A Viúva do Coveiro

O falecido foi um coveiro muito dedicado ao trabalho. Diziam os moradores daquela região, que até mesmo depois de morto, ele ainda continuou trabalhando. Ou melhor, assombrando mesmo.

No cemitério, em sua casa, e até mesmo em seu quintal. Quando era vivo, ele tirava os seus dias de folga para escavar o quintal, preparar para algum tipo de plantação, ou enterrar lixo. Tudo isso movido pelo impulso e amor à profissão.

Ninguém ficou sabendo ao certo, qual foi a motivação que o levou a sua morte tão trágica, por enforcamento. Saíram alguns comentários maldosos, a respeito de sua mulher, que talvez tenha causado uma depressão e o motivado ao suicídio.

Conforme os boatos que circulavam naquela região, era um caso de infidelidade conjugal, ela teria traído o seu marido com um vendedor ambulante.

Dizem que o dito cujo “vendedor ambulante” apareceu morto ali nas proximidades do cemitério, alguns dias antes do suicídio do coveiro. Apesar da boataria, o tempo passou e nada ficou provado.

Segundo os relatos, da escassa vizinhança. Aquele cemitério, e também a casa que lhe pertenceu ficou mal-assombrada.

A viúva do coveiro, corajosamente ou por falta de opção continuou morando ali por algum tempo. Costumeiramente ela se recolhia bem tarde, e dormia ao menos até quase meio dia.

Ela gostava de frequentar os bailões daquela região com as poucas amigas que tinha. Algumas vezes chegava a sua casa quase ao amanhecer.

Geralmente ela evitava chegar sozinha a noite com medo da suposta assombração.

Assim sendo, sempre que encontrava uma chance de dormir fora, ela não perdia a oportunidade. Raramente aquela mulher recebia alguém em sua casa, com a exceção de uma amiga, que era de sua consideração.

– Como ele era com você?

Perguntou à amiga, a viúva do coveiro estava distraída e não respondeu de imediato. E como se ela estivesse muito longe em seus pensamentos, formulou outra pergunta.

– Ele quem?

– O falecido amiga. Não é dele que estamos falando?

– Há sim... desculpe-me é que eu estou meio desatenta... até que era legal apesar de pouca conversa.... Enquanto as duas conversam, se preparando para a noitada no bailão, vão dando alguns retoques na maquiagem.

– É mesmo amiga. Então vocês quase não se falavam... ao contrário do meu ex-marido que já era falastrão... aquele falava pelos cotovelos...

– Bem o falecido conversava pouco, mas era o jeitão dele. Eu me lembro de algumas coisas que ele me contava. Uma vez ele me contou, de um homem veio aí.

Ela diz, fazendo um gesto, apontando para o cemitério. A amiga da viuvinha ficou atenta, já tinha ouvido tantos boatos a respeito do falecido coveiro.

– Veio aí para agilizar a documentação de um sobrinho, que já estava em coma há bastante tempo. Ele chegou até a marcar a data do sepultamento, e tudo mais. Quando chegou o dia marcado, ele e os outros ficaram esperando, mas ninguém apareceu. Exatamente cinco dias depois, aquele estranho homem que havia agendado o sepultamento do sobrinho apareceu aí, no cemitério... e já dentro do caixão. Estava morto e foi sepultado no lugar do sobrinho!

Ao concluir aquele relato, a viúva do coveiro viu que a sua amiga estava boquiaberta. A história do tio e sobrinho era mesmo interessante, mas a sua amiga estava a pensar sobre o boato que corria na região, sobre o cemitério, e também a casa mal-assombrada.

Enfim elas estavam prontas para mais uma noitada, sem perder mais tempo, as duas saíram dali, rumo ao bailão.

Carlos Casturino Rodrigues
Enviado por Carlos Casturino Rodrigues em 04/08/2023
Código do texto: T7853696
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