O Surubim de Escamas

O Surubim de Escamas

O surubim é um peixe de couro de água doce, corpo roliço, rajado de preto, possui barbatanas, cabeça grande com boca achatada, imitando o bico de pato. Pode atingir até 1,90m e 80kg.

Até então, era pescado com frequência no Rio Parnaíba, já que estávamos antes da construção da Barragem da Hidroelétrica de Boa Esperança. Hoje, já não sei.

Ao que parece, não existe, atualmente, surubim de escamas, mas nem sempre foi assim.

Então, se ajeite no sofá que eu desvendo essa treta!

Lá pelo final da década de 50, um fato sobremaneira estranho começou a acontecer no Rio Parnaíba, em Teresina, especificamente, na região por detrás do antigo Matadouro Municipal, hoje, Teatro do Boi.

Tudo aconteceu quando um pescador de canoa, conhecido como Mundico, foi encontrado morto, enroscado na própria tarrafa e preso à canoa virada dentro do rio. Ao virar a canoa, a grande pedra que servia de âncora amarrada a uma corda foi para o fundo e com isso, evitou que tudo descesse na correnteza. Tal caso permaneceu como mistério por pouco tempo.

Dias depois, outro pescador disse ter visto algo assombroso na mesma região. Disse ter escapado da morte por um triz. Que um enorme peixe, de uns 4 metros de tamanho e, visualmente, uns 300 kg, entrando por baixo de sua canoa, a virou como se fosse uma embarcação de brinquedo. Disse ter cabeça de surubim e corpo de tilápia.

Claro que se formaram dois grupos: os que acreditavam e os que diziam ser mais uma das estórias de pescador.

Os que não acreditavam, tinham argumentos consistentes. Como poderia haver um peixe híbrido? Como poderia existir um único exemplar no rio? Vindo do mar, não seria razoável. Como poderia ter surgido de repente? Outros mais irônicos afirmavam ter caído do céu.

O pescador Joaquim, vítima e contador do fato não tinha resposta. Contudo o professor Moaci Madeira Campos, dono do Colégio Leão XIII e pessoas de muito crédito, disse que poderia ter acontecido alguma alomorfia e com isso o peixe tenha sofrido alterações dicotômicas. Que o pescador não iria provocar arranhões no corpo por pura diversão. Que deveríamos ser mais comedidos nas refutações. Argumentou, ainda, que a Natureza não era finita e que nós não sabíamos quase nada, malgrado nossas presunções.

Verdade, ou suspeita, o fato foi que as noites dos pescados, naquela região, passaram a ter aspectos de guerra. Um peixe com tamanha dimensão não se deixaria apanhar com tarrafas de linha de algodão. Vale lembrar, que as linhas de nylon só apareceram em 1963. Os pescadores mandaram fazer arpões de ferro e armaram-se de tudo o que fosse possível. Uma coisa era certa: aquele monstro estava com os dias contados.

Todos esses acontecimentos datam de 1959. Em junho deste ano, foi realizada a 5ª Procissão Fluvial das festividades de São Pedro, Padroeiro do bairro Poty Velho, numa segunda-feira, lua em quarto minguante.

Todos os pescadores e canoeiros tinham baixado a guarda por motivos óbvios. Além disso, não era de se esperar que o monstro fosse mostrar sua cara, exatamente, no dia de São Pedro. Estavam enganados!

Quando passou a última canoa do séquito no sentido Centro-Poty, tempo de dois minutos, no mesmo lugar onde ele havia tombado a canoa do pescador Mundico, o bicho emergiu da água num pulo de exibição igual às baleias, na sua aterrorizante epifania. Foi um voo espetacular, com todo o corpo saindo do rio, de costa, fez um corrupio no ar e caiu de barrigada, a espalhar uma grande quantidade d'água.

Os devotos que estavam nas embarcações nada viram, só tiveram a notícias, mas quem estava na margem direita do rio, viu tudo e eu estava lá.

Tudo foi muito rápido, entretanto as informações anteriores casavam com o que presenciamos. O bicho deveria ter mesmo as dimensões já ditas, o corpo semelhante a uma descomunal tilápia e a cabeça de surubim proporcional ao corpo. Claro que pra mim, na visão de garoto, era peixe para mais de dez metros.

Ao submergir soltou um pio estridente e não foi mais visto.

Uma assombração durante a noite é, plenamente, compreensível; ilusão óptica também, mas à luz do dia, ao sol se pondo, ninguém tinha dúvidas que o bicho existia. Era real.

Daí pra frente, não foi mais visto; não com tamanha nitidez e agressividade, mas sempre nos mês de junho e em noites de lua minguante, os pescadores afirmavam ouvir pios estridentes no meio do rio seguidos de um grande vulto a se debater nas águas.

São coisas da minha terra.