A Resposta É Sua

O caro leitor pode responder se em todos os casos onde existe renuncia e amor, existe perdão? O amor é capaz de perdoar tudo com sinceridade? Vamos apresentar um causo:

A “Química”.

Eles se conheceram na adolescência. Desde o primeiro momento, ouviram aquele “estalo” que se ouve quando encontramos alguém cujo a energia bate imediatamente com a nossa. “Química”, diriam os mais românticos.

A sincronicidade entre os dois era quase mágica, pareciam que escutavam o pensamento um do outro apenas ao se olharem. Havia uma cumplicidade fora de série, um cuidado e carinho que ultrapassavam as barreiras do normal.

Casaram-se. Nem a rotina, tampouco a agitação da vida moderna era capaz de arrancar-lhes a chama da paixão. Era como se os anos não passassem. O nascimento de uma criança adocicou mais a vida deles. Porém, nem tudo pode ser flores e ainda que seja, podemos encontrar espinhos. A criança nascera com uma doença rara, cujo tratamento era absurdamente caro e exigiria viagens para fora do país. A cura só podia vir de um tratamento complexo realizado por médicos e remédios de última geração.

O amor deles foi testado.

O Desespero

Fizeram contas e mais contas. Mesmo vendendo a casa, o carro e tudo que tinham de valor, ainda assim, não conseguiriam dinheiro para o tratamento da criança. Ele, já começara a se desesperar, pensou em assaltar um banco. Ela, sempre doce e calma, só pedia para que ele não se desesperasse. Deus deve ter um plano e tudo se resolverá - dizia.

A proposta indecorosa

Fizeram campanhas para arrecadar fundos e até para a TV foram, na esperança de que a solidariedade alheia os abraçasse. Por mais que recebessem doações, ainda assim, não eram suficientes.

Quando um homem milionário e entediado os procurou com uma proposta de arregalar os olhos, sentiram um misto de alegria e... Nojo. (É possível sentir as duas coisas ao mesmo tempo, leitor?)

A proposta era a seguinte: Uma noite com a mulher e todo tratamento da criança estaria pago. Apenas uma noite;

Ele logo descartou a possibilidade. Onde já se viu isso? E sua bela esposa também não aceitaria.

Pediram um tempo para pensar no assunto. Ela ainda não havia dito uma palavra a respeito. Será que aceitaria?

- O tempo está passando e junto com ele a saúde da nossa criança – Dizia ela com olhos marejados.

- Sim, não podemos lutar contra o tempo e uma decisão ruim pode custar a vida da nossa criança! – Pensava, enquanto tentava engolir seu orgulho.

- Somos capazes de passar por isso como adultos desconstruídos e evoluídos? Indagava ela com o coração na mão.

- Talvez não seja tão ruim assim... Salvaremos a vida de nossa criança. Dizia cabisbaixo enquanto buscava uma resposta dela, se ela falasse NÃO, a culpa não seria dele, afinal, não poderia obrigá-la a passar a noite com outro homem! Sim, esta culpa ele não carregaria – Pensava consigo mesmo.

- Uma noite por uma vida. O seu amor por mim, por nós é suficiente?

Ele olhou para ela com surpresa. Lembrou do rosto pálido da criança em seu leito, totalmente inerte.

-SIM! O meu amor é suficiente!

O olhar

Um ano depois, e comemoravam o aniversario da vida criança. Não do nascimento, mas do renascimento, pois graças ao tratamento fora do país, a criança estava viva e alegre.

As luzes se apagaram e começaram a cantar “Parabéns para você”.

Ela segurava a criança no colo e cantava também, com um sorriso digno de qualquer mãe abençoada por ter sua cria com saúde.

Quando as luzes se acenderam, o seu sorriso foi logo ofuscado pelo olhar de fuzilamento dele.

Lá estava ele, parado a fitar-lhe cada detalhe de seu rosto. Não era um olhar qualquer, não era de aprovação, de alegria. Era estranhamente um olhar penetrante, que gritava.

Nunca trocaram uma palavra depois que ela salvou a vida criança. Nunca conversaram, se acusaram ou pensaram em divorcio. Passou a entender que seu ônus por ter salvado a vida da criança, era encarar aquele olhar quase maligno dele a cada festa, ou comemoração de aniversario, a cada ano que a criança crescia.

Uma noite, ela acordou de madrugada, e lá estava ele, em pé, a olhar para ela dormindo. Com aquele olhar...

Tentou falar com ele a respeito. Ele simplesmente mudava as feições e tacava-lhe aquele maldito olhar, como quem diz: não ouse falar disso!

Ela recuava. É meu ônus! É meu ônus... Meu carma.

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A pergunta ainda ecoa, caro leitor: O amor tudo perdoa? Tudo esquece? Que tipo de semente o seu coração pode germinar diante de questões vitais em que seu amor seja testado?