Lenda Escolar

A sala era escura e isolada, ficava no andar de baixo, praticamente no porão da pequena escola. Lembro-me que esta sala estava sempre trancada e só alguns funcionários entravam de vez em quando para pegar algo velho lá dentro. Algumas dessas vezes deixaram a porta aberta e aí entrar na sala se tornava nossa grande aventura.

Era como se fosse um depósito lá dentro. Havia algumas cadeiras quebradas e/ou sujas e papéis velhos e outros objetos não mais utilizados também. Enquanto entrávamos na saletinha, as teias de aranha grudavam pelo nosso rosto. Era escuro e a única luz que iluminava era a do corredor lá fora. Mas o maior enigma do colégio era justamente o que havia dentro de um armário enferrujado dentro da sala. Ninguém tinha coragem de abri-lo, pois os mais velhos diziam que lá dentro morava uma velha.

Contavam que o armário não era apenas daquele tamanho. Havia uma passagem secreta lá atrás e era nessa passagem, nesse túnel pequeno que a velha vivia. E não era a velha em pessoa, era seu espírito.

"Em 1945 o servente estava só na escola limpando. Era uma noite de inverno, uma sexta feira e chovia muito forte. O servente resolveu tirar um cochilo para esperar o dilúvio passar sentado em uma cadeira ao lado da porta, assim poderia ouvir se a chuva parasse. Foram ouvidas três batidas fortes e destacadas na porta. O rapaz se levantou em um só susto. Olhou pela fechadura quem era e abriu a porta.

A velha entrou em passos grandes e começou a ameaçá-lo. Dizia que iria contar tudo se ele não o fizesse. O servente, de maneira fria, pegou a cadeira e bateu maneira a não ferir, mas acertou a região do bulbo da velha em cheio. Foi uma pancada na nuca que a fez cair na mesma hora.

O servente a pegou e jogou dentro do armário na salinha. Trancou a velha ali dentro. A chuva já tinha melhorado e ele resolveu ir embora. Saiu andando e duas ruas depois foi atropelado por um carro. A velha só foi descoberta seis dias depois. Tiraram seu corpo, mas seu espírito ficou para sempre lá dentro.

As duas únicas funcionárias que abriram o armário de 1945 até 1973 desapareceram misteriosamente."

Queríamos saber quem era o mais corajoso para abrir a porta. Fazíamos apostas e tudo mais, mas a coragem mesmo ninguém tinha. Ninguém. Até que um aluno novo chamado Cabral chegou na escola cheio de coragem para abrir.

“Não estão vendo que isso tudo é uma lenda?” – Dizia ele o tempo todo. Ele dizia que iria abrir numa sexta feira 13. E um belo dia o esperado dia chegou.

Um vigiava o pátio, o outro se encarregava de abrir a fechadura com uma ferramenta e mais dois curiosos, entre eles estava eu, acompanhavam o corajoso. Meu coração pulava muito e eu suava loucamente.

Aquele cheiro terrível começava a me deixar enjoado e ouvíamos um barulho de algo de mexendo lá dentro do armário. Cabral puxou as duas portas do móvel com toda força que pôde. O barulho foi quase de uma explosão. As portas se abriram de vez e imediatamente dois ratinhos saíram correndo pela salinha. E nós corremos mais ainda depois da imagem que vimos. Havia um crânio quebrado lá dentro e alguns pedaços de ossos em volta.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 11/12/2007
Código do texto: T773552
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