnino apertou as esposas nos vazios da sua eguinha prenhe.

E tome-lhe esporas! E tome-lhe gritos...!

A novilha em alta velocidade entre xique-xique, pau bom nome, caatingueiras... a caatinga estremecia! Daí a pouco os vaqueiros já não viam mais nada.

-"Trazazá, trazazá, trazazá"!

Sumiu a novilha, e sumiu Cândido Saturnino montado em sua eguinha prenhe. Aí os vaqueiros segue nos rastros da novilha. Vêem mato quebrado, macambiras arrancadas, troncos e galhos de bom nome estraçalhados...

Sem demorar muito, os vaqueiros encontram ali a novilha braba amarrada no tronco de um pau ferro, e Cândido Saturnino espantado, de olhos arregalados, estarrecido, olhando para a sua eguinha. O que teria acontecido ali com a eguinha? Algo estranho aconteceu. Um mistério. Não estava estendendo porque a eguinha estava com uma barriga enorme, prenhe, e agora estava ali, depois da carreira, de barriga mucha, seca, vazia, como se nunca tivesse prenhe. Um mistério estava ali acontecendo no meio daquela caatinga. Não demorou muito para ouvirem um relinchar de filhote de cavalo. Um potrinho chegava ali em disparada já procurando os peitos da égua para mamar.

A égua pariu durante a carreira; e o vaqueiro Cândido Saturnino não percebeu.

Esta é mais uma das mentiras e verdades que escuto em um dia de feira.

Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 12/03/2021
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