UMA PESCARIA NO  RIO VERMELHO - ESTADO DE GOIÁS

- Os que trouxeram do berço o instinto de pescador, sempre acalentaram a esperança de um dia caçar em Goiás, Mato Grosso ou vale do Amazonas. Então, vou tentar transmitir neste texto as sensações de algumas das minhas viagens a esses paraísos de caça e pesca, descrevendo, como for possível, minhas pescarias e algumas caçadas por necessidade nessas paragens maravilhosas.

 - Para is bafejados da fortuna, a viagem é simples, confortável e rápida. Mas quando não tão abastecido assim, iremos de carro (Rural/72) azul e branco,  aos domínios das onças, das antas, dos patos, jacarés e sucuris gigantescos, dos grandes dourados, surubis, pacus, jaús, pintados, piranhas devoradoras e outros.

- Começaremos a viagem saindo de Goiânia, Capital do Estado de Goiás, de madrugadinha, já com tudo preparado dia anterior, inclusive os alimentos instantâneos, arroz com carne seca, farofa na manteiga e cebola, rapadura, café na garrafa, pão de queijo, bolinho de arroz e algumas tapioca na manteiga.  O veículo está abarrotado de coisas e juntos vão meu avô seu Miné (Manoel), meu pai (seu Luiz) e eu, devemos  guardar lugar para mais um companheiro. Conferindo varas, iscas, coisas de reposição, panelas, medicamentos inclusive umas garrafas de aguardente para evitar mordida de cobra, munição para um revólver 38 e outras para a  22 e a  winchester 44 do papo amarelo, roupas e colchas para dormir, lona e outros assessórios, tanque cheio, pneus calibrados, assim por volta das 4:00hs da matina, saímos rumo ao Rio Araguaia.

- Viajando à noite, pudemos sentir uma neblina fria,   embaçar os vidros do carro, rodando uns 80 km,  começamos a perceber o espetáculo dos raios solares e o dinamismo do cerrado, suas árvores retorcidas, vegetação rasteira,  com algumas plantações de mandioca e outras culturas  passando em outras tão extensas sem nada, apenas cerrado. Era mês de agosto, não havia chovido e as pastagens estavam secas, amarronzadas, semi-áridas. Passamos por diversas Cidades pequenas como há mais de trinta anos, são hoje belas Cidades do Interior, sobre rios e córregos contados mais de trinta, com suas águas baixas, Goiás é um Estado com belos locais de pesca até hoje. Estamos perto da Cidade História de Goiás, morada de nossa grande escritora Cora Coralina, hoje Patrimônio Público da Humanidade, mas naquele tempo o asfalto estava uma porcaria, não é como hoje, um tapete.

- Para quebrar o silêncio e despertar do sono eu falei, Pai... vamos pegar o seu Ovídio para que? Para nos levar a um lugar que somente ele conhece... morreu o assunto. Logo chegamos a Cidade, como era pequena e ele morava uns 500ms da na entrada, paramos. Meu Pai desceu e gritou:  seu Ovídio... seu  Ovídio, nada de movimento, luz apagada, a casa esta clara apenas pelo reflexo do Sol que estava acordando.

-  Meu pai chegou no carro e disse, o cabra não acordou ... meu avô fumando um cachimbo respondeu: vai lá e tira o caboclo da cama e traz pelos fundilhos da cueca. De repente, abre-se a porta bem devagarinho é o dito. Bom dia, chegou cedo seu Luíz, vamo entrar... meu avô na bucha falou forte: não.. é você que está acordando tarde e entrar não vou não, junta tudo e pé na estrada (ele era daqueles cearence arretado) . O homem meio sem graça falou, sabe.. eu não vou poder ir com vocês e ficar os 10 dias combinados, porque tenho uns assuntos de família para resolver, mas uns 5 dias eu posso, então vou dizer o seguinte, tem um lugarzinho aqui perto, uns 40 km, que é uma beleza, no Rio Vermelho mesmo e lá podemos ficar uns dias e vai ser muito bom, já vou arrumar as minhas coisas, encostou a porta de ripa colada e sumiu para dentro.

-  Eu só olhando o desenrolar dos acontecimentos. Olhei para dupla e pensei, vão pegar o cara e depilar as suas axilas a seco. Foi quando meu pai falou, seu Miné! vamos neste local, eu já ouvi falar, é muito bom que o Senhor acha? Sei não, cabra que não cumpri o que fala não merece confiança.

-  Quase instantâneo, aparece o destratado com à sua sacola de pano, bem encardida, prontinho e com a cara lavada dizendo, arruma ai uns trinta dinheiro(não me lembro) para deixar com a Patroa, meu pai enfiou a mão no bolso e deu 50,00 e falou: quando eu voltar quero o troco.

-  Em fim, saímos rápido com o dia claro e as pessoas transitando nas ruas tortuosas  de paralelepípedo e suas casas antigas. Saímos da Cidade e o visitante foi ensinando o caminho, logo pegamos uma estrada de chão e muita poeira vermelha,  começamos a rodar, buracos mil, aquela tranqüilidade anterior acabou, agora de só balanço e pancada, a estrada vicinal vai se estreitando e uns 30 km depois ela acaba. E meu pai pergunta ao amigo da onça, e agora? Tá vendo aquela cerca !! no vamo abri-la e continuar na saroba... caramba!! Gritou meu avô, esta carroça é milagrosa, carrega três burros um safado mentiroso e agora vai transformar em cabrito!!!  Calma seu Miné, devaga dá...e vamos nós, pegar uma trilha cheia de mato, cupim e pedras, cada uma maior que outra, o solo cheio de folhas secas,  eu calado , esperando o resultado, uns 4 km depois ele falou é aqui..

-  Estávamos  em uma mata serrada, cheia de madeira de lei, formigas, mosquitos e cobras.  Logo meu Pai identificou um Pé de Pequi, um Ipê Amarelo, Pé de Jatoba, Aroeira, Babaçu,  eu vi uma touceira de gabiroba madura, os nossos olhares estavam apreciando uma paisagem selvagem com um cheiro úmido de madeira, quando eu indaguei? E o rio???? O danado respondeu é logo aculá , deixe o cabrito aqui e vamo... saiu na frente e nos atrás.. uns 100 metros a frente uma ribanceira e ao descermos defrontamos com uma praia de areias branca lindíssima, eu falei comigo mesmo, este é o lugar.....olhei para os lados percebendo o rio fazendo a sua curva a direita e ao lado esquerdo uma pedra gigantesca escura em partes verdes de musgo, que represava-o insistentemente durante séculos formando um grande poço, e que o liberava para seguir mansamente naquele deserto e quietude rumo ao seu destino que era o Araguaia, cercado de matas, pedras e areia, coisa de Deus.(continua.....)

Kulayb
Enviado por Kulayb em 04/02/2008
Reeditado em 04/02/2008
Código do texto: T845151
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