Caipira IV

Caipira IV- Cachoeira

Em 82 comprei meu primeiro sítio, ansioso por uma retomada as origens, já que meu avô e pai foram fazendeiros por natureza, eu queria ser por opção.

Trabalhando na cidade grande – São Paulo, comecei a formar o ambiente com a teimosia de todo novo sitiante.

Comprei todos os livros que tratavam dos assuntos de criação e culturas, assinei a Globo Rural, crente que ali estavam todas as respostas aos problemas do campo.

Ledo engano, nem uma coisa nem outra.

Além de que, a pouca terra não se prestaria para tudo, mas conhecimento é conhecimento.

Para iniciar, precisava, uma casa e por conseguinte um caseiro...elementar meu caro Watson!!!

Nesse ponto, foi como começar um novo curso universitário, empolgação no começo e indignação na seqüência.

Tinha ficado afastado deste ambiente muito tempo, inclusive alguns anos morando na Europa, e constatar que o caseiro não sabia ler, era no mínimo surreal.

Mas o rapaz era uma indicação confiável e me tratava muito bem, até um pouco de puxasaquismo, mas quem não gosta de uma puxada de saco, de uns agrados???

Tudo que eu dizia era o correto, mas na hora de fazer, era tudo o contrário, afinal ele havia aprendido com seus ancestrais, se era certo ou errado, isso era só detalhe, o que importava era a tradição.

Eu longe, indo aos finais de semana, ele crente que agradava e assim íamos vivendo...

Fui tentando de tudo, café, banana, porcos, galinhas, cabritos ( esses são ótimos...assados).

Em determinado ponto me empolguei com vacas...me pus a ler literaturas sobre as leiteiras, visitar exposição de gado, concursos leiteiros, e leilões.

Em um desses, comprei uma novilha holandesa, vermelha e branca, pegam menos pragas que as preto e brancas.

Levei aquela maravilha de genética para o sitio, aos cuidados do sempre zeloso, Luiz Ferrreira, conhecido localmente como “Bereba”, o meu caseiro.

Embora analfabeto, não existe ninguém no mundo mais esperto que ele, assim pensa.

Recomendações mil, rações, sais nutritivos, estábulo coberto, capins especiais...porque a novilha estava prenha, quase a parir.

Belo dia, me liga o Bereba, avisando que a novilha pariu, e que de tanto leite que dava, deu-lhe o nome de “Cachoeira”...e o leite era tanto que havia solicitado ao irmão que o ajudasse na ordenha, ficavam um de cada lado da vaca, agarrados cada qual em duas tetas; mesmo assim, demoravam muito para tirar todo o leite.

Como ele não sabia ler, não tinha dado conta da quantidade de leite por ordenha, mas era muito. E olha que quando o Bereba fala de muito é muito mesmo...

Eu de cá, pensava ter ganho na loteria, logo na primeira vaca e o negocio ia assim tão bem...

Controlei a ansiedade e fui ver essa maravilha no final de semana, mal cheguei e corri ao curral para ver a tal “ Cachoeira”.

Notei que a vaca estava um pouco triste, e com alguns arranhões no lado esquerdo do corpo...nisso chega esbaforido o Bereba.

-Patrão, ocorreu um desastre...

-Que foi Bereba?

-Seguinte, eu mais meu irmão Gonçalo tiramos o leite da Cachoeira ao mesmo tempo, um de cada lado, mas hoje o Gonçalo não pode vir, então eu fui tirar o leite sozinho.

-Quando tirei a minha parte, do meu lado, a vaca tombou!!!

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 17/01/2008
Código do texto: T821579