O Visitante

Conhecia seu poder. Sabia que podia o que queria. Construíra um império industrial dos mais grandiosos que a historia capitalista já vira. Era tão poderoso que poderia, se quisesse, mobilizar o mundo em beneficio de seus objetivos.

Pela primeira vez Dr. Pedrosa visitaria aquele país tão pobre que chamá-lo de terceiro mundo era tê-lo como uma potência para sua realidade. Mas ainda sim era um pais digno e não poderia receber uma figura tão ilustre de qualquer maneira. Deveria ter a melhor suíte do melhor hotel da capital que tinha sido reformada pelo governo especialmente para a ilustre visita. Deveria ter também segurança e para isto um esquema gigantesco havia sido armado. O país passava por algumas guerras civis e isto representava um perigo ao importante visitante. Os órgãos de imprensa selecionaram os melhores equipamentos e profissionais para cobrir a missão do imponente empresário.

Era uma figura sempre vista de longe, com muito carisma e sorriso. De tão distante de todos parecia estar sempre no alto. Em um altar talvez, como uma santidade. E para a grande maioria ele realmente era uma santidade.

O jato principal do grupo Pedrosa Enterprises ligava sua potente turbina enquanto sua Santidade e a primeira dama do império discutiam sobre a educação do filho mais novo. Em um compartimento da frente estavam todos os seus assessores fazendo seu discurso, sua agenda e acompanhando o andamento do grupo nas bolsas de valores.

O chefe acionou o botão de chamar o responsável pela copa. Este era amarelo, alto e magro. Usava um palito com colete e gravata borboleta. Se tremia a cada vez que tinha que falar com seu patrão. Não era qualquer um que falava diretamente com aquela pessoa. Sabia que era um dos poucos empregados a tratar diretamente com o imperador das industrias, como era chamado. Tinha receio até de dizer um simples “Pois não senhor!”

Saiu nervoso da copa e se dirigiu até a cabine presidencial, que se localizava no fundo. Lá foi solicitado um copo com água enquanto a elengante senhora do patrão dormia na poltrona a 180o de inclinação.

A aquela altura toda a comitiva do chefe de Estado se preparava para receber o executivo no aeroporto. Os principais jornais do mundo já haviam começado suas transmissões sobre a triunfal chegada do industriário.

Sua água deveria ser mineral da fonte mais pura e límpida que poderia ser achada no planeta. Era testada pelos maiores químicos – só gente de sua confiança. Era uma água tão pura que o servente jamais vira uma transparência tão transparente. Encheu-lhe o copo com a temperatura ideal. Esta deveria estar de acordo com recomendado pelos seus médicos, pois não poderia afetar sua garganta ou provocar um resfriado. Não tinha tempo para ficar doente.

O rapaz entregou o copo exatamente como manda o protocolo. O patrão agradeceu de um jeito totalmente cortêz e esperou o funcionário sair da cabine.

Olhava aquele copo com o líquido transparente tão desejado. Sentia sua boca e garganta secas. Era como se todo o Saara tivesse dentro dele.

O mordomo começou a sentir fortes pontadas na barriga e saiu correndo para o banheiro da tripulação do jato.

Dr. Pedrosa levou o copo à sua boca em um gesto ansioso e mais ansiosamente começou a beber tudo de vez, em um só gole. Mas dizem que a pressa é inimiga da perfeição e a água desceu pelo caminho errado. Começou a tossir freneticamente mas o líquido parecia estar colado na sua garganta e não se movia. Ficou vermelho e caiu no chão tossindo como um desesperado. Apertou o botão de chamar o empregado, mas foi em vão e seu oxigênio já estava faltando no seu corpo. A vermelhidão se fora e agora via-se roxo no chão. A falta de oxigênio então inviabilizou sua vida e seu corpo estava agora pesado e estirado no chão.

O piloto pedira para que todos colocassem os cintos de segurança e isto interrompeu a música que tocava no fone da mulher despertando-a do sono. Tomou um susto ao ver o corpo do marido no chão e imediatamente interfonou para a cabine da assessoria solicitando o médico.

A morte foi confirmada logo após a aterrissagem e o avião voltou para seu país de origem.

O enterro foi digno de um homem de sua importância. Mobilizou o mundo também e é claro, as bactérias e fungos.

Seu corpo estava agora embaixo da terra sendo decomposto como outro qualquer. Como um qualquer.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 13/12/2007
Código do texto: T776500
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.