A MORIBUNDA

A MORIBUNDA

Dona Maria era uma professora humilde, destas que sobrevivem sacrificadas no interior do nordeste, de estatura baixa, pele queimada do sol do sertão, constituição obesa, mas de uma agradável e simpática risada que conquistava as pessoas no primeiro contato. Por ter ficado solteirona, pois alegava não ter encontrado o homem da sua vida, dedicou-se exclusivamente a profissão de professora primária, ensinando os filhos dos lavradores da pequena cidadezinha do interior de Pernambuco, recebendo da Prefeitura local, uns míseros trocados que mal dava para sua sobrevivência, porém, isto nunca foi obstáculo para sua abnegada dedicação ao ensino dos que necessitavam ser alfabetizados. Certo dia, como se já não fossem por demais cansativas as suas obrigações diárias, resolveu formar uma turma de adultos à noite para alfabetizar e, para isso, convocou principalmente alguns pais de alunos, que, por falta de oportunidade, até aquela idade permaneciam analfabetos. A atitude desta incansável guerreira foi motivo de admiração, orgulho e respeito da população interiorana local. Chegando finalmente o dia da formatura da primeira turma de alfabetização de adultos, resolveu a esforçada professora, que a data não poderia passar em branco, e, para tanto, convidou toda a cidade para participar do evento, que iria entregar os certificados aos referidos alunos. Tendo acompanhado durante anos a dedicação da referida professora ao ensino público, o Promotor de Justiça local, que nas horas vagas dedicava-se a escrever poesias, resolveu homenagear a referida professora, dedicando-lhe uns versos que teria feito exclusivamente para a mesma, vez que, tomou conhecimento que o dia do evento, era também a data natalícia da professora. Entrando em contato com a mesma, o Promotor de Justiça manifestou a vontade de declamar tal poesia, feita em homenagem a sua pessoa, no dia do evento, o que deixou a profissional orgulhosa e feliz. Para tanto o Promotor e poeta, teve uma infeliz idéia, de convocar uma das alunas formandas, para fazer a chamada inicial, convocando-o para declamar a poesia, antes mesmo da entrega dos certificados. A pedido do Promotor e poeta, a aluna deveria apenas ler um pequeno texto, assim escrito: “ A moribunda, poesia épica, em homenagem a passagem do ano da professora Maria” e, em ato contínuo, o Promotor subiria ao palco para declamar a tal poesia para a homenageada. Este pequeno texto, porém, tirou o brilhantismo da festa e tornou o evento, uma desordem caricata, eis que a recém alfabetizada, ainda não habituada com a leitura, leu o texto, que foi entendido por todos da seguinte forma: “ Amor e bunda, poesia é pica em homenagem a passagem do ânus da professora Maria”.