O MONSTRO DA POUSADA - FICÇÃO

Cabixi é uma cidade do interior do estado de Rondônia. Lugar pacato onde as pessoas vivem com paz e tranquilidade. Cortada pelo Rio Guaporé, apesar de ser um pequeno município, os turistas que a frequentam têm acesso fácil à internet e TV a cabo.

“O nome Cabixi é de origem indígena vindo da tribo Cabixi há muito tempo extinta. Essa tribo vivia às margens do rio Cabixi que hoje também recebe o seu nome. As pessoas históricas de mais importância da cidade foram o Chico Soldado e Darci Rech. Eles foram seus desbravadores. Chegaram à região com suas esposas e se instalaram às margens do rio Cabixi, assim considerados pela população como primeiros moradores de Cabixi; hoje uma escola municipal recebe o nome do Chico Soldado.

A cidade tem como principal evento a festa da FEJUCA (Festa Junina de Cabixi) que acontece sempre no mês de junho e festa junina da cidade. São três dias de festa onde o município recebe visitantes de toda a região.” (Wikipédia)

O número de turistas que procura o sul de Rondônia para passar férias vem aumentando. Muitos americanos têm o costume de se hospedarem às margens do Rio Guaporé, em Cabixi (RO). A tranquilidade do ambiente, o rio e as montanhas da região chamam a atenção de quem deseja tirar alguns dias de folga. Para atrair mais hóspedes, os donos de pousadas estão investindo pesado na infraestrutura das cabanas.

Leôncio, um senhor de aproximadamente sessenta anos de idade, vivia com sua família em uma das pousadas. Proprietário de uma delas. Era moreno, rosto bem definido, olhos profundos e arregalados. Tinha uma barba de cor ruiva da qual tratava com cuidado. As pessoas, ao se referirem a ele, sempre diziam. É um senhor muito educado, forte e com barba grande e ruiva, bem aparada. Com ele vivia a esposa, Madalena, seus três filhos, sendo uma moça já com 18 anos, Ana Luíza, e dois filhos gêmeos, Rafael e Daniel, ambos com 21 anos de idade. Todos trabalhavam na manutenção da pousada, juntamente com outros empregados contratados.

A história que vou contar se passa exatamente na pousada do senhor Leôncio. Pousada Canto do Sabiá. Numa tarde chuvosa do mês de janeiro, vindos do capital de São Paulo, hospedou em sua casa de descanso um casal de paulistanos: Maria Laura e Gustavo. Não tinham filhos. Ela, 47 anos e ele, 53.

Aparentemente calmos, fala mansa, teciam muitos elogios ao ambiente e à cidade. Disseram que precisavam descansar, já que em São Paulo, trabalhavam demasiadamente em um comércio de sua propriedade no ramo de tintas e ferragens. Aquele local escolhido resultou-se de uma pesquisa feita na internet. Queriam um lugar tranquilo, com muito verde, comida boa, cama macia e sossego. Sem contar a possibilidade de praticar a pesca, hobby preferido de Gustavo. Então estavam no lugar certo, afirmara o senhor Leôncio que deu um belo sorriso de satisfação, ao receber os viajantes. Havia outras pessoas hospedadas na pousada quando Maria Laura e Gustavo chegaram.

Após desembarcarem do veículo, por volta de três horas da tarde, uma belíssima Suv Mitsubishi, cor prata, muito novinha, foram retiradas as malas e toda a bagagem. Claro que não podiam faltar algumas varas para pescaria, como molinetes e equipamentos sofisticados para o esporte preferido. A chuva dera uma trégua quando chegaram. Pela fisionomia do casal, podia-se perceber que a alegria era muito grande. Gustavo contou ao dono da pousada que havia saído de São Paulo fazia quatro dias. No decorrer da viagem, hospedaram em lindas cidades no trajeto até ali chegarem. Reclamou um pouco de algumas estradas de terra por onde teve que passar, já que apresentavam muitos buracos e lama. Afinal, o mês de janeiro era época de muita chuva.

A aconchegante suíte, no segundo andar da casa, onde o casal deveria ficar, por uma semana, estava limpo e cheiroso. A cama, de tamanho grande, estava coberta por uma colcha maravilhosa em tom verde oliva. O odor se misturava ao perfume da floresta. Aquele cheirinho de mato e de flores fazia bem para quem ali se hospedava. Gustavo e a esposa ajeitaram as coisas no guarda-roupa, separaram um traje bem confortável. Após um banho refrescante, ficaram os dois na janela do quarto apreciando a paisagem exuberante. Passarinhos cantavam e, como já estava de tardinha, podia-se perceber que as aves já davam seus últimos pios antes de procurar seus ninhos para o repouso merecido.

De repente, ouviram o tilintar suave de um sino. Logo imaginaram. Era o horário do jantar. Por volta das 18 horas. O sol já começa a se esconder no horizonte, prenunciando um céu muito estrelado. A lua já se mostrava bonita e exuberante. Desceram as escadas e bem à frente, no final do corredor, num belíssimo salão, estava à disposição dos hóspedes um delicioso jantar. Uma música suave era tocada por um senhor de aparência indígena. Dedilhava uma harpa, com muita maestria. E não é que a fome era grande... A filha de Leôncio, Ana Luíza, muito bem vestida e sorridente, ajudava os pais na pousada. Com um lindo sorriso indicou a mesa para o casal paulistano. Não precisou dizer que a refeição era em forma de self-service, como nas grandes cidades. O que predominava era todo tipo de peixe. Principalmente assado. Colocados em travessas, em um majestoso fogão de lenha que se mantinha com fogo aceso, havia uma pequena inscrição com o nome de cada peixe. Além das diversas qualidades do animal das águas, servia-se carne saborosa de animais silvestres. O cheiro espetacular da carne assada inundava o ambiente.

Gustavo apreciava um bom vinho tinto. Pediu à mocinha uma garrafa de vinho português da melhor qualidade. Após saborear pequenas iscas de carne de javali, apreciaram alguns goles de vinho, levantaram-se da mesa em direção ao fogão, amplo, com variadas opções. E se serviram.

Foi uma belíssima refeição. Prazerosa e bem deliciosa. Não faltou também uma saborosa sobremesa predominando sorvetes de frutas silvestres. Além de pudins e doces de qualidades variadas, típicos da região.

Já se passava das dezenove horas. Naquela noite, havia aproximadamente umas vinte pessoas na pousada, contando entre adultos e crianças. À medida que acabavam de tomar a refeição, seguiam para a entrada da pousada, lugar amplo com sofás confortáveis. Gustavo e a esposa acabaram fazendo amizade com pessoas de outros estados, contando histórias e causos. Destaca-se que ficaram conhecendo duas senhoras já mais maduras, pernambucanas que moravam em Recife. Duas simpáticas senhoras, solteironas muito alegres e divertidas. Conversaram bastante.

O relógio marcava 23 horas quando as pessoas já procuravam seus aposentos. Para Maria Laura e Gustavo não era diferente. Fazendo planos para, no dia seguinte, fazer uma bela pescaria, o casal, após a troca de carícias e uma bela noite de amor, pegaram no sono.

A viagem do casal paulistano prometia ser muito boa.Tudo estava às mil maravilhas. Num sono pesado, descansando da viagem do dia anterior, que fora exaustiva, eis que algo muito esquisito acontece.

Da janela da suíte, podia-se avistar uma estradinha, a poucos metros. Não havia iluminação pública, a não ser a produzida pela claridade da lua e das estrelas. Gustavo acordou-se de repente e chamou a esposa que estava num profundo sono. O rosto lindo da esposa fez com que ele tivesse pena de acordá-la, mas não havia outro jeito. Um barulho esquisito aparecera e aumentava... aumentava... Que tipo de barulho era aquele? Parecia um bocejo com rouquidão. Em pé, ambos olhando pela janela, Gustavo e a esposa avistaram a poucos metros uma enorme criatura. Tinha o aspecto de um touro, com enormes chifres, mas andava de forma ereta apoiado pelas patas traseiras. Com um pelo bastante espesso, seu corpo parecia cheio de espinhos pontiagudos na parte superior, na coluna vertebral. Parecia pesar uns cinquenta quilos.

O focinho comprido se assemelhava ao de um enorme rato. Esquisito, muito esquisito. O pior de tudo é que seus olhos eram esbugalhados e vermelhos. Dava-se a impressão que havia fogo. Abria e fechava a boca a todo instante provocando um ruído muito estranho. Gustavo não compreendia por que os outros hóspedes não apareceram nas janelas para observar aquele bicho horroroso. Será que somente ele estaria vendo animal?

O monstro que aparecera de repente trouxe muito medo para o casal paulistano. Não era para menos. Gustavo, sem saber o que fazer, se chamava o dono da pousada ou se acordava os demais hóspedes do hotel, lembrou-se de que tinha trazido uma arma junto com a bagagem. Era um equipamento muito poderoso: uma Pistola Compacta 9 mm, modelo Sig Sauer P 365. Arma extremamente compacta que possui duas versões, ambas em 9 mm, disponíveis no mercado nacional. Não pensou duas vezes. Abriu devagarzinho uma das bandas da janela e apontou em direção ao bicho. Foi um tiro certeiro. O estranho animal caiu de bruços e seu corpo tremia e estrebuchava sem parar até que um derradeiro suspiro demonstrou que acabara de morrer. Claro que houve uma gritaria muito grande. Os hóspedes assustados saíram correndo de seus quartos e o senhor Leôncio, dono da pousada, também muito assustado, foi imediatamente saber o que havia acontecido.

Rapidamente, muito curiosos, os hóspedes juntamente com empregados e familiares do senhor Leôncio, foram em direção ao horroroso e desconhecido animal espichado na pequena rua quase escura. Todos queriam saber que bicho era aquele. Não era possível identificá-lo. Aquele monstro era inusitado e suas características e origem não podiam ser encontradas em nenhum livro ou site da internet. Já se passavam das três horas da madrugada quando tudo se acalmou. O dono da pousada pediu aos empregados que arrastassem o cadáver até a beira da estradinha e, no outro dia, decidiria o que fazer com ele.

As pessoas que estavam na pousada tiveram uma noite apavorante. Na verdade, a maioria deles não conseguiu mais dormir. No outro dia, durante o café da manhã o assunto era recorrente. Não se falava em outra coisa.

O senhor Leôncio, muito preocupado com a repercussão do acontecimento, teve uma ideia. Pedir a todos os hóspedes que não divulgassem o acontecido, pois, assim seria sua falência. Sorte dele que os hóspedes não fizeram fotos com seus celulares o que seria um desastre. Ninguém mais poria os pés naquele local por medo de que outro bicho aparecesse. Em seguida, reuniu alguns trabalhadores da casa e resolveram cremar o corpo do animal. Dessa forma não se deixaria nenhum vestígio e, caso fosse indagado por alguém, diria que se tratava apenas de um porco do mato e nada mais. E esse foi o melhor caminho encontrado para não sofrer maiores consequências.

Gustavo e Maria Laura não deram o assunto por encerrado, ou seja, aquele horripilante bicho não saía da cabeça deles. A sonhada pescaria não se realizou. No mesmo dia, juntando a bagagem e o material de pescaria, pediu ao senhor Leôncio que fechasse sua conta na pousada porque iriam embora. Não obstante o senhor Leôncio tenha tentado convencê-lo, o dois não deram crédito. Queriam mesmo sair dali. Resolveram buscar um hotel no centro da capital de Rondônia, em Porto Velho, e ficaram durante alguns dias passeando e participando de clubes de pescaria da região.

Enquanto isso, a notícia continuava repercutindo. As rádios locais, a TV e os jornais davam conta do aparecimento do estranho monstro. Indagado, o dono da pousada continuava negando tudo o que se falava. Não foi à toa que ele mandou incinerar o cadáver. Mesmo assim, a pousada sofreu um desgaste, diminuindo o número de pessoas que a procurava, embora não tenha havido outras aparições estranhas no local.

Após o passeio de dez a quinze dias pela região norte do Brasil, Gustavo e Maria Laura colocaram o pé na estrada e retornaram à sua rotineira vida de comerciantes na cidade de São Paulo. Claro que não seguravam a língua e contavam para os amigos e fregueses a esquisita experiência vivida.

BH - 06 de junho de 2021

OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 07/06/2021
Reeditado em 11/04/2024
Código do texto: T7273335
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