Árvores e Frutos

No final de um dia quente, durante seu trajeto de volta ao lar, um humilde trabalhador do campo parou à sombra de uma grande árvore frutífera. Durante aquele breve momento de descanso, sentindo-se exausto e faminto, avistou um fruto maduro, arrancou-o do galho e pôs-se a comê-lo. Antes de terminar aquela refeição casual, eis que vinha se aproximando um senhor com ares de nobreza: era o dono daquelas terras, montado em um belo cavalo, trajando roupas finas e adereços que o distinguiam quanto à classe social. O senhor abordou o trabalhador, repreendendo-lhe com vigor a respeito da tomada da fruta sem sua prévia autorização! Chegando a ameaçá-lo, afugentou o pobre homem, prometendo-lhe que, em se repetindo aquele ato, usaria violência contra ele!

Passados muitos anos desde aquele malfadado encontro, o senhor, agora envelhecido, voltava de uma longa e trágica viagem: havia sido vítima de ladrões durante a volta. Ferido e tendo cavalgado por horas sem comida e sem água, parou à sombra de uma grande árvore frutífera. Desmontou do cavalo para descansar e resolveu comer uma fruta para aplacar a fome que o assolava. Enquanto saboreava a fruta, viu que se aproximava um homem com aspecto amigável. O homem cordialmente o saudou, percebeu sua condição crítica e prestou-lhe a ajuda necessária, dando-lhe água, comida e cuidados para os ferimentos, tratou inclusive do cavalo para garantir o retorno seguro do senhor ao lar. Após algumas horas na companhia daquele bondoso homem, o senhor muito agradecido despediu-se dele, mas antes de partir, disse-lhe que o fruto daquela árvore estava distintamente doce, assemelhando-se aos frutos de uma árvore da mesma espécie que havia em sua fazenda. De pronto, o homem respondeu que a semelhança não era por acaso, pois aquela árvore havia sido plantada com semente da árvore do senhor: sim, era o homem que ele arrogantemente afugentara de suas terras anos atrás.

Estarrecido com aquela revelação, o senhor lembrou do ocorrido e pôs-se a pensar sobre o que acabara de vivenciar. Após um breve e constrangedor silêncio, em atitude de profundo arrependimento, passou a repetir pedidos de desculpas pelo que havia feito àquele homem no passado. O homem, por sua vez, mantendo sua feição serena e amigável, respondeu que nada havia a desculpar. Disse-lhe também que aprendeu desde criança a sempre aproveitar eventos ruins para acumular valiosas lições. Reconheceu ainda que havia errado por ter tomado o fruto sem a permissão do senhor, mas que daquele evento resultou a semente que gerou uma nova árvore cujos frutos beneficiavam a todos que por ali passavam famintos.

Daquele dia em diante, o senhor passou a nutrir enorme consideração e respeito ao homem que o acolhera como a um irmão, compartilhando com todos a narrativa do fato e a lição aprendida: fácil esquecer as ofensas que proferimos e aqueles a quem ofendemos. Os ofendidos, por sua vez, podem carregar consigo por toda a vida as ofensas recebidas, mas cabe a cada um decidir sobre os frutos das ofensas que venham a colecionar.

André Luís Barros
Enviado por André Luís Barros em 03/02/2024
Reeditado em 03/02/2024
Código do texto: T7991434
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