Pesadelo Platônico

Três semanas antes da morte de Leonel Hoff...

Tenho 16 anos e estou escondida, sentada no gramado do meu vizinho Leonel Hoff, inimigo dos meus pais . Escuto as histórias que ele me conta com um tanto de estranheza, mas convicta de sua sabedoria, portanto, sou interessada. Às vezes me sinto angustiada com tanta metafísica. Ele fala sobre o céu e sobre o inferno; fala sobre os astros; de vidas em outros planetas e de coisas que não vemos, porque segundo as suas palavras, o invisível é para ser sentido. Permaneço angustiada porque nesse momento ele repete a história dos Capuletos e dos Montéquios. Eu já conheço o final e penso: - Julieta só tinha 13 anos e manteve uma única relação amorosa com Romeu, de 17 anos. Depois de três dias se suicidam, que sina! Eu divago nessa parte e me imagino amando alguém 20 anos mais velho que eu e depois ao terceiro dia nos suicidamos. O meu coração dispara e sinto um calafrio na espinha. Acordo atordoada, com as mãos trêmulas e taquicárdica. Eu preciso exorcizar o seu Leonel da minha vida. Há alguns dias o encontrei com um copo de vinho caído no pé de sua cama com um vidro de comprimidos vazio. Talvez ele tivesse amado alguém e no terceiro dia se dopara para não suportar a traição da sua própria paixão platônica por mim.

Extremamente contestável.

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Zélia Duncan - Alma.

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 22/10/2023
Reeditado em 22/10/2023
Código do texto: T7914743
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