Caipira III

Caipira III

O Tunico foi nascido e criado nos Teodoros, uma roça uns 20 Km da cidade, atrás do Cafundó do Judas.

Lá pelos seus dezoito anos foi pra São José dos Campos, que naquela época era conhecida como “paraiso dos mineiros desamparados”.

Por lá se acomodou, arrumou trabalho na GM, foi subindo os cargos até virar chefe de seção, “pessoa importante”.

Dos Teodoros e da família, tinha muita saudade, mas a mulher da cidade que ele arrumou, inventava de ir para Caraguá ou no máximo Campos do Jordão..., Minas nem pensar, era sem atrativos e tinha muito mosquito.

Ele por seu lado até entendia, mesmo porque seus pais e irmãos continuaram na lida da roça, sem estudo ,sem informações e de modernidade somente a televisão, que não trazia lá muita coisa aproveitavel, só pegava o SBT, e ainda não por cima a TV não funcionava bem.

Segundo o pai do Tunico, ora tinha “feição”, ora tinha “proseio”.

A imagem era tão ruim que eles pensavam que o Silvio Santos era japonês...culpa do seu Matsumoto, vizinho que falava quase igual.

A saudade foi apertando muito, e o Tunico resolveu visitar a família sozinho mesmo, levou na bagagem uma máquina fotográfica que acabara de comprar, daquelas que batem a foto sozinha, você regula , aperta um botãozinho e ela faz o serviço.

Sua chegada foi uma festa, afinal era a pessoa mais letrada e importante da família.

Depois dos abraços com tapas nas costas ( caipira adora dar tapas em nossas costas), aquele almoço, com direito a frango de terreiro e uma leitoa magrinha com tutu.

Depois das novidades de parte a parte, Tunico sugeriu que tirassem umas fotos, que ele levaria à mulher e aos amigos para que pudessem conhecer sua família.

Todos pra fora, alinhados ao longo da cerca novinha, de oito fios de arame farpado, que agora cercava os cabritos, esses tais que comem de tudo.

Era muita gente, até porque a noticia se espalhou na família então estavam os tios e primos também.

Nisso o Tunico, maquina em punho, enquadrou toda aquela turma, pra isso foi necessário uma boa distancia, ajustou a maquina para o disparador automático e ....pimba. apertou o botão do automático e correu em direção ao grupo afim de também sair na foto.

Nisso foi um alvoroço danado, foi gente correndo por todo lado, uns tentando pular a tal cerca de oito fios, outros pisando por sobre os que caiam, uma loucura...

Gritos desesperados de pavor, pedaço de roupa e de orelha, nariz e outras partes na tal cerca...

O Tunico apavorado pedia calma, sem entender o motivo de tal confusão, até que alguns minutos depois, aquilo parecendo um campo de guerra, veio a explicação.

- Ocê correu daquela coisa, ai nois fiquemo cum medo também, sô.

- Si ocê qui conheci aquele trem, correu, qui dirá di nois que é tudo istranho???

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 17/01/2008
Reeditado em 17/01/2008
Código do texto: T821444