Amigos

“Tô te falando rapaz, tua mulher tá te traindo.”

“E como você tem tanta certeza?”

“Eu vi! Os dois saíram de um motel esta semana. Até parei e olhei bem para o carro, para ter certeza de que era ela mesma. E era. Em um motel lá no centro da cidade.”

“Não é possível! Ângela sempre foi mulher de respeito. Casada virgem! Não estaria fazendo uma coisa dessas.”

“Então vamos fazer o seguinte: eu vou com você até o motel no mesmo dia e horário que a vi. Foi numa quarta feira às dez horas da manhã. Eu estava saindo com uma mulher e ela entrava com outro cara. Vamos lá essa semana?”

“Tenho que inventar uma desculpa para o meu chefe, mas hoje ainda é segunda eu invento algo até lá. Mas se for mentira olha lá você...”

Pedro e Pablo eram amigos desde o colégio. Eram também amigos de Ângela, esposa de Pedro. Casamento o qual Pablo era o padrinho.

Naquela semana Pedro observou bastante Ângela para verificar se havia algo de diferente no seu comportamento, mas não achava. Começava a ter esperanças que seu amigo estava errado. Não podia ser traído pela mulher que mais amava na vida. Desde a infância. Seu casamento era bom, eram felizes, não tinham filhos, viviam bem e sim eram felizes. Pedro não dormiu durante as duas noites seguintes.

A quarta feira chegou como um dia pesado para ele. Sentia suas pernas tremerem e olhava para a janela implorando para o céu não deixar o sol sair. Entrou no banho gelado logo após perceber que seus apelos de nada valiam e o dia já batia à janela. Viu os primeiros raios de sol da manhã azul saírem e jogou seu corpo magro e cansado no chuveiro.

Não sentiu o quão gelada a água estava pois a adrenalina circulando no seu sangue era tanto que o anestesiara. Saiu do banheiro tremendo muito e colocou uma roupa qualquer para encontrar o amigo. Olhou para Ângela na cama e lançou-lhe um olhar de suplício durante uns vinte segundos. Mas ela dormia profundamente e não podia ver o olhar do marido.

Pedro foi encontrar Pablo. Este o abraçou de maneira forte, amiga e confortável. A tremedeira de Pedro passou rapidamente, não lembrava a ultima vez que um amigo o abraçava assim. Estufou os peitos e se preparou para a pior cena da sua vida. Esperou durante as três horas mais demoradas que já experimentara. Estava pálido.

Pablo tentava acalmar Pedro dando uísque para ele. Pedro dava goles grandes e nervosos no copo. Foi quando avistou um carro sem vidro fumê entrando no motel e ao lado estava sua mulher. Da posição onde estava podia ver o rosto de Ângela perfeitamente. Os olhos dele ficaram vermelhos no mesmo instante. Sentiu duas lágrimas descerem no seu rosto. Não sentia nada mais do que raiva neste momento. Pablo como todo bom amigo encheu mais seu copo e levou-o para casa.

Pedro chegou trocando as pernas. Estava anestesiado. Sim, o resto do corpo estava, mas não seu coração que se enchia de raiva. A raiva foi grande mas o sono e a bebedeira foram maiores. Pedro apagou como uma pedra. Pablo deixou o amigo no sofá e saiu.

Entrou no restaurante e logo avistou os dois. Lá estavam Ângela e o cara do motel. Pablo foi chegando rapidamente com seu objetivo claro na cabeça. Chegou na mesa dos dois e puxou uma cadeira. Sentou-se. Abriu a carteira e tirou três notas de cem reais. Entregou para o homem. Este saiu sem dizer nada. Olhou para Ângela.

“Deixei em casa tão bêbado que não vai acordar tão cedo. Mas precisamos adiantar para o aeroporto. Não podemos perder o avião.”

“Precisava mesmo disso?”

“Você sabe, eu jamais trairia meu amigo.”

“Eu te amo!”

“Eu também te amo. E sempre te amei!”

Beijaram-se. Pablo deixou uma nota de cem reais na mesa e foram embora.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 27/12/2007
Reeditado em 22/04/2008
Código do texto: T793394
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