Pensão

Almeida era um homem de sucesso, tinha um ótimo emprego, diretor de uma multinacional de tabaco.

Tinha família, esposa e um casal de filhos pós adolecentes.

Para a vizinhança e os amigos o Almeida tinha uma vida de causar inveja, não faltava dinheiro, freqüentava os melhores lugares, viajava as pampas.

Mas uma coisa é a nossa visão, o que enxergamos, outra é a realidade da própria pessoa.

Na verdade o Almeida, fumava dois maços de cigarro por dia, estava uns 20 quilos acima do peso ideal, se irritava facilmente, e ainda tinha que agüentar a Malu, Maria de Lourdes, na pia batismal, além de dois filhos, que a única alegria que davam, eram quando estavam dormindo.

Malu, não tinha a menor intimidade com ganhar, só conjugava o verbo gastar, e conjugava de maneira composta, ou seja: “gastar muito”.

Os trinta anos do casamento já traziam a ela os pesos da idade somados as agruras da lei da gravidade, estava por assim dizer, na fase, do despenca tudo.

Os peitos já não suportavam seus próprios pesos, o cabelo com uma única cor a poder de tinta, as barrigas em número de três superpostas, indicavam que poderiam ser logo quatro.

O terror das mulheres, estrias e celulite, ali conviviam harmoniosamente em numerosa família, cada dia aparecia mais uma.

O peso de toda essas carnes, de segunda, já faziam arquear as pernas, sempre suportadas por finos e altos saltos.

Qualquer vestido que colocava, ou lhe mostravam os defeitos, ou pareciam cortinas enroladas no corpanzil.

Não fosse o horror a injeção e sangue, talvez até topasse uma cirurgia, reparadora, que imagino tivesse que ser feita em no mínimo 5 sessões.

Mas a soberba não cedia, e toma gastar em salões de beleza, como se esperasse, fossem salas de milagres.

Na saída desses lugares a alto estima subia, mediante o fingimento das bichas maquiadoras e cabelereiras.

Em casa o espelho quebrava o encanto, e toma chocolate, e toma compras, os dois melhores amigos da mulher insatisfeita.

Não resta dizer que sempre sobrava para o Almeida, que de volta à casa, louco para o merecido descanso, sobravam reclamações sobre os comentários e juras amorosas que não vinham mais, e para compensar tinha os programas quase diários de teatros e restaurantes caros.

Além de ter de aturar aquela inútil, haviam os compromissos maritais, cumpridos a custa de muita concentração e imaginação, além é claro de recorrer a ajuda dos viagras de plantão.

Os filhos, só deram alegria ao nascer...dali para frente, por interferência materna ou pelo coquetel de gens, foi um verdadeiro desastre.

Paulinho, só sabia de Rock e Surf, o resto era supérfluo, inclusive a escola.

A duras penas e a poder de alguma grana, pelo menos comprou o diploma do supletivo, agora estava as voltas com a faculdade, ora Educação Física, ora Direito, e ora Artes Cênicas.

Mal de iniciativa e pior de acabativa, diria o velho guerreiro.

Zelinha, era muito dada, já experimentara quase todos os colegas e amigos, só conjugava o verbo “ficar”, em algumas festas ficava com vários, foi apelidada de pizza gigante, dava até para oito.

Era só uma questão de tempo, a qualquer momento apareceria com um netinho para o Almeida, seguramente sem saber quem era o pai.

E neste mar de rosas, vivia o nosso amigo, entre um susto e outro.

Até que um dia, o Almeida através do seu advogado mandou um recado escrito a Malu.

-Todos os nossos bens agora são seus, o apartamento , a casa de praia, os imóveis de renda, tudo em uso e frutos até a sua morte.

Saldo bancário em aplicações de longo prazo, pode sacar os rendimentos , não o capital.

Nosso advogado vai tratar da separação e já tem a minha procuração.

Eu vou embora com a roupa do corpo e o acerto da empresa, vou recomeçar vida nova.

O que deixo a vocês é suficiente para viver bem até o fim....fui.

E o Almeida sumiu...

Malu e os filhos, ficaram entre revoltados e aliviados, afinal o Almeida também já estava um saco.

Um ano e meio se passou,sem que nenhuma noticia chegasse do Almeida cujo primeiro nome era Paulo.

Um casal amigo da família, em viagem ao sul da Bahia, resolveu conhecer um novo povoado de pescadores e lá para o espanto avistaram o Almeida, que no local era conhecido por simplesmente Paulo.

Chegando mais perto a fim de ter certeza da descoberta, o viram mais magro, agora próximo do peso ideal, com uma barba branca e pele bronzeada.

Surpresa dupla, para o casal e para o agora Paulo Pescador.

Com sua chegada e seu conhecimento de planejamento e administração em pouco tempo conquistou os moradores locais e rapidamente se fez líder da comunidade local.

No começo em uma modesta casinha de barro coberta de folhas de palmeira foi morar, tendo como serviçal uma menina de uns 20 anos, que começou com cozinheira, e hoje é de cama , mesa e banho,repartindo o mesmo leito.

-Parei de fumar, hoje vivo da pesca e comercialização dos pescados da turma. Nunca mais, um terno ou uma gravata, sapatos? Não os tenho, só sandálias.

Durmo a noite toda, e estou dando trabalho a Wandinha, essa minha afro descendente cheirosa e novinha.

O casal prometendo guardar segredo da descoberta voltou a São Paulo, agora ainda com mais inveja do nosso querido Almeida.

Ele era livre, não tinha problemas a resolver, que não fosse comer e dormir, desta feita melhor acompanhado.

Com o passar do tempo, o comichão apertou e foram avisar a Malu do acontecido.

Mesmo passado já algum tempo, o orgulho ferido falou mais alto e a Malu, recorreu a um advogado para cobrar na justiça uma pensão do marido fujão.

Claro que julgado a revelia, o Almeida foi condenado a pagar uma pensão a sua ex de 30% dos seus rendimentos mensais.

Procurado e informado pela justiça, ou paga ou cana...

Vencido o primeiro mês , a Malu foi ao juiz receber a tal pensão, chegando lá ficou espantada já que foi informada que a quantia havia chegado a uns dois dias, e seu conteúdo estava em uma caixa de bom tamanho.

Na presença do meritíssimo, foi aberto o pacote.

Depois de desenbrulhar vários papeis e até um saco de plástico o conteúdo espalhava uma quantidade de odores fétidos, de um grande peixe em decomposição.

Um bilhete acompanhava a encomenda com os seguintes dizeres:

Meritíssimo, resolvi enviar um terço de minhas conquistas deste mês, em espécime, talvez por ai, consigam um preço melhor que nos atravessadores daqui.

Até o mês que vem....

Depois desta o Almeida e a Wandinha jamais foram vistos!!!

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 27/11/2007
Código do texto: T755078