A INTERVENÇÃO DO D.CALÚ

Esta é uma obra de ficção e os aspectos apresentados são mera coincidência.

A INTERVENÇÃO DO D.CALÚ

Os questionamentos não paravam e Quevara já estava gostando da refrega. Na saída para o bar, onde se refrescaria e onde havia um grupo lhe esperando, Quevara viu , de longe , o vulto do D.Calú chegando.

- Ih, lá vem o Sócrates depois da chuva.

- Meu amigo Quevara, já estou sentindo o clima da sua palestra e vim prestar a minha humilde colaboração, se precisares, é claro.

- Sim, D. Calú, agradeço-lhe e vamos para a sala novamente enfrentar essa turma, pois a coisa parece não ficar boa para o meu lado.

0 Presidente abriu novamente a sessão, desculpou-se da confusão e lembrou da característica afável e respeitosa que sempre esteve presente nas apresentações, fosse quem fosse. Ânimos serenados, lembrou também, que em assuntos de psiquiatria nada deveria ser desconsiderado, pois o paciente e sua cura, como objetivo primordial, deveriam ser o farol de todo profissional da área de saúde. Aliás, não é só nesta área que o doente deveria ser tratado como elemento primordial.

Quevara , recebe a primeira pergunta da noite:

Um cidadão se levanta e solicita informações sobre o que quer dizer com A falta de um potencial referencial ético universal cria um outro potencial psicopático social-esquizofrênico no indivíduo fanatizado, que o faz sentir-se ungido pelos deuses ideológicos, investindo contra tudo e todos que se opõem ao seu caminho histórico de modificar a humanidade com um ódio sem precedentes e o que tem a ver a pseudoviolência revolucionária com o estado neuro-psicótico daquele que se classifica como doente?

- Bem, Sr. Anacleto Xispedes (assim estava escrito na pergunta), agradeço-lhe a pergunta e tentarei responder da melhor forma possível. Em primeiro lugar, quanto a pseudoviolência revolucionária e o estado neuro-psicótico daquele atingido pela Síndrome que identifiquei , digo-lhe que são irmãs siamesas. Injetar subliminarmente, com propósitos claramente definidos e mascarados, um ódio político, impessoal nos seus motivos, um ódio político que não pode surgir nem se desenvolver sem uma concomitante cisão esquizóide da consciência do escravizado. É indispensável a que um ser humano adulto aceite submeter-se seriamente à operação mágica de tentar suprimir valores universais abstratos, por meio da destruição de valores que, intrinsecamente, estavam no seu intelecto.

Não se tem nenhuma dúvida de que o objetivo intrínseco desse método é uma das causas da proliferação endêmica de atos de violência política que, quanto mais se afastam do ideal democrático, palavra que mais usam e deturpam, tanto mais se reproduzem por absoluta incapacidade de gerar qualquer outra coisa senão sua própria repetição compulsiva, parafraseando Olavo de Carvalho, necessitando reafirmação da sua vocação sociopática .

Contudo, mais uma vez repetirei o que pregava Che Guevara como um hino atual dos bestializados: o revolucionário deve constituir-se numa fria máquina de matar movida a ódio.

E o que estão fazendo com os alvos em potencial senão bestializá-los com essa frase?

O ódio revolucionário, injetado nas suas mentes como combustível necessário para alimentar a ambição dos deuses ideológicos, causa um desequilíbrio mental crítico e compulsivo e, com isso, gera um componente esquizofrênico através de uma ansiedade destrutiva ruminante. Os distúrbios do indivíduo fanatizado , ou inocente útil a esses pragmáticos professores, na verdade, e com absoluta certeza, sintomas da Pré- Síndrome do Mico da Caverna, exibem rastros de uma retórica e anátemas amorais bem típicos.

O processo inicia-se com a desarrumação do Ethos, mediante apresentação de conceitos e situações incisivas pelo tom convicto de destruição do valor universal a ser quebrado a partir de um linguajar caracteristicamente destrutivo e negativista. Deturpar e inverter tudo que se possa utilizar para substituir os conceitos contidos na mente do cidadão, ou grupo alvo, revela uma falta de escrúpulos deliberadamente impressionante. Expropriar-se da mente dos seus discípulos , portanto, é a primeira atividade de um processo de instigação da moral e violência revolucionária, dotando a mente dos “filiados” de um potencial de destruição ungido pelos seus deuses ideológicos.

Daí, vê-se a reação daqueles a tudo que se contrapõe. A violência revolucionária injetada e o ódio assimilado, como observei, gera indivíduos psicóticos de difícil contenção. Daí, também afirmo, que uma situação destas não é só perigosa para o indivíduo, como também, para a sociedade que o cerca , dados os valores que são nele injetados, pois já foi provado o estrago que o ódio provoca na mente do ser humano.

Resumindo, a Síndrome possui duas fases distintas: a primeira, na qual ocorre a captação, a modificação do pensamento e a imbecilização e que chamo de fase do Rocambole. A segunda, quando o imbecilizado se dá conta e inicia uma reação contra si mesmo e seus algozes, é a fase do Shakespeare.

A próxima pergunta era apócrifa. O autor não quis ir até o microfone e Quevara leu a indagação, que continha uma observação curta. Sem antes pensar - Tão a fim de me sacanear. Porque deixaram passar esta pergunta? Mas vai ter trôco!

Começou a ler o que estava escrito:

O Ethos deformado gera sentimentos de contemplação extrema pelo sofrimento alheio, como um sado-masoquismo ás avessas, onde a pena pelo próximo deixa de existir, pois são tratados como obstáculos ou meios para que suas idéias e princípios triunfem, como que justificando a maldade concebida.

O interlocutor anônimo ainda colocou uma observação: Quanta bobagem.

Ainda intrigado sobre quem seria a pessoa inquiridora , Quevara ia responder quando D.Calú foi até a mesa e apanhou o microfone.

- Senhores, estamos aqui nesta maravilhosa noitada para discutir assuntos apresentados pelo meu dileto amigo Quevara. Antes de me apresentar, digo-lhes que a ética e a moral são dois dos mais valiosos bens que herdamos. São valores transcendentais, únicos, atemporais, amoldados de geração em geração e que nos levam a uma vida repleta do mais precioso sentimento humano: a integridade. Muitas vezes quem se porta desta forma é tratado como um ser de outra galáxia. O respeito absoluto, e não da forma prosaica que o conhecemos, nos remete ás profundezas do amor, da caridade, da bondade. Quando se diz que se está respeitando uma pessoa, não é propriamente por ela ser assim ou assado. É o perfeito entendimento das leis divinas de que todos são bons, é a natureza, e merecem confiança e devem ser respeitados e tratados como seres de alto padrão e não como animais irracionais, descartáveis , ou simplesmente, como bichinhos de estimação.

Mas Quevara nos fala sobre o Ethos. Que coisa é isso, o Ethos, senão a manifestação mais natural da bondade que existe em cada ser humano? É o mais legítimo sentimento que nos move na direção do respeito humano. É ele que une a razão, a moral e a ética dentro do nosso cérebro como um bem que nos foi legado. É preciso destruí-lo, então. Assim raciocinam e agem, certos grupos de pessoas, como bem identificou o nosso amigo Quevara nos nossos pacientes doentes, mas bem sãos, para propalar seu ódio, em resquícios indeléveis deixados pelos doutrinadores. A nossa humanidade e a roda da história progridem em círculos ou de forma senoidal e volta e meia temos a influência de uma contracultura destruidora que arrasa tudo o que foi feito. A diferença dos nossos tempos é que temos a informação veloz, instantânea quase, livre, democrática, de fácil acesso a todos e por isso, passível de intromissão desses elementos de outra galáxia , ETs bolorentos e malcheirosos que papagueiam teses doutrinárias que não deram certo em lugar nenhum, a não ser onde o sistema policialesco impera, oprimindo o ser humano.

Onde querem chegar? Montar uma sociedade onde todos valores conhecidos foram extirpados e substituídos por outros que literalmente violam os princípios da ética e da moral. Para esse processo se faz necessário a composição de uma tropa de choque adestrada e integrada por animais bélicos, agressivos, fanáticos, bestializados. Onde recrutá-los? Justamente onde o Ethos pode ser desmontado. E por quem? Quem seria essa tropa de choque fanatizada que incutiria os valores necessários a mudança?

Quevara nos falou, nas premissas, se me recordo bem, da juventude imberbe da cabeça aos pés, que são os alvos preferenciais. Certamente, quem está em contato direto com esses, faz parte da tropa de choque fanática para transformá-los em verdadeiros zumbis ideológicos. Todos formados pela doutrina gramsciana, uma doutrina criada por um sóciopata, um bárbaro intelectual enjaulado que não tinha compromisso com a ética e moral históricas. Varrer esses valores espertamente e de forma higiênica, subliminarmente, sub-repticiamente, modificando tudo no subconsciente com palavras de linguagem dupla, instilando o ódio como fator de mudanças é o que se pretende. Seus seguidores fazem isso de forma competente, pois nada tem a perder. Os “multiplicadores” penetram fundo na consciência dos cidadãos e os acostumam a uma nova e irreal realidade- o seu mundo criado teoricamente e os preparam para uma nova sociedade, onde nada poderá ser contestado, perturbando completamente o indivíduo, chegando a protagonizar verdadeiras tragédias em nome daquilo que lhe foi introjetado. Um MATRIX horroroso e um mundo onde não haverá lugar para distinção entre a verdade e a mentira, como diria Gramsci. Ora, pasmem, um lugar onde a verdade e a mentira não se distinguem. Como pode isso? Jogar fora todo conhecimento dos sábios gregos e que nos deram a base de toda sapiência do bem e da verdade? Propõe-se abandonar todo conhecimento intelectual que buscasse conhecimento objetivo, e sim, adequar-se a um estado de luta social. Mas por que luta social? Porquê ainda, se a luta social nos remete á disputa política ideológica de uma luta de classes que destroçou o mundo e estraçalhou quem se iludiu na aventura marxista e foi jogada no ostracismo da história? Por que aceitar esse estado de coisas? Como pode o mundo moderno e avançado aceitar tamanha imbecilidade que nos remete ao obscurantismo da violência revolucionária? Mais ainda porque essa doutrina é facilmente aceita na sociedade intelectual brasileira? A resposta está nas premissas apresentadas pelo meu amigo Quevara onde nos diz que o Ethos quando incapaz de corrigir os rumos , no complexo sistema mental humano, pela violenta coação moral que sofre o indivíduo afetado, gera uma completa acomodação e inversão de valores morais, modo de raciocinar e integrar-se ao meio. E tal qual a reação do drogado ao ser flagrado por amigos ou pela família. Tudo é bom e magnífico.

A partir daí, pode-se entender toda a práxis dos submetidos a essa síndrome. Mentir, deturpar, violentar, desrespeitar, justificar o injustificável, inverter conceitos, amestrar seu povo, modificar fatos históricos e seu curso, tudo tem o mesmo peso: mentiras e verdades. A práxis dessa gente se constitue numa amoralidade ímpar. Desconfiar como Proudhom desconfiou do caráter de Marx em Bruxelas, pois sua ética e moral de resultados têm fundamento na destruição do Ethos dos imobilizados mentais. Não que sejam totalmente imobilizados, apenas seu cérebro trabalha com um lado impedindo a visualização do outro, das luzes fora da caverna. Que Platão, lá do seu descanso no Olimpo, os perdoe e nos proteja.

A platéia já parecia cansada com as palavras de D.Calú e dava sinais de impaciência. O orador deixa calmamente a mesa não se importando com o entendimento.

- Pelo adiantado da hora, vamos ao último questionamento.

- Grande Quevara: ainda não degluti direito suas observações anteriores, preciso alguns dias e posteriormente lhe questionarei a respeito. Guardo, reparos a algumas questões, mas o que me intriga, de imediato, e preocupa, é se tal captação de pessoas para esse fim não é de forma criminosa aos olhos da verdadeira liberdade quando se refere - A captação do indivíduo para a reformatação do Ethos deve ser feita quando os estados estáveis, sejam funcionais ou não, não estiverem definitivamente consolidados, e estando esse individuo, numa brecha histórica da formação de seu complexo sistema de personalidade ou esteja lhe faltando algo para completá-la?

- Já esperava sua pergunta, amigo Expedito. Com o Sr bem sabe, os estados estáveis da mente se organizam através de fantásticas redes de neurônios, criando, se é que se pode dizer, uma verdadeira rede privada de raciocinar, pensar, agir, sofrer, vibrar, aprendendo e se modificando com o tempo nas suas mais variadas mutações. O cerco aos neurônios que formam esta rede , que se forma em períodos distintos da vida humana, permite que , nesta evolução, ela seja atacada por valores oriundos dos estados não funcionais, numa dinâmica incontrolável, até modificá-lo completamente. Neste caso, o pathos , fruto de um novo inter-relacionamento e das flutuações patológicas entre ele e as funções não estáveis, gera um ser híbrido dominado pelas vertentes das funções dos estados disfuncionais.

Só o fato de não perceber que sua mente está literalmente sitiada, impedindo que o Ethos, na sua capacidade de lutar contra os valores ditados pelas funções disfuncionais, nos dá a idéia da gravidade da captação. Ao utilizarem argumentos que apelam para a razão, a sua razão para os fatos e sem admitir sem contestação, e mais a necessidade de assumí-los na luta para modificação da sociedade, aos poucos vão desmontando todo um sistema de biblioteca de valores intrínsecos e universais, impedindo a reorganização do Ethos. A inversão perversa de valores coloca lado a lado os malsucedidos por incompetência e os impregnados de má fé. Uma confusão esquizofrênica mental nociva é estimulada por um jogo de palavras dúbias criando outros padrões éticos úteis ao sistema imposto , e aí, o potencial psicopático aflora, porque, ao julgar-se acima da lei para impor seus desígnios, cria um grupo de mentes perversas que olham somente a sua razão, suas respostas, seu caminho, sua ética, através do decodificador em si inserido, em detrimento dos outros, que tratam como verdadeiros obstáculos ao seu sucesso. Cohen, com sua Probabilidade Psicológica como explicaria esta situação ?

Pode-se considerar como criminosa essa captação, sim, porque acontece em períodos de formação da parte mental mais importante do cérebro: a parte espiritual, que é o Ethos, essa entidade psicológica que liga a razão a moral e de importância fundamental no inter-relacionamento humano. É certo que um grupo é de inocentes imberbes e outro de pessoas já calejadas, mas sedentas de poder. O processo seletivo dos valores originado na atuação subterrânea do Ethos na mente humana, substituído por uma onda de estruturas dinâmicas e esquizofrenicamente carregadas de necessidade , na instância intra-consciente daqueles grupos, pode, memorialmente, dirigir o cidadão enfraquecido mentalmente a estados não confiáveis. Essa fragilidade de parâmetros introduzidos de forma violenta na mente de pessoas provoca a mutação e desintegração da personalidade adquirida.

Aí começa a Síndrome.

Estas foram as minhas observações. Espero que tenha atendido sua indagação.

Gracias!!Muito obrigado.

Estava terminada a apresentação

O presidente da Academia, no seu agradecimento formal, prometeu nova sessão de perguntas no dia seguinte. Certamente o debate prosseguiria.

João foi até a mesa e ajudou o parceiro a juntar a papelada e reorganizar a apresentação, de modo que os escritos ficassem bem a mão.

- Quevara, já arrumaste sarna prá te coçar pelo resto da vida. Agora vamos para o bar do Magrão comemorar.

Dali foram juntamente com D.Calú para o bar de costume. Aliviados, missão cumprida e agora viriam os questionamentos mais mordazes. Mas aí é outra história.

- Ah, bom.