AMANSADOR DE BURRO BRABO

Nazário, filho de dona Belinha, trabalhou na fazenda de nhô Mané Aristides desde que nasceu até o dia em que o velho entregou o couro às varas. Os herdeiros, abandonaram a fazenda ao Deus dará e em menos de um ano depois da morte do velho, a fazenda foi vendida para um pessoal que resolveu acabar com a criação de gado para se dedicar ao plantio de palma forrageira, que não dá trabalho e tem mercado garantido o ano todo.

Nazário é também conhecido por Nazário da burra, porque no trato com o gado do antigo patrão todo serviço era feito no lombo de Capivara, a burra que ele criou desde pequena e que só faltava falar. Quando a fazenda foi vendida, Nazário implorou aos filhos do nhô Mané Aristides para ficar com a burra, mas a fazenda tinha sido vendida de porteira fechada e ele teve que se separar do seu animal de estimação, quase uma irmã.

Nazário, só no meio do mundo, vivia pela cidade procurando fazer um biscate qualquer para ter dinheiro para comer. Com o pouco estudo além da aparência desagradável, ninguém queria ter um empregado com a cor da pele parda desbotada, quase amarelo sujo, roupa surrada, cabelo ralo tentando fugir por baixo do chapéu de couro, botinas velhas com evidentes restos de curral e a faca peixeira atravessada nas costas presa no cós da calça.

Num dia de feira estava Nazário encostado na cerca do curral das vacas que seriam vendidas quando os conhecidos, acompanhados de dois homens que, com toda certeza, não eram dali, chegaram perto e disseram, apontando para ele:

- Taquí o amansador de burro que o senhor precisa. Não tem ninguém na redondeza mais capaz do que ele.

Não adiantaram as tentativas de explicar que o que Capivara fazia era porque ela era muito inteligente, que ele não tinha amansado nada...

- Lhe dou duzentos mil réis...

Diante dessa fortuna, para quem estava na pior, Nazário cedeu. Bicho brabo que nunca tinha sido montado, enquanto contido pelo brete, foi fácil colocar a brida dentro da boca e o freio logo acima das narinas, a cilha por baixo da barriga e o sedém por baixo do rabo para conter a cela, mas quando a porta do brete foi aberta o burro disparou na carreira que parecia que estava com o satanás no couro. Pulou, corcoveou, deu coices no ar, arrastou-se pela cerca de arame farpado, rasgando a calça e a perna de Nazário que terminou caindo com a cara no lamaçal.

Nazário puxou a faca e veio esbravejando para junto da turma que estava apreciando o espetáculo:

- Apareça o feladaputa que disse que eu sou amansador de burro brabo?