Quem matou Julião?

Pensa num rapaz garboso, um sujeito boa pinta, uma lábia poética que pintava sem tinta. Esse era Julião. Seu nome de batismo era Juliano, mas por seu porte grande, mãos cheias calo, cabelos cheio de gel, grosseiro com os homens, gentil com as mulheres, puseram-lhe o apelido Julião.

Julião de dia cortava na roça e de noite no balcão.

O sujeito era trabalhador, peão do mato. Para os homens não tinha pudor, para as mulheres era só recato, um recato que se misturava com uma saudação de respeito e um olhar que flertava.

Assim viveu Julião lá para as bandas de Gabiarra.

Julião era um sedutor nato, tinha o dom da conquista, na cidade e no mato. Namorava as mocinhas, não desprezava as mais experientes, era danado o Julião bastando passar uma mulher na frente.

O Julião, no entanto, pecou por sua fraqueza foi se apaixonar por uma moça da redondeza. Não era qualquer moça, era a filha do capitão, filha única, sua princesa, a corda do seu coração.

A jovem também apaixonou-se quando viu o tal peão. Tiveram um envolvimento com juras de amor eterno, dizia ele que por ela, poria aliança e terno. Porém, um dia ele viu a esposa do fazendeiro e o velho Julião despertou-se por inteiro. Voltou à vida antiga e se meteu num lamaceiro:

De um lado a filha do capitão, do outro, a esposa do fazendeiro.

Com sua ficha corrida, escrevendo a própria sina, foi Julião curtir um forró numa noite de festa junina.

Forroseou a noite inteira com as damas da palhoça, depois de muito licor, pegou o caminho da roça.

Um frio de congelar, naqueles caminhos de vales encharcados, a névoa era tanta que não se via nem o próprio lado. Naqueles dias, soltaram tantos fogos como nunca haviam soltado. Porém, Julião voltou pra casa, pois já estava cansado.

No dia seguinte, acharam o moço, espichado lá no mato, sem vida, largado no chão. Em meio à queima de fogos mataram o Julião.

A névoa cobrindo tudo não deixava percepção, ficaram sendo suspeitos o fazendeiro e o capitão, mas quem iria mexer com os poderosos da região?

Muitos homens celebraram, brindando em pé de balcão e muitas mulheres choraram a morte de Julião.