O DIA QUE DORMI NO ÔNIBUS

Por ANDRADE JORGE

Dizem que quem dorme no ponto é motorista de taxi, pode ser, mas não são os únicos, existem outras situações também.

Depois que tirei meu cartão de idoso ando de graça nos ônibus, trem, metrô, e acho mesmo que deveria ter gratuidade até em viagens aéreas, ou pelo menos desconto. Nessa hora o idoso sente um orgulho, é como se fosse uma autoridade dando uma “carteirada”, passa e não paga nada. Entramos no veículo e tem até assento prioritário, se bem que sempre tem uns engraçadinhos mais novos que sentam e fingem que estão dormindo, mas, comigo o espertinho se dá mal, porque eu “acordo” o cidadão, e solicito o assento.

Locomovendo nesses veículos públicos de massa, buzão do Zé povinho mesmo, metrô, ou o trem cata louco, isso mesmo porque pra andar nesses trens de sampa tem que ser doido, então, noto que muitas pessoas dormem durante o trajeto, claro estão cansadas do trampo ou da balada, sei lá, mas o fato é que acordam exatamente na estação ou parada que vai descer. Não sei como, mas acordam. Parece que é uma máquina programada, que calcula distância, duração, e tempo de parada durante o percurso. Eu não consigo, só durmo mesmo se for viajar de uma cidade para outra, porque quando chegar à rodoviária do destino, se estiver dormindo o “motor” acorda a gente.

Mas, em coletivo urbano dormi duas vezes , a primeira quando morava em Jundiaí, trabalhava em São Paulo, e numa sexta-feira voltei de trem (os trens ainda circulavam pelo interior), cheguei à Estação Ferroviária, peguei o ônibus, que iria para o bairro que eu morava, pois passava no centro da cidade, onde eu desceria, porque iria num jantar dançante, mas, cochilei, e fui parar no ponto final, ou seja, no bairro onde morava. Voltei com o mesmo ônibus na mesma intenção, ou seja, descer no centro da cidade. Novamente cochilei, e acordei de onde sai, na Estação Ferroviária. Provavelmente fui alvo de gozação na roda dos cobradores e motoristas. Resolvi, então, ir a pé da estação ferroviária até o centro da cidade, para ter certeza que não cochilaria.

A segunda vez aconteceu quando morava na cidade de Porto Alegre/RS, após o trabalho fui a um happy hour, o bate papo estava “tava bão tche”, que a hora passou num piscar “d’oio”, liguei para casa avisando que chegaria mais tarde, pois estava conversando com um amigo comum ao casal, e que fazia tempo que não o encontrava. Em Porto Alegre, após a meia noite, os ônibus ainda continuam circulando, mas, somente de hora em hora. Na roda de amigos é aquela coisa, você olha no relógio e diz – está na minha hora – aí os amigos dizem: saideira então! E o papo continua a rolar, você volta a olhar o relógio, e avisa: “Xiii perdi a hora do ônibus de novo!! “. Novamente os amigos, principalmente os solteiros, mandam a famosa saideira (de novo). E de saideira em saideira, perdi até o da meia noite, esperei o ônibus da uma hora da madruga. Esse não perdi, porém, adivinha? Cochilei no coletivo, isso mesmo, e fui parar no ponto final, viajei mais de uma hora dentro daquele ônibus. Eram duas e meia, o motorista me avisou que o próximo sairia às três horas da madruga.

O pessoal que iriam para os respectivos serviços, já estavam entrando e tomando assento no ônibus, para mais um dia de labuta, e eu nem havia chegado em casa ainda.

Embarquei, começou a chover, pelo menos agora não dormi no trajeto, desci na parada perto da minha casa, era quase quatro da matina, e tome chuva na cabeça!

Entrei em casa, claro a mulher acordou, contudo, fui logo dizendo – “não diga nada, amanhã explico tudo....” Para completar a desgraça, esqueci minha pochete no ônibus. Recuperei depois, ainda bem.

FIM

04/02/2017

Término 09/02/2024