PhD

E o executivo solitário navega na internet em seu vasto tempo livre. Dentre sites de relacionamentos worldwide, encontra uma americana recatada.

Após 6 meses de conversas virtuais, a não-tão-jovem-assim americana está de passagem pelo Brasil e os dois resolvem se encontrar.

A branquela de sardas está apaixonada e acha que o executivo que vai sempre à porta do prostíbulo mas se sente fracassado ao não conseguir entrar também está enlouquecido de amor. Puro amor.

O executivo preenche seu vazio interior pelo tédio de se corresponder com a sardenta sem-graça, loira-quase-ruiva. Ao menos melhora o inglês.

Pizza Hut, bairro nobre de São Paulo. A americana de cachos tom de sépia está ansiosa com suas roupas esquisitas do século XVIII sentada tomando Diet Coke.

O executivo observa de longe, e, a mulher de seus sonhos não chega nem aos pés daquele abominável ser cuja cor da pele e cabelos misturavam-se num amarelo degradé.

E o pesar era que o certinho e temeroso executivo que mascarava sua solidão pela tela do computador e filmes pornôs, não conseguiria magoar aquela moça. Só conseguia magoar a si próprio, como sempre.

Não tomou coragem porque sempre fora covarde, mas a bravura se igualava ao destino. Não sentou do lado da moça para encará-la, mas conformara-se e a aceitara sem questionar, como sempre fizera por toda sua vida.

Nunca soubera se libertar das amarras do pudor e das boas maneiras. E isso o torturava por dentro

- Good Morning. I'm so glad you're here

- Oh, I just can't believe. I'm so ashamed - disse a moça com as bochechas vermelhas causando ódio e repúdio ao executivo por tantas cores que se misturavam e ainda assim não combinavam entre si

Depois do típico silêncio de encontro pós-internet, ela se atreveu:

- So, tell me something about you...uh...about your job, for example..

O executivo se achava tão idiota naquele momento que queria espancar aquela mulher na sua frente que, conseguia ser mais idiota do que ele imaginava. Porém, resolveu que não disperdiçaria seus pensamentos sado-masoquistas.

Então, resolveu romper com seus preceitos e disse:

- Well, I...I have a PhD

- Really? A PhD?

- Yes, a Pretty Huge Dick

- Oh God!!! - exclamou a moça de cores indefiníveis.

E, ele sorriu com a pornografia que acabara de dizer!! O gosto da vulgaridade era catártico. Precisava disso pra sobreviver. Pôs as mãos nas calças e, a americana, consternada, retirou-se rapidamente do recinto.

As frágeis amarras do pudor já tinham finalmente se soltado. A promiscuidade ressaltou seus instintos, sua essência.

Foi para casa e levou seu título para libertar-se também.

O executivo não mais empacaria na porta do prostíbulo.

Chandler Jr
Enviado por Chandler Jr em 05/01/2008
Reeditado em 24/01/2008
Código do texto: T803417