ESCOLHAS (alguns recantistas vão se achar por aqui)

 

Charles ia de casa em casa oferecendo os serviços de entrega de leite fresco, direto das vacas. Aquelas pessoas que aderiam, pagavam antecipadamente e, recebiam um litro de leite numa garrafa de vidro todos os dias.

 

Deu tudo certo por um, dois meses, só que as donas das vacas D.Verdana Luna e Lumah, não sabiam desse comércio paralelo, onde elas não tinham nenhum ganho, só contabilizavam menos leite durante as ordenhas.

 

Charles era filho do sitiante vizinho Sr.Jadel, plantador de verduras, simples e humilde, mas, com um filho preguiçoso e aproveitador. Descobriu que Charles estava roubando leite, dos baldes das ordenhas das suas vizinhas, que ele já conhecia desde criança. Tinha orgulho das moças, que tendo herdado a fazenda, fizeram por onde fazê-la crescer ainda mais. O Sr.Jadel faria Charles tomar jeito na vida, de forma firme ou o rapaz que gastasse os calçados na estrada, pois ele não queria estudar, faltava direto às aulas e agora aprontava essa, não dava valor a nada, talvez estivesse na hora de um desapego de pai e filho radical. Até o Padre Zédio ficava abismado, com as bobagens abusadas que Charles falava no confessionário. Ele não via 'fé' só um ser 'feio'...Deus consiga perdoá-lo. O Sr.Jadel não merecia um filho tão frio, insensível, egoísta e aproveitador. O Padre Zédio, rezava em dobro por quem convivia com Charles.

 

O Sr.Jadel, foi em todas as casas da pequena cidade, pedindo desculpas pelo leite roubado, vendido pelo filho. Conversou com as vizinhas D.Verdana Luna e Lumah, pedindo o valor para que ele pudesse ressarcir à elas o prejuízo. Elas disseram que só a honestidade e amizade dele, já pagara o prejuízo, ficaram de boas, sem arranhões na convivência. Agora era vez de Charles, encarar uma nova realidade.

 

Começou na segunda-feira, o Sr.Jadel acorda o filho às quatro meia da manhã, dizendo que vão comer um canjica doce com café, pegar um cantil de água e seguir pra plantação de verduras, tinham muito o que fazer. Charles reclama, reclama, mas, o pai lhe diz...se quiser comer nesta casa, levante agora! A voz era soturna e bem diferente de antes, melhor obedecer.

 

Chegando na roça, a preguiça e a má vontade de Charles, tomaram um susto. O Sr. Jadel, dava as ordens e as instruções, sentado no chão, com as costas apoiadas numa laranjeira, curtindo uma sombra, o filho rosnava e reclamava, mas, o pai dizia...se quiser ter direito à comer e dormir em casa, cumpra o que peço. Nada cai do céu. Charles percebeu a mudança no comportamento do pai, entendia a raiva e a decepção logo passaria. Acreditava que logo passaria. Ele se enganara totalmente, bem feito!

 

O mês inteiro trabalhando sob os olhos do pai. Quando colheram as verduras, venderam o pai separou um valor para pagar o filho/funcionário e alegrou o rapaz. Aí do valor, o Sr Jadel foi tirando e se reembolsando, alimentação e pousada, o que sobrou entregou ao filho, uns ínfimos trocadinhos. Charles se roía de ódio, só que ficou calado.

 

Durante os três meses seguintes, o pai foi bastante rígido com o filho, que aceitava, alimentando uma alcatéia de lobos dentro do peito. O pensamento dele não queria ficar mais naquela casa, o mundo com certeza era muito mais fácil longe dali. Naquela mesma noite, roubou o dinheiro que o pai guardava no pote de fubá, enfiou roupas e calçado numa mochila e foi-se embora.

 

O tempo passa nós sabemos, se Charles irá melhorar o seu modo de encarar a vida e, tentar se desculpar com o pai ou se perderá pelos caminhos, cada um de nós criará o final desta história.

 

O poeta cigano da Estrada do Açude, comentou com o Padre Zédio, que numa vendinha de uma cidade próxima, havia visto um rapaz maltrapilho roubando lojinhas, que se parecia com Charles, mas, estava tão acabado que ele não tinha certeza.

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 16/03/2024
Reeditado em 16/03/2024
Código do texto: T8021089
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