Capitulo 13: O comércio de rapadura, mel cabaú e cachaça na feira de Itabaiana Grande.


     Como foi citado logo no início destes relatos de causos, o Senhor Fontes eram um exímio comerciante e também se tornara ao longo dos anos um grande produtor rural, chegando a produzir na fazenda Olhos D’água diversos tipos de produtos.

     Assim, além da farinha de mandioca, ele produzia no engenho próprio a rapadura, o mel cabaú e uma espécie de aguardente artesanal ou cachaça. Todos produtos provenientes de um canavial extenso e fértil que o fazendeiro havia iniciado alguns anos antes à exemplo de alguns fazendeiros vizinhos.

     As feiras das cidades circunvizinhas e da própria cidade de Arauá, onde ele morava, eram insuficientes para fazer escoar toda a produção conseguida na fazenda. De modo que ele passou a fazer mensalmente uma viagem de negócios acompanhado por uma comitiva de três ou quatro homens de confiança para a cidade de Itabaiana Grande, na região agreste do Estado de Sergipe, onde havia e ainda há um comércio extenso e variado.
     Dentre os itens que levavam para negociar em Itabaiana estavam principalmente a rapadura em blocos de um quilo, o mel cabaú e alguns barris de cachaça artesanal.

     A viagem era longa e como eles sempre iam com animais e charretes demoravam cerca de 5 dias contando-se os dias de viagem de ida e volta e os dias de intensa atividade varejista.
     No retorno ele trazia outros produtos que comprava para revender no armazém do qual o genro tomava conta no povoado onde moravam. Entre os artigos que comprava para revender estavam: cereais, bolachas, charques, artigos de couro e apetrechos de fazenda para vender no armazém. Trazia tais itens nas mesmas carroças que, desse modo, iam e voltavam carregadas.
     Era uma viagem de negócios em via de mão dupla, ou seja, vendia o que produzia e comprava para revender o que não havia na região centro-sul. Sempre no final do mês o Senhor Fontes retomava esse processo de maneira que foi virando uma rotina.

     Uma das rotinas do Senhor fonte, diga-se de passagem. E devido a essa necessidade de viajar para fazer comércio regularmente e ao fato de precisar pousar naquela localidade comercial, ele acabou se interessando em adquirir uma nova propriedade naquele município.

     Propriedade esta que posteriormente passou a ser habitada pela família da sua filha do meio, a moça Zelita, e seus descendentes permanece assim até os dias atuais.

     Mas o que motivou a ida da família de Zelita para trabalhar no grande pólo comercial sergipano será explicado no próximo capítulo. Por hora se faz necessário apenas que tratemos do processo de produção, transporte e comercialização dos itens produzidos na fazenda quando o Senhor Fontes decidiu frequentar o comércio de Itabaiana.

     A região Centro-Sul e Sul do Estado de Sergipe foram palcos de grandes e promissores engenhos de Cana-de-açúcar e outros produtos derivados. Para essa atividade produtiva se dirigiam a maioria dos grandes proprietários de terra nos idos de 1900 e 1950. Estava em voga ainda produção açucareira no Brasil nesse período e a Fazenda Olhos D’água também introduziu no seu ciclo produtivo os derivados da cana, passando a fazer três dos seus produtos mais comuns: o açúcar mascavo, o mel cabaú e a cachaça destilada.

     Não era uma produção muito grande mas devido ao fato de que a maioria das fazendas da região também possuíam seus engenhos para processar a cana, os produtos produzidos eram demais para o consumo próprio e para as vendas nas cidades circunvizinhas. A maioria delas também produziam os mesmos produtos.

     Desse modo o comercio de Itabaiana foi uma nova possibilidade para o Senhor Fontes vender os seus produtos, mas também adquirir novos itens para o seu armazém. As carroças saiam carregadas da fazenda na madrugada da quinta-feira posto que a feira acontecia aos sábados no Centro de Itabaiana.

     O fazendeiro e seus homens sempre andavam armados e uma das razões para isso era o fato de precisar proteger as cargas e o dinheiro que sempre levavam e traziam do comércio. Itabaiana se distancia de Arauá por cerca de 120 quilômetros e viajar montados em animais e ainda por cima carregados com bagagens não era uma viagem rápida e nem muito fácil. Muitas vezes era necessário fazerem paradas de descanso no meio do nada. Locais perigosos com históricos de ataques de assaltantes.

     O retorno se dava na segunda-feira pela madrugada, a comitiva de homens, cavalos e mulas partiam de volta para a Região Sul e como vinham cansados a viagem era ainda mais lenta e perigosa.
E essa era a rotina mensal do fazendeiro  com o seu ciclo comercial e principalmente de produtor rural. Era necessário saber trabalhar com as condições que se tem para fazê-lo. E o Senhor Fontes era um hoemem de negócios com tudo de positivo e negativo que essa condição lhe atinha.
       Itabaiana Grande era o pólo comercial mais cobiçado da atividade varejista. Ter coragem para enfrentar a jornada penosa até aquela localidade para vender e comprar produtos perecíveis demandava muita coragem e determinação. Coisa que poucas pessoas têm e isso desperta inveja e cobiça. 
     Afinal, um homem como o Senhor Fontes não tinha só amigos do bem. E há sempre uma sombra rondando as pessoas que não esperam pela sorte.

Continua...
Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 05/10/2021
Reeditado em 06/10/2021
Código do texto: T7357441
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