PEQUENA HISTÓRIA DE UM MENINO TRAVESSO

Certa vez, no passado, a mãe de um menino travesso, ao sair de manhã cedo para lavar roupa no rio Guaribas, rio que banha a minha cidade e região, pediu para que o mesmo prestasse muita atenção e cuidasse da pequena ninhada de pintos de uma galinha que acabaram de nascer, pois ali nas proximidades daquelas serras e morros onde moravam, existiam muitos gaviões e carcarás; aves predadoras muito comuns nos campos do sertão. A mãe avisou também para seu filho atiçar o fogo do fogão a lenha, e, na medida do possível, pôr água na panela, e, ainda, que não deixasse queimar o feijão. O arroz e a carne do almoço ela prepararia ao voltar do rio que passava a cerca de três quilômetros de sua casa. Aliás, aquela incumbência parecia mais uma forma de castigo para com aquele menino impulsivo, cujo pai, desde o alvorecer, estava campeando nas chapadas distantes, da região.

Acontece que naturalmente naquela idade juvenil, jovial, aquele menino queria brincar, e, portanto, arquitetou um engraçado e inusitado plano: na tentativa infrutífera de salvar os filhotes de galináceo da possível captura que podiam empreender as aves de rapina, amarrou-os todos juntos pelos pés, ajoujados num barbante de caroá. E por precaução, também colocou bastante água e lenha para cozinhar o feijão que estava na panela já fumegando sobre as trempes do fogão.

Na verdade, o pior viria acontecer, pois no descuido do menino, que brincava com alguns amigos não muito longe dali, um gavião grande, faminto, capturou todos os pintos jungidos e num voo relativamente baixo por sobre as matas e os campos do lugar (talvez em virtude do peso), carregou-os de uma só vez em suas garras fortes e pontiagudas. Enquanto, aflito e em vão, o pobre menino solitário saiu correndo em perseguição àquela imponente ave, que alçou voo e pousou com suas presas num alto e íngreme talhado de uma grande serra ali das imediações, e desapareceu por entre as colossais e elevadas rochas. Provavelmente ali naqueles altos e compactos rochedos, um lugar de difícil acesso, ficasse localizado o ninho daquela exterminadora ave de rapina.

Ao retornar para sua casa, aquele garoto, desesperado, percebeu que infelizmente também o feijão já havia queimado. Tudo isso inevitavelmente resultaria numa surra de chinelo ou de corda, que mais tarde levaria de sua mãe; mais ou menos depois do meio-dia, quando, cansada, ela então chegasse do rio com as roupas lavadas.

Mas, na verdade, aquele menino conseguiu fugir da perseguição e fúria momentânea de sua mãe, retornando pra sua casa muitas horas depois, quando ela, sua mãe, então, já estava de cabeça fria. E, assim, o garoto, esperto, conseguiu escapar e se livrar de uma surra...

Conta-se, entretanto, que sua mãe o pegou, mas ele conseguira fugir e correr, principalmente porque tinha muito medo de abelhas; e naquele momento havia um enxame ali por perto, no terreiro, bem acima de sua cabeça, onde estava preso às mãos e os joelhos de sua enraivecida mãe.

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 10/06/2022
Reeditado em 22/01/2024
Código do texto: T7535101
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