Licor de cravo e laranja

Eu já nem sabia mais como organizar meus pensamentos, pois todas as vezes que eu te encontrava eu só sabia sorrir, aquele riso contido, não queria deixar explícito, mesmo querendo tentar estar sério eu queria te olhar e sorrir.

Foi assim que percebi estar perdido, eu nem te conhecia, não sabia nada de você que fosse pessoal, só sabia de seus feitos, de seus talentos. Não sabia de sua cor favorita, nem de que brinquedo gostou mais da infância, não sabia qual blusa gostava mais e nem do que não colocava na comida. Eu não sabia quem era você, e perdido assim, eu notei que não sabia também o que fazer com isso.

Estava encantando, era inverno quando notei sua existência de fato, conversando com seus amigos, ou seja lá o que aquele grupo era seu, eu queria era ficar te observando, alimentando e criando seu rosto em minha memória, como quando você tira uma fotografia para eternizar. E conforme os dias passavam, meu único desejo era te rever, já te conhecia, sabia seu nome, mas nada além para poder me aproximar.

Foi ai que percebi que você sempre estava carregando um maço de cigarros em uma carteira de metal, que parecia artesanal, provavelmente um presente que tenha ganhado, lembro- me bem dela era vermelha com alguns desenhos amarelos, parecia um desenho de um bosque, não enxerguei bem esses detalhes. Mas foi ali que decidi começar a andar com isqueiro, seria minha deixa pra me aproximar de você.

Não sabia onde morava, e os poucos lugares que te encontrei pela cidade eram sempre pertos de mim, do meu trabalho e da minha casa, logo deduzi que morasse e trabalhasse por perto. Quando te via a noite sempre estava fumando ou com um drink em um copo de vidro pequeno, mas redondo, aqueles de uísque, mesmo que fosse à rua você carregava ele, achava elegante, moderno, inteligente até, andar com seu próprio copo se sentir segura nos lugares pra ninguém adulterar sua bebida talvez, ou mesmo por questão de higiene, vai saber se você tinha algum TOC ou alergias. Mas eu nunca soube o que bebia cerveja eu sei que não era, mas podia ser qualquer coisa, você bebia com tanta naturalidade e leveza, eu não consegui pensar que era vodka ou mesmo o uísque, parecia algo doce, talvez um licor, você nunca tinha alguma garrafa, só o drink, até aquilo me fascinava.

Mas não te encontro mais, não sei se você se mudou, não sei nada para poder saber sobre você, lembro-me de seus belos cabelos e andar firme, de sua postura e firmeza ao entrar e sair dos lugares, como se fosse dona deles e todos te devesse algo, eu facilmente faria qualquer coisa que me pedisse. Mas não te vi, não conseguia me aproximar, gostava de te admirar de longe, não era covardia, era só o prazer que eu sentia, te observar era minha novela favorita.

Ainda continuo andando com o isqueiro no bolso, espero poder te ver mais uma vez, dessa vez mesmo sem motivo, chegarei até você e lhe entregarei ele. Até lá, estarei sentado nessa mesa de fora do bar tomando meu licor de cravo e laranja observando a natureza da noite, bela vida platônica você me trouxe.

Ponto Brune
Enviado por Ponto Brune em 10/01/2024
Reeditado em 11/01/2024
Código do texto: T7973657
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